terça-feira, 5 de setembro de 2017

Ensaio nuclear norte-coreano:

Ensaio nuclear norte-coreano:   legítimo e necessário


por Ruptures [*]
Com êxito espectacular, a República Democrática e Popular da Coreia (RDPC, Coreia do Norte) acaba efectuar, domingo 3 de Setembro, seu sexto ensaio nuclear. O supra-sumo das elites político-mediáticas mundializadas treme de indignação contra isto, que qualifica de "nova provocação".

Convém recordar logo à partida que, ao contrário de uma afirmação reiterada, este país não viola de modo algum o direito internacional, uma vez que em 2003 se havia retirado do tratado de não proliferação. E não está no poder legal de ninguém, mesmo que seja o Conselho de Segurança, proibir unilateralmente um Estado de escolher o seu armamento, desde que ele não o utilize para a agressão.

Mal colocados 

Por si só, esta quase unanimidade – na qual a União Europeia entende dever participar como acaba de propor Emmanuel Macron – deveria incitar qualquer espírito razoável à prudência crítica diante deste consenso obrigatório. Tanto é assim que aqueles que tremem de cólera e de ameaças estão particularmente mal colocados para condenar o programa atómico de Pyongyang:   as cinco potências membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU são precisamente aquelas que detêm a arma nuclear – e em quantidade evidentemente incomparáveis com a que prepara o governo norte-coreano.

Dentre estes últimos, os três países ocidentais – a França, o Reino Unido e naturalmente os Estados Unidos – são bem conhecidos pelo seu comportamento particularmente pacífico e moderado. Jamais, de modo algum, passou pela cabeça dos seus dirigentes atacar, efectuar acções hostis ou mesmo ameaçar um outro país...

Quanto às outras potências nucleares "oficiosas" – mas que ninguém põe em dúvida, nem em causa, que possuam a bomba atómica – elas são modelos de pacifismo. Assim, ainda há poucos dias, a Índia e o Paquistão estavam a dois passos de afrontamentos armados sobre os territórios disputados da Cachemira. Quanto a Israel, é bem elementar: a simples evocação da força militar – contra os seus vizinhos ou nos territórios ocupados – provocaria um clamor geral, tanto no seio do poder como na população...

Irracional e imprevisível? 

Portanto, é só a nuclearização da Coreia do Norte que representaria uma ameaça para a humanidade... E naturalmente, como nos explicam, é porque seu dirigente Kim Jong-un, como seus antecessores, é irracional e imprevisível.

Pode-se pensar o que se quiser acerca da RDPC (e é vivamente aconselhado pensar o pior possível de um dos últimos países do mundo que não é sequer capaz de criar uma Bolsa ou mercados financeiros), mas se há uma crítica que certamente não se lhe pode fazer: de ser irracional. Desde o fim da Guerra Coreia (1950-1953) este país tem, em política externa, um grande objectivo que não alterou: obter garantias de segurança e, para isto, assinar um Tratado de Paz com, em particular, os Estados Unidos.

Desde há mais de meio século Washington não quer sequer ouvir falar de um Tratado de Paz 

Desde há mais de meio século Washington não quer sequer ouvir falar nisso. Algumas tentativas de degelo entre as duas potências acabaram todas por ser sabotadas pela parte americana. Em Pyongyang chegou-se à conclusão de que a posse da dissuasão nuclear esta o único meio de afastar a ameaça de agressão.

Portanto – será preciso recordar? – nunca passou pela cabeça dos dirigentes norte-coreano atacar, invadir e ocupar nem o Japão nem os Estados Unidos... A história mostra que a recíproca não é verdadeira.

Se o Afeganistão, o Iraque ou Líbia tivessem possuído a arma nuclear, os estrategas ocidentais certamente teriam pensado duas vezes antes de desencadear seus bombardeamentos e suas tropas... 

Será que se sofre de paranóia nos corredores do poder norte-coreano? Ainda há poucos anos, os ingénuos podiam sustentar esta tese. Após a invasão do Afeganistão, o ocupação do Iraque e o ataque contra a Líbia é no entanto forçoso constatar que se estes países tivessem possuído a arma nuclear os estrategas ocidentais teriam certamente pensado duas vezes antes de desencadear seus bombardeamentos e suas tropas... com os resultados que se sabem...

Pode-se certamente desejar um mundo livre das armas e das guerras. O mínimo que se pode dizer é que uma tal perspectiva não está em vésperas de realização. Então, por insatisfatório que seja, o "equilíbrio do terror" permanece um factor dissuasivo contra as agressões externas. Neste sentido, a posse efectiva e operacional pela RDPC de ogivas nucleares e da balística associadas acalmaria evidentemente as veleidades de agressão contra ela. E seria portanto, por paradoxal que possa parecer, um factor de apaziguamento. 
04/Setembro/2017

Ver também: 
  • How ‘Regime Change’ Wars Led to Korea Crisis

    O original encontra-se em ruptures-presse.fr/actu/rpdc-coree-nord-pyongyang-nucleaire/ 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .



  • Anterior Proxima Inicio

    0 comentários:

    Postar um comentário