segunda-feira, 10 de julho de 2017

The Saker / Primeira reunião Putin-Trump: resultados quase nulos

Primeira reunião Putin-Trump: resultados quase nulos


por The Saker
Em primeiro lugar, temos o modo como os americanos prepararam a cimeira G20. Como é bem sabido, em diplomacia as acções contam tanto quanto as palavras, ou mesmo mais. Eis algumas das acções recentemente tomadas pelos americanos na preparação da cimeira do G20 e da primeira reunião de Trump com Putin (sem qualquer ordem específica):

- Os EUA rejeitaram o plano conjunto russo-chinês para neutralizar a crise na Península Coreana , muito embora aquele plano fosse simples, de senso comum, objectivo e, francamente, a única opção para evitar a guerra.
- Os EUA acusaram o governo sírio de preparar um ataque químico e advertiram de um "preço pesado a pagar" .
- Os EUA enviaram um bombardeiro para sobrevoar as ilhas chinesas no Mar do Sul da China .
- Os EUA acusaram a Rússia de desestabilizar a Europa do Leste .
- Os EUA ameaçaram "consequências severas" contra a Coreia do Norte .
- Os EUA declararam que instalariam mísseis Patriot na Polónia para proteger os polacos dos mísseis Iskander russos (Gargalhadas! Boa sorte com isso, amigos polacos).
- Os EUA também prometeram aos polacos o GNL estado-unidenses para "assegurar a independência energética da Polónia em relação à Rússia" (boa sorte também com isso, amigos polacos)
- Os EUA enviaram um F-16 polaco para interceptar o avião civil (e há muito anunciado) que transportava o ministro da Defesa russo no espaço aéreo internacional sobre o Mar Báltico .
- Os EUA enviaram um destroyer com mísseis guiados para perto da Ilha Triton no Mar do Sul da China .
- Os EUA retiraram-se do acordo climático de Paris .
- Os EUA criticaram práticas alemãs de comércio .
- Os EUA criticaram a China pelo seu comércio com a RDPC .
- Os EUA acusaram a China de "violação comercial" .

Percorrendo esta lista, pode-se admirar o senso americano de oportunidade e diplomacia...

Mas falando agora seriamente,

Não importa realmente se estas acções são apenas o resultado do orgulho e das ilusões imperiais, de uma completa falta de educação diplomática, das consequências de simples e directa estupidez humana ou se tudo faz parte de algum plano diabólico para por os EUA numa rota de colisão com todo o planeta. O que importa é a alucinante arrogância de tudo isto, como se os EUA fossem um cavaleiro branco numa armadura brilhante digna de louvação e adulação e o resto do planeta fosse composto ou por rapazolas brutos que têm de prestar atenção às palavras do seu director e começar a comportarem-se melhor ou receberem uma boa sova do Tio Sam.

Se é isto que Trump espera para fazer a "América grande outra vez" ele bem pode considerar outras opções como aquela espécie de atitudes que fazem a "América" (ele quer dizer os EUA, claro) não parecer "grande" mas sim arrogante, fora de sintonia e supremamente irritante. Vamos conversar acerca do mundo, todos ao mesmo tempo parece ser o grande plano desta administração.

O resultado de todos estes esforços "diplomáticos" era previsível: nada.

Bem, quase nada. Aqui está o que "nada" aparenta em linguagem diplomática:

Segundo Lavrov, o ministro dos Estrangeiros , o presidente Trump e Putin foram "motivados pelos seus interesses nacionais" (quem diria?!) e acordaram um certo número de medidas concretas:

1. Uma aceleração do procedimento para nomear novos embaixadores – RU-EUA e EUA-RU
2. Discutiram as instalações diplomáticas russas confiscadas por Obama
3. Criaram um grupo de trabalho para discutir um certo número de questões incluindo terrorismo, crime organizado, hacking e cibersegurança
4. Discutiram a Síria e a Ucrânia e conversaram durante 2 horas e 15 minutos.

Segundo a RT , a Rússia e os EUA concordaram num cessar-fogo nas províncias sírias de Daraa, Quneitra e As-Suwayda. Isto é muito bom, naturalmente, mas é num canto da Síria (sudoeste) onde se verifica muito pouca acção (neste exacto momento tudo o que é importante acontece entre Raqqa e Deir Az-Sor). Oh, e há zonas de desescalagem já em funcionamento no sudoeste.
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A menos que Trump e Putin estejam a manter em segredo algo realmente importante, parece que esta cimeira produziu exactamente o que se temia : nada ou algo muito próximo de nada. Se descobrirmos depois que apesar de tudo os dois lados discutiram algo de importância e acordaram acerca de algo importante, actualizaremos aqui a informação. Ninguém ficará mais feliz do que eu se isto acontecer.

Mas, infelizmente, parece que os muitos meses de campanha constante dos Neocom para assegurar que a Rússia e os EUA nunca colaborariam seriamente tiveram muito êxito.

Então, onde é que tudo isto deixa os milhões de pessoas que tiveram pelo menos "alguma" esperança de que Trump fosse alguém de fora que pudesse tentar fazer com que algumas mudanças reais acontecessem e talvez libertasse os Estados Unidos do regime Neocom que está no poder desde pelo menos Bill Clinton (se não antes)?

Em 14 de Fevereiro deste ano, a seguir ao golpe anti-Flynn e à traição de Trump ao seu amigo, escrevi que "está acabado" e "Trump traiu todos nós". Recebi um bocado de ataques por escrever isto, especialmente porque estive fortemente do lado de Trump contra Hillary durante a campanha. Tristemente, acredito que minhas conclusões de Fevereiro agora demonstraram-se correctas.

Entendo que alguns ainda queiram apresentar esta reunião como, se não um êxito, pelo menos como um "bom arranque" ou um "semi-êxito". Em primeiro lugar, ser o portador de más novas nunca tornou alguém popular. Em segundo, aqueles que apoiam Trump ou Putin (ou ambos) desejarão mostrar que o líder que apoiam conseguiu algo. Finalmente, se ambos os lados informarem que a reunião foi um êxito, quem somos nós para desmentir?

Não sei e ninguém sabe, mas sempre falarei das coisas tais como as vejo. E o que vejo é simplesmente nada ou algo muito próxima de nada. Lamento, desejaria poder dizer algo diferente.

Quanto à partilha da culpa por este não evento, atribuo 100% da culpa ao lado estado-unidense o qual fez tudo errado com uma determinação quase maníaca e que agora descobrirá que se encontra na posição pouco invejável de combater quase todo o planeta por si só. Ah, desculpem, esquecia. A Polónia apoia incondicionalmente os EUA e Trump!

Ainda bem para eles – merecem-se um ao outro. 
07/Julho/2017

O original encontra-se em thesaker.is/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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