segunda-feira, 31 de março de 2014

Venezuela:(J.Petras) Derrotar o fascismo antes que seja demasiado tarde


por James Petras


Exéquias do Capitão Guillen Araque.O capitão Jose Guillen Araque, da Guarda Nacional Venezuelana, deu recentemente ao Presidente Maduro um livro sobre a ascensão do nazismo, alertando para que "o fascismo tem que ser derrotado antes que seja tarde demais"! Como retaliação ao seu aviso profético, o jovem capitão patriótico foi morto a tiro por um assassino, a soldo dos EUA, nas ruas de Marcay no estado de Aragua no dia 16 de Março de 2014. Isto elevou para 29 o número dos soldados e polícias venezuelanos mortos desde o levantamento fascista. A morte de um oficial destacado e patriótico numa rua principal duma capital provincial é mais uma indicação de que os fascistas venezuelanos estão activos, confiantes do seu apoio por Washington e por uma ampla faixa das classes alta e média venezuelanas. Constituem uma minoria do eleitorado e não têm ilusões quanto a conseguirem conquistar o poder por meios constitucionais e democráticos.

O capitão Guillen Araque avançou para lembrar ao Presidente Maduro que, em toda a história contemporânea, o caminho para o poder dos grupos nazis e fascistas totalitários foi atapetado com os cadáveres de democratas e social-democratas bem-intencionados que não utilizaram os seus poderes constitucionais para esmagar os inimigos da democracia
A história da ascensão do fascismo nas democracias 

O termo "fascista" na Venezuela aplica-se com toda a propriedade aos violentos grupos políticos organizados que estão actualmente envolvidos em terrorismo de massas numa campanha para desestabilizar e derrubar o governo bolivariano democraticamente eleito. Os puristas académicos bem podem argumentar que os fascistas venezuelanos não têm a ideologia racista e nacionalista dos seus antecessores alemães, italianos, espanhóis e portugueses. Embora isso seja verdade, também é irrelevante. A marca venezuelana do fascismo está profundamente dependente do imperialismo dos EUA e seus aliados colombianos, e age como seu lacaio. Num certo sentido, porém, o racismo do fascismo venezuelano é dirigido contra as classes trabalhadoras e camponesas dos venezuelanos afro-ameríndios multirraciais – conforme demonstrado pelo seu racismo pernicioso contra o falecido Presidente Hugo Chavez. A ligação essencial com movimentos fascistas antigos encontra-se (1) na sua profunda hostilidade de classe para com a maioria popular; (2) no seu ódio visceral para com o Partido Socialista Chavista, que ganhou 18 das últimas 19 eleições; (3) no recurso à tomada armada do poder por uma minoria que age por conta das classes dominantes imperialistas, internas e americanas; (4) na sua intenção de destruir as próprias instituições e procedimentos democráticos que explora a fim de ganhar espaço político; (5) no seu direccionamento para as instituições da classe trabalhadora – conselhos comunais, associações de vizinhos, clínicas de saúde pública e dentais, escolas públicas, transportes, armazéns de produtos alimentares subsidiados, locais de reuniões políticas, associações de crédito público, organizações sindicais e cooperativas camponesas; (6) e no seu apoio aos bancos capitalistas, enormes latifúndios comerciais e empresas produtoras.

Na Alemanha, Itália, Espanha, França e Chile, os movimentos fascistas também começaram como pequenos grupos terroristas, que conquistaram o apoio financeiro da elite capitalista por causa da sua violência contra organizações da classe trabalhadora e instituições democráticas e faziam o seu recrutamento principalmente entre estudantes universitários da classe média, profissionais livres de elite (em especial médicos) e oficiais de altas patentes, no activo ou reformados – unidos na sua hostilidade contra a ordem democrática.

Tragicamente e também demasiadas vezes, os líderes democráticos, que funcionavam num governo constitucional, tiveram a tendência de considerar os fascistas apenas como "mais um partido", recusando-se ou não se mostrando dispostos a esmagar os assassinos armados, que aliavam o terrorismo nas ruas às eleições para conquistar o poder do estado. Os democratas constitucionalistas não viram ou não quiseram ver o braço político e civil dos nazis como fazendo parte de um inimigo totalitário orgânico; por isso, negociaram e discutiram infindavelmente com fascistas de elite que, entretanto, destruíram a economia enquanto os terroristas desfaziam os fundamentos políticos e sociais do estado democrático. Os democratas recusaram-se a enviar os seus muitos milhões de apoiantes de massa para fazer frente às hordas fascistas. Pior ainda, até se orgulharam de prender os seus apoiantes, polícias e soldados, que eram acusados de usar de 'força excessiva' na sua confrontação com os arruaceiros assassinos fascistas. Assim, os fascistas passaram com facilidade das ruas para o poder do estado. Os democratas eleitos preocuparam-se tanto com a crítica dos meios de comunicação internacionais e capitalistas, com a crítica da elite e com as organizações que se intitulavam dos 'direitos humanos', que facilitaram a conquista aos fascistas. O direito do povo à defesa armada da sua democracia foi subordinado ao pretexto de defender as 'normas democráticas' – normas que qualquer estado burguês sob ataque teria rejeitado! Os democratas constitucionais não reconheceram como a política tinha mudado drasticamente. Já não estavam a dialogar com uma oposição parlamentar para preparação das eleições seguintes; foram confrontados com terroristas armados e sabotadores empenhados numa luta armada e na conquista do poder político por qualquer meio – incluindo golpes de estado violentos.

No léxico do fascismo, a conciliação democrática é uma fraqueza, uma vulnerabilidade e um convite aberto à escalada da violência; os slogans de 'paz e amor' e de 'direitos humanos' servem para ser explorados; os pedidos de 'negociações' são preâmbulos para a rendição; e os 'acordos' prelúdios para a capitulação.

Para os terroristas, os políticos democráticos que alertam para uma 'ameaça do fascismo' enquanto agem como se estivessem metidos em 'escaramuças parlamentares', tornam-se um alvo aberto para ataques violentos.

Foi assim que os fascistas chegaram ao poder na Alemanha, em Itália e no Chile, enquanto os democratas, constitucionalistas até ao fim, se recusaram a armar os milhões de trabalhadores organizados que podiam ter sufocado os fascistas e salvo a democracia e preservado as suas vidas.

O fascismo na Venezuela: Uma ameaça mortal hoje 

O alerta do herói mártir, o capitão Guillen Araque, sobre um iminente perigo fascista na Venezuela tem uma poderosa base substantiva. Enquanto a violência terrorista aberta vai e vem, a base estrutural subjacente do fascismo na economia e na sociedade mantém-se intacta. As organizações clandestinas, o financiamento e a organização do fluxo de armamento para os fascistas expectantes mantêm-se em funcionamento.

Os líderes políticos da oposição estão a jogar um jogo enganador, passando constantemente de formas legais de protesto para uma cumplicidade secreta com os terroristas armados. Não há qualquer dúvida de que em qualquer putsch fascista, os oligarcas políticos surgirão como os verdadeiros dirigentes – e partilharão o poder com os líderes das organizações fascistas. No entanto, a sua 'respeitabilidade' fornece cobertura política, as suas campanhas de 'direitos humanos' para libertar arruaceiros assassinos e incendiários encarcerados conquistam o 'apoio dos meios de comunicação internacionais, enquanto servem de 'intermediários' entre as organizações americanas de financiamento e o subterrâneo terrorista clandestino.

Quando se mede o âmbito e a profundidade do perigo fascista, é um erro contar apenas o número dos bombistas, incendiários e atiradores, sem incluir os grupos de apoio logístico, de reserva e periféricos e os apoiantes institucionais que alimentam os agentes no terreno.

Para 'derrotar o fascismo antes que seja tarde demais', o governo tem que avaliar realisticamente os recursos, a organização e o código operacional do comando fascista e rejeitar os anúncios abertamente tranquilizadores e 'optimistas' de alguns ministros, conselheiros e legisladores.

Primeiro, os fascistas não são apenas um pequeno bando que se limita a bater em panelas e a atacar trabalhadores municipais nos subúrbios da classe média-alta de Caracas em benefício dos meios de comunicação internacionais e corporativos. Os fascistas estão organizados numa base nacional; os seus membros estão activos por todo o país.

Visam instituições e infra-estruturas vitais em inúmeros locais estratégicos.

A sua estratégia é controlada centralmente, as suas operações são descentralizadas.

Os fascistas são uma força organizada; o seu financiamento, armamento e acções são planeados. As suas manifestações não são 'espontâneas', são acções organizadas localmente, que reagem à 'repressão' governamental tal como descrevem os meios de comunicação burgueses e imperialistas.

Os fascistas reúnem diversas correntes de grupos violentos, que frequentemente aliam profissionais livres de direita, motivados ideologicamente, grupos de contrabandistas de grande escala, e traficantes de drogas (em especial nas regiões fronteiriças), grupos paramilitares, mercenários e criminosos conhecidos. Estes são os 'fascistas da linha da frente', financiados pelos grandes especuladores de divisas, protegidos por funcionários locais eleitos, a quem os investidores imobiliários e os burocratas universitários de alto nível oferecem 'santuário'.

Os fascistas tanto são 'nacionais' como internacionais: Incluem assassinos pagos localmente e estudantes de famílias da classe alta; soldados paramilitares colombianos, mercenários profissionais de todos os tipos, 'assassinos a soldo' de organizações de 'segurança' e operacionais clandestinos das Forças Especiais dos EUA; e 'internacionalistas' fascistas recrutados em Miami, na América central, na América Latina e na Europa.

Os terroristas organizados têm dois santuários estratégicos para desencadear as suas operações violentas – Bogotá e Miami, onde líderes destacados, como o ex-Presidente Alvaro Uribe e líderes do Congresso dos EUA fornecem apoio político.

A convergência da actividade económica criminosa, altamente lucrativa, e do terrorismo político apresenta uma formidável ameaça dupla à estabilidade da economia venezuelana e à segurança do estado… Criminosos e terroristas encontram uma casa comum na tenda política dos EUA, destinada a derrubar o governo democrático da Venezuela e a esmagar a revolução bolivariana do povo venezuelano.

As interligações, a montante e a jusante, entre criminosos e terroristas dentro e fora do país, entre os políticos seniores de Washington, passadores de droga nas ruas e contrabandistas, alimentam os porta-vozes da elite internacional e proporcionam o músculo para os arruaceiros e os atiradores.

Os alvos terroristas não são escolhidos ao acaso; não são produto de cidadãos enfurecidos contra as desigualdades sociais e económicas. Os alvos do terrorismo, cuidadosamente seleccionados, são os programas estratégicos que sustentam a administração democrática; são sobretudo as instituições sociais de massas que formam a base do governo. Isso explica porque é que os terroristas lançam bombas nas clínicas de saúde dos pobres, nas escolas públicas e nos centros de ensino para adultos nos barrios, nos armazéns de alimentos subsidiados pelo estado e no sistema de transportes públicos. Fazem parte do vasto sistema de segurança social popular instituído pelo governo bolivariano. São os blocos fundamentais de construção que garantiram o apoio maciço de votantes em 18 das 19 eleições e o poder popular nas ruas e nas comunidades. Destruindo a infra-estrutura de bem-estar social, os terroristas esperam quebrar os elos sociais entre o povo e o governo.

Os terroristas visam o legítimo sistema de segurança nacional: nomeadamente, a polícia, a Guarda Nacional, os juízes, os promotores públicos e outras autoridades encarregadas da salvaguarda dos cidadãos. Os assassínios, os ataques violentos e as ameaças contra funcionários públicos, as bombas incendiárias em edifícios públicos e transportes públicos destinam-se a criar um clima de medo e demonstrar que o estado é fraco e incapaz de proteger a vida quotidiana dos seus cidadãos. Os terroristas querem projectar uma imagem de 'poder dual' apoderando-se de espaços públicos e bloqueando o comércio normal… e 'governando as ruas à ponta da espingarda'. Acima de tudo, os terroristas querem desmobilizar e constranger as contra-manifestações populares bloqueando as ruas e disparando contra activistas empenhados na actividade política em subúrbios disputados. Os terroristas sabem que podem contar com os seus aliados da oposição política 'legal' para lhes fornecerem uma base de massas através de manifestações públicas, que servem de escudo para ataques violentos e um pretexto para uma sabotagem maior.

Conclusão 

O fascismo, nomeadamente o terrorismo armado dirigido para derrubar pela violência um governo democrático, é uma ameaça real e imediata na Venezuela. Os altos e baixos da luta diária na rua e os fogos-postos não são uma medida adequada desta ameaça. Como assinalámos, os apoios chave, estruturais e organizativos, subjacentes à ascensão e crescimento do fascismo são muito mais importantes. O desafio na Venezuela é cortar a base económica e política do fascismo. Infelizmente, até há pouco tempo o governo tem sido extremamente sensível à crítica hostil das elites além-mar e internas que se apressam a defender os fascistas – em nome da 'liberdade democrática'. O governo da Venezuela tem recursos enormes à sua disposição para erradicar a ameaça fascista. Mesmo que uma acção firme desencadeie o protesto dos amigos liberais além-mar, a maior parte dos defensores pró-democracia acredita que cabe ao governo agir contra esses funcionários da oposição que continuam a incitar a rebelião armada.

Mais recentemente, tem havido nítidos sinais de que o governo venezuelano, com o seu poderoso mandato democrático e constitucional, tem-se movimentado com consciência do perigo fascista e agirá com determinação para o afastar das ruas e nas suites.

A Assembleia Nacional aprovou a suspensão da imunidade de deputada na Assembleia Nacional, a congressista Corina Machado, para que ela possa ser acusada de incitação à violência. O Presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello apresentou provas documentais pormenorizadas do papel dela na organização e promoção de rebelião armada. Vários presidentes de municipalidades da oposição, activamente envolvidos na promoção e protecção de atiradores furtivos, arruaceiros e incendiários foram acusados e detidos.

A maioria dos venezuelanos confrontados com a maré crescente da violência fascista, apoia a punição destes altos funcionários envolvidos na sabotagem ou que a apoiam. Sem uma acção firme, as organizações de informações venezuelanas e o cidadão médio estão de acordo em que esses políticos da 'oposição' vão continuar a promover a violência e a proporcionar um santuário aos assassinos paramilitares.

O governo já percebeu que está envolvido numa verdadeira guerra, planeada por uma liderança centralizada e executada por operacionais descentralizados. Os líderes legislativos estão a ser confrontados com a psicologia política do fascismo, que interpreta as propostas de conciliação política e de brandura judicial do Presidente como uma fraqueza a ser explorada através de mais violência.

O avanço mais significativo para deter a ameaça fascista reside no reconhecimento pelo governo dos elos entre a elite parlamentar e empresarial e os terroristas fascistas: especuladores financeiros, traficantes e grandes açambarcadores de alimentos e de outros bens essenciais, todos eles fazem parte do mesmo ímpeto fascista para o poder, juntamente com os terroristas que lançam bombas em mercados públicos de alimentos e atacam os camiões que transportam alimentos para os subúrbios pobres. Um trabalhador revolucionário disse-me depois duma escaramuça de rua: "Por la razon y la fuerza no pasaran!" (Pela razão e pela força, serão derrotados)… 
23/Março/2014
Ver também: 

  • La fase terrorista de la ultraderecha: envenenar el agua 
  • Comunicado del Alto Mando Militar de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana 


  • Manual USA para derrocar gobiernos

    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/defeating-fascism-before-its-too-late/5374832 . Tradução de Margarida Ferreira. 


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • Imperialismo e fascismo*


    Filipe Diniz
    31.Mar.14 :: Colaboradores
    Não falta na opinião liberal burguesa quem agora ache a ascensão da extrema-direita “uma anomalia”. O fascismo não age autonomamente na luta de classes. É, pelo contrário, a expressão e a condução pelos meios mais violentos da política e dos objectivos da classe dominante.


    Um dos aspectos marcantes da actual ofensiva do imperialismo é a aliança aberta com fascistas.
    No desmantelamento da Jugoslávia o imperialismo juntou aos fascistas ustaches croatas, entre outros, todo o género de marginais directamente oriundos do mundo do crime e, em consequência disso, o poder tanto ficou entregue a fascistas como a grupos estritamente mafiosos.
    Agora a situação não é bem a mesma. Aprofundou-se a crise geral do capitalismo, cujas consequências e cujo prolongado arrastamento criam condições favoráveis à aposta na carta fascista. A segunda vaga de “revoluções coloridas” tem uma nova componente: a da instrumentalização do agudo mal-estar social resultante da acção dos governantes instalados pela primeira vaga. Aí, grande capital transnacional ganha em dois tabuleiros: instalou oligarquias corruptas que privatizam tudo, que roubam, que abrem as portas à ingerência económica, diplomática e militar. E instrumentaliza e cavalga com a milícia fascista a justa cólera popular que tal situação gera.
    O fascismo não age autonomamente na luta de classes. É, pelo contrário, a expressão e a condução pelos meios mais violentos da política e dos objectivos da classe dominante. Na Alemanha de 1923 os grandes magnates definiram em memorando as suas reivindicações imediatas: prolongamento da jornada de trabalho (anulando as 8 horas conquistadas); abolição de numerosas regalias sociais; fim do subsídio do pão; reprivatização dos caminhos-de-ferro, entre outras. A social-democracia capitulou em toda a linha. Mas foi o partido nazi quem fez seu o programa do grande capital.
    Nos dias de hoje, em condições muito diferentes é certo, não é difícil identificar na ofensiva “austeritária” em curso traços desse memorando de 1923. O programa das troikas segue na mesma linha. E, numa UE onde o número de pessoas em risco de pobreza e de exclusão aumentou mais de 6 milhões só entre 2010 e 2012 (Eurostat) totalizando perto de 125 milhões, o grande capital faz o mesmo duplo trabalho: esmaga e desespera uma massa imensa e cria as condições para a esmagar ainda mais sob a violência fascista.
    Acontece que no Portugal de Abril o fascismo não tem condições para levantar a cabeça. E o Portugal de Abril não é uma ilha isolada na luta dos povos.
    *Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2014, 27.03.2014

    Grandes de África em lutas eleitorais*

    Grandes de África em lutas eleitorais*


    30.Mar.14 :: Colaboradores

    Carlos Lopes PereiraNa Argélia e na África do Sul, grandes potências africanas, há eleições nas próximas semanas. Tanto num caso como noutro as urnas não deverão impor mudanças políticas significativas.


    Na Argélia e na África do Sul, grandes potências africanas, há eleições nas próximas semanas. Tanto num caso como noutro as urnas não deverão impor mudanças políticas significativas.
    Com um enorme território, parte no deserto do Saara, uma população de 35 milhões de habitantes e a economia dependente da exploração de petróleo e gás natural, a Argélia – hoje distante do projecto socialista defendido nos primeiros anos da independência – está em campanha eleitoral.
    A 17 de Abril os argelinos vão às urnas, sendo favorito o actual chefe de Estado, Abdelaziz Bouteflika, de 77 anos, no cargo desde 1999. Candidata-se pela histórica Frente de Libertação Nacional (FLN), com o apoio de diversos partidos. Veterano da guerra de libertação nacional, ministro nos governos de Ben Bella e Houari Boumediene, o presidente bate-se por um quarto mandato de cinco anos, contando com o apoio dos militares, os verdadeiros sustentáculos do regime.
    Bouteflika é acusado pelos seus adversários de estar gravemente doente e de não ter condições de saúde para continuar à frente do país. Há um ano sofreu um acidente vascular cerebral e esteve hospitalizado três meses em Paris. Desde então fez apenas uma breve aparição pública, recentemente, na apresentação da candidatura.
    Através do seu director de campanha, Abdelmalek Sellal, até há pouco primeiro-ministro, Bouteflika prometeu que após as eleições a Constituição do país será revista: «A Argélia terá uma democracia ampla, uma democracia participativa» e «todos os cidadãos participarão no desenvolvimento do país», assegurou. Num comício em Tamanrasset, 2000 quilómetros a Sul de Argel, Sellal garantiu a uma população preocupada com o radicalismo islâmico no vizinho Mali ocupado por tropas francesas: «Estejam tranquilos, a Argélia está em segurança, temos um exército forte».
    Na corrida eleitoral estão igualmente Alis Benflis, de 69 anos, independente, ex-secretário-geral da FLN e antigo homem de confiança de Bouteflika; Louisa Hanune, do Partido dos Trabalhadores; Moussa Touati, da Frente Nacional Argelina; Ali Fawzi Rebaine, do Ahd, partido de direita; e Abdelaziz Belaid, dissidente da FLN e agora chefe da Frente El Moustakbel.
    Cinco partidos da oposição, liderados por um outro antigo primeiro-ministro, Ahmed Benbitour, juntaram-se numa plataforma nacional e apelam ao boicote das presidenciais.
    O ex-presidente Liamine Zeroual, de 72 anos, que deixou o cargo em 1999 e se retirou da vida política, publicou em jornais argelinos uma carta em que critica um eventual quarto mandato do seu sucessor e reclama a «alternância do poder».
    ANC favorito nas eleições de Maio
    A África do Sul, a primeira economia do continente, está em vésperas de eleições gerais, as quintas desde o fim do apartheid, há duas décadas. Tal como na Argélia, é improvável que das urnas surjam profundas alterações na pátria de Mandela.
    O ANC, no governo desde 1994 – formando uma aliança progressista com o Partido Comunista Sul-africano e a central sindical Cosatu –, poderia alcançar nas eleições de 7 de Maio uma maioria roçando os dois terços, segundo uma sondagem que contraria as previsões da maioria dos analistas.
    De acordo com um estudo da Ipsos, publicado pelo «Sunday Times», o ANC liderado pelo presidente Jacob Zuma obteria 66,1% dos votos, ultrapassando os 65,9% conquistados em 2009. Ficaria muito perto dos dois terços de deputados no parlamento, o que lhe permitiria alterar a Constituição.
    A Aliança Democrática (DA), o principal partido da oposição, teria 22,9% dos votos, uma boa progressão em relação aos 16,6% de há cinco anos mas aquém dos 30% esperados pelo «partido dos brancos», como é chamado depreciativamente pelo ANC. A população do «país do arco-íris» é constituída por 80% de negros, 9% de brancos, 9% de mestiços e 2% de indianos.
    Os «Combatentes pela Liberdade Económica» (EFF), de Julius Malema, seriam a terceira força, com escassos 3,7% dos votos apesar de todo o seu populismo e racismo.
    Entre os pequenos partidos, o Cope, uma dissidência do ANC que em 2009 obteve 7,4%, ficaria reduzido a 0,7%. O Agang SA, da empresária Mamphela Ramphele, consegue apenas 0,4% das intenções de votos.
    A sondagem da Ipsos – publicada antes da divulgação de um relatório acusando o presidente Zuma de utilização indevida de dinheiros públicos em obras na sua residência particular – mostra que o ANC venceria sem problemas na província de Gauteng (onde se situam as cidades de Joanesburgo e Pretória) e a DA conservaria o Cabo Ocidental.
    *Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2014, 27.03.2014

    domingo, 30 de março de 2014

    China congela US$14,5 bi...moralizando o capitalismo?

    China congela US$14,5 bi de associados a ex-chefe da segurança, dizem fontes

    domingo, 30 de março de 2014 10:04 BRT
     
    PEQUIM, 30 Mar (Reuters) - Autoridades chinesas congelaram bens no valor de pelo menos 90 bilhões de iuanes (14,5 bilhões de dólares) de parentes e pessoas associadas ao chefe aposentado do serviço de segurança interna Zhou Yongkang, envolvido no maior escândalo de corrupção das últimas seis décadas na China, afirmaram duas fontes.
    Nos últimos quatro meses, mais de 300 parentes, aliados políticos, protegidos e funcionários de Zhou foram colocados sob custódia ou interrogados, disseram à Reuters as fontes, que têm acesso à investigação.
    O volume de bens congelados e o número de pessoas investigadas, que não haviam sido divulgados até agora, faz dessa operação uma investigação sem precedentes na China moderna e mostraria que o presidente Xi Jinping está combatendo a corrupção nos níveis mais altos.
    No entanto, a investigação também pode estar sendo em parte motivada pelo fato de Zhou ter irritado líderes como Xi ao se opor à queda do antes importante político Bo Xilai, que foi condenado à prisão perpétua em setembro por corrupção e abuso de poder.
    Zhou, de 71 anos, está na prática em prisão domiciliar desde que as autoridades começaram a investigá-lo no fim do ano passado. Ele é o mais importante político chinês a ser envolvido numa investigação de corrupção desde que o Partido Comunista assumiu o poder em 1949.
    "É a mais grave na história da nova China", disse uma das fontes, que têm laços com a liderança do país e pediu anonimato para evitar as repercussões que podem haver quando se dá entrevista à mídia estrangeira sobre a elite política.
    O governo ainda não fez uma declaração oficial sobre o caso, e não foi possível entrar em contato com Zhou, familiares, associados ou funcionários. Não está claro se algum deles tem advogado.
    O órgão anticorrupção do governo e a promotoria não respondem a pedidos de entrevista. Na China, alvos de investigações costumam desaparecer por meses ou anos até que um anúncio oficial seja feito.

    ELN: Destituição do prefeito de Bogotá ameaça processo de paz

    sábado, 29 de março de 2014




    O Exército de Libertação Nacional (ELN) afirmou nesta sexta-feira (28) que a destituição do prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, pelo presidente Juan Manuel Santos, põe em perigo o processo de paz na Colômbia.

    Petro foi deposto de seu cargo por Santos, que desconsiderou as medidas cautelares outorgadas ao prefeito bogotano pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

    A ação do presidente também põe em perigo a possibilidade de um diálogo com a guerrilha do ELN, assinala um comunicado datado de 20 de março nas montanhas da Colômbia, divulgado nesta sexta-feira (28) em Bogotá.

    “A destituição de Petro confirma a postura retrógrada da oligarquia colombiana e sua solidariedade de classe”, diz o texto.

    O ELN sublinha em seu comunicado que essa medida à extrema direita do presidente demonstra a intolerância para aceitar, nas instituições, posturas críticas e a serviço dos excluídos alcançadas pelas vias constitucionais.

    Para o ELN, “se esse é o destino de um prefeito eleito pelo voto popular, o que pode se esperar sobre o respeito e cumprimento dos eventuais acordos subscritos em uma mesa de diálogo com a insurgência”, afirmaram em alusão às conversas entre o Governo e as Farc-EP instaladas em Havana, Cuba.

    A Colômbia está desconhecendo "de maneira flagrante a juridicidade internacional", sublinha, “à qual deve ser submetido um governo que em janeiro passado afirmou acatar e respeitar uma decisão em favor do prefeito de Bogotá", caso se confirmasse.

    Na opinião da guerrilha, essas "viradas do presidente [Santos] demonstram falta de seriedade ao seu mandato e põem à prova sua disposição e capacidade para cumprir acordos, tanto no âmbito internacional, como interno".

    “Como candidato à reeleição transmite uma mensagem negativa aos possíveis eleitores, e é possível também prever um altíssimo índice de abstenções e voto em branco nas eleições presidenciais em maio”, argumentam.

    Com atitudes como essas, considera o ELN, “a oligarquia colombiana evidencia sua falta de respeito à vontade popular expressada nas urnas e invalida as eleições como um exercício democrático”.

    Tem razão Petro quando afirma que nestes momentos "o voto não vale" e é necessário mudar as instituições, alegam os guerrilheiros.
    --
    Fonte: Prensa Latina

    Independência da Escócia e........

    Desmantelar o Estado britânico. Pela independência da Escócia.


    29.Mar.14 :: Outros autores
    A propósito das questões que a perspectiva da independência da Escócia levantaria, uma entrevista polémica. Tariq Ali reflecte a partir de uma grelha de análise que odiario.info não compartilha em muitos aspectos. Isso não impede que os seus pontos de vista representem uma interessante crítica das forças em presença.


    JF: Os políticos trabalhistas escoceses afirmam-se internacionalistas, e a miúdo acusam os partidários da independência de provincianismo e de nacionalismo mesquinho. Como internacionalista que vive em Londres, porque apoia a independência?
    TA: Porque não aceito quando os New Labour ou coalizões semelhantes proclamem que são eles os internacionalistas. Essencialmente o seu internacionalismo significa subordinar totalmente o Estado britânico aos interesses dos Estados Unidos. Esses fizeram da Inglaterra um estado vassalo no Iraque, no Afeganistão, e em muitas outras coisas. Não é sequer um grande segredo.
    Assim desafio qualquer ideia que afirme que os governos do Estado britânico foram internacionalistas. Já há muito tempo que o não são. Temos de tirar isso da cabeça.
    Em segundo lugar: uma Escócia independente, um Estado pequeno, alberga muito mais possibilidades de um internacionalismo real e genuíno. Isso significa estabelecer vínculos directos com muitos países e povos. Os noruegueses, por exemplo, tanto nos seus meios de comunicação como na sua cultura estão ligados a países de todo o mundo. Estive na Noruega na semana passada, numa convenção do Médio Oriente, presidida por uma diplomata norueguesa. Ela afirmou que acabava de passar dois anos na cidade palestiniana de Ramallah, e sabia tudo sobre o assunto. Portanto, o facto de ser pequeno não significa que vamos tornar-nos provincianos. Pelo contrário, pode supor-se o contrário.
    JF: Muitos políticos laboristas também chamaram ao Partido Nacionalista Escocês populista neoliberal, anti classe trabalhadora e outros. Como vê o nacionalismo escocês?
    TA: O partido nacionalista escocês transformou-se. Quando surgiu era um partido conservador com «c» maiúsculo e um pouco arcaico. Mas isso mudou com o grupo dos 79. Embora muitos dos seus membros fossem expulsos de início, incluindo Alex Salmond, estão agora no governo. Além disso, o Partido Nacionalista Escocês tem recrutado muita gente, incluindo partidários trabalhistas e os primeiros membros de grupos de extrema-esquerda. Pessoalmente não estou de acordo com o seu programa social e económico, creio que é demasiado débil. Noutros aspectos, também tenho certos receios.
    Mas, creio que definitivamente apoiaria o voto ao «sim», apenas pela razão de que o povo da Escócia tem o direito democrático à autodeterminação do seu próprio futuro. Esta é a primeira vez que de facto lhe pedem para votar sobre este problema. A União que se desenvolveu através do oportunismo, da corrupção e do suborno em 1707 não foi resultado de um voto democrático, como todos sabemos. É essa a razão por que tiveram de lutar na batalha de Culloden. Esse foi um episódio decisivo da história escocesa, porque essa derrota em Culloden criou a União tal como a conhecemos, algo totalmente controlado pela Inglaterra.
    O Partido Nacionalista Escocês tenta gora romper com essa tradição, assim, de modo efectivo pede aos escoceses que declarem a independência que já tiveram. E creio que seria muito melhor para a Escócia e até para a Inglaterra. Na minha opinião o Novo Labour está totalmente corrupto, em todas as suas frentes social, politica e económica. O New Labour é o novo Tartan Tories.
    Isso não quer dizer que não deva discutir-se com o Partido Nacionalista Escocês, que não deva debater-se e estou convencido de que as pessoas das suas fileiras o farão. E a aliança pela Independência Radical desempenha um papel importante em tudo isso. Fui convidado a participar numa reunião a favor do «Sim» organizada pelo Partido Nacionalista Escocês em Kircaldy em Junho, o que farei.
    Estou totalmente a favor da independência da Escócia e sempre estive, apesar dos desencontros com o Partido Nacionalista Escocês. A ideia de que se não possa estar em desacordo com o Partido Nacionalista Escocês e apoiar a independência é absurda.
    JP: Poderíamos falar um pouco sobre as possíveis implicações globais de uma ruptura com a Inglaterra?
    TA: Creio que, em concreto, seria muito positivo para a Inglaterra, a qual foi sempre o factor dominante da União. Abrirá um novo espaço político. Pode ser que no início não beneficie os congressistas, mas pelo menos permitirá discutir sobre política sem a carga do passado. Principalmente: será bom para a democracia inglesa, já que se encontra num estado bastante triste.
    Segundo é que ajudará os unionistas mais fanáticos de Inglaterra a compreender que o jogo terminou, e que têm de alguma maneira de abandonar as pretensões imperialistas. Essas pretensões persistem apesar de serem um absurdo no sistema, e só funcionam por cortesia dos Estados Unidos. E quem sabe? Talvez abra de novo um espaço para a independência britânica. Ou seja uma independência britânica real, o que não acontece desde 1956.
    Veremos o que se passa mas duvido muito que os efeitos sejam negativos. Também acho que uma Escócia independente, que desempenhe um papel independente na política mundial e na Europa terá o seu impacto na Inglaterra.
    Outra coisa que vale a pena dizer é que isto só pode fazer-se com o consentimento dos escoceses. Nada pode forçá-lo. Portanto não pode haver qualquer discussão sobre coacções. A campanha do medo e de intimidação que Londres está a brandir e que é absolutamente patética, e espero que os escoceses lutem contra ela.
    Lembro-me quando Tony Blair veio na sua última visita à Escócia e declarou: «se votarem pela independência todas as famílias perderão 5000 libras por ano». Quem inventou esse número? Algum burocrata em Whitehall que queria algo para assustar os escoceses. E ainda há poucos dias Danny Alexander repetiu esses mesmos números absurdos. Fazem isso para assustar as pessoas, afirmando que os seus níveis de vida irão baixar. Mas não há razão para baixarem se a economia funcionar de forma adequada.
    JF: Acha que as elites britânicas estão preocupadas com a perspectiva da independência?
    TA: Algumas secções devem estar, porque o vêem como uma bofetada nas pretensões britânicas. Mas também julgo que pode existir uma parte da elite que pode dizer: «isso pode poupar-nos dinheiro, cortar os subsídios, etc. e de qualquer forma a Escócia não produz grande riqueza. Essa é a parte da elite que acha que a única maneira de continuar para a frente é efectivamente vender a economia britânica e as cidades do sul aos ricos, a oligarcas de várias nacionalidades, Ucrânia, Rússia, Arábia, etc. que dominam extensas partes dos mercados financeiros de Londres actualmente. A essa parte da elite, que acha que é esse o futuro, nada lhes interessa, apesar do que dizem.
    JF: Acha que os unionistas estão a fazer uma tempestade sobre a questão da união da moeda?
    TA: Creio que estão a exagerar. Mas, creio que Alex Salmond porá as cartas. «Se se comportarem de um modo tão mesquinho e ruim, então a Escócia só terá como opção criar a sua própria moeda. De facto, a moeda escocesa já é diferente da inglesa. A Escócia imprime essa moeda. E vamos imprimir a nossa própria moeda e se nos tirarem a influência, buscaremos outros caminhos. Creio que Salmond deve actuar com muita cautela neste caso e mostrar as suas cartas. Não deveria ter medo.
    JF: Posso perguntar algo mais sobre o elemento histórico disso tudo? Porque acha que a contra-revolução neoliberal teve tanto êxito em Inglaterra?
    TA: Bom. Não diria que foi um êxito. Ou se o foi, será devido em grande medida a que os sindicatos e o partido laborista não assumiram qualquer luta quanto a isso. Vejamos na América do Sul, mesmo pequenos países desse continente que enfrentaram o neoliberalismo e que se separaram dele a vários níveis, fizeram-no graças a enormes movimentos sociais. Infelizmente, o movimento sindical britânico sentiu-se tão derrotado depois da greve mineira que simplesmente o abandonaram. Não lutaram, não se digladiaram, já que o partido laborista se assassinara a si próprio ao transformar-se no New Labour, Tony Blair transformou-se no núcleo duro da liderança tatcherista e continuou na mesma velha senda de Tatcher.
    Assim pois, quanto a oferecer alguma alternativa a essa gente, os New Labour e os conservadores colaboraram ao afirmar que não houve qualquer alternativa. E as pessoas apoiaram-no, principalmente após o crack de Wall Street em 2008. O que realmente acontece é que não surgiram alternativas.
    Se a Escócia conseguir a independência e os seus lideres tiverem coragem, poderá romper com o neoliberalismo. Em Inglaterra, não surgiu qualquer força que lhe faça frente. As pessoas sentem-se derrotadas, desmoralizadas e acham que aqueles em quem confiaram durante tanto tempo, os traíram. É assim, a maneira como as pessoas o enfrentam mesmo a direita. O apoio principal do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP) em concreto é uma forma de oposição aos jogos efectuados pela elite. É um disparate, porque Farage e companhia nada oferecem. Mas é essa a escala do desespero. E não existe nada na esquerda para o enfrentar. Noutros lados da Europa, existem choques a partir da esquerda. Mas não na Inglaterra. Não diria que as pessoas os aceitam, diria que não se lhes mostrou qualquer alternativa por parte de nenhum grupo ou pessoas.
    JF: Esta semana vai falar sobre «desmantelar» o Estado britânico. Algumas pessoas perguntam o que quer dizer com isso
    TA: Quero dizer que o Estado britânico, criado pela União no século XVIII, nunca foi efectivamente posto na encruzilhada. O único escrito da constituição britânica é o Tratado da União de 1707. Agora, aquilo por que os escoceses vão a votos — se, como espero, disserem «sim» é o desmantelamento do Estado britânico tal como ele é agora. O que sucederá depois se verá. Mas, certamente, com a separação da Escócia, o Estado britânico desmantela-se.
    JF: Muitos socialistas negariam que haja algo especialmente tóxico sobre o Estado britânico, e diriam que todos os estados capitalistas são maus. Claro, que sabemos que rivais como a França, Alemanha e Itália também têm os seus problemas. Acha que o Estado britânico tem alguma característica distinta? Significa isso que temos de enfrentá-lo de um modo diferente?
    TA: Por um lado, pode dizer-se que a economia capitalista desses Estados é mais ou menos a mesma. Mas esses Estados têm as suas peculiaridades. No caso de Inglaterra, como indicou o meu velho amigo Tom Nairn, essas peculiaridades vivem no âmbito da sátira. A preservação de uma coroa, mantida através do internacionalismo monárquico da casa de Hannover, que encontrou dirigentes para Inglaterra quando se lhes acabaram os naturais. Criar e manter esta monarquia é uma farsa. A Câmara dos Lordes é também inteiramente antidemocrática. Tudo isso dá ao Estado britânico um carácter arcaico. O facto de o absurdo de Downton Abbey ser incrivelmente popular é um sinal do que significa. Tudo isso levou em Inglaterra à deferência para com o líder, o colocar-se à sombra, o que também sucede na Escócia, no sentido de que a família real tem uma casa em Balmoral quando se trata de falar da Escócia.
    Tudo isto obstou à modernização da Inglaterra. O Estado britânico tem as suas características. E acho que é algo com que temos de romper. Mas é impossível romper de outro modo, portanto a independência da Escócia seria um bom começo. Claro que quando os noruegueses decidiram separar-se da Suécia em 1905, fizeram-no por razões muito semelhantes, queriam o seu próprio país e estavam fartos de serem dominados por Estocolmo. Passou-se de forma relativamente amistosa. Podem acontecer coisas assim.
    Pode argumentar-se que desde que o capitalismo domine em toda a parte, nada deveria ser feito. Mas isso seria um passo atrás para a passividade total e o fatalismo.
    JF: A Grã Bretanha perdeu o seu império há muitas gerações, mas é ainda a Inglaterra imperialista?
    TA: Bom, trata-se de um subimperialismo, contraído com o único império existente hoje em dia, os Estados Unidos da América. Mas outros países albergam ainda pretensões imperialistas. Alguns tratam de reviver o passado, como Putin está a fazer na Ucrânia. Outros fingem-no e de facto levam uma carga demasiada porque estão amarrados ao nome de império existente. Se olharmos os grandes impérios que já passaram, os japoneses, os alemães, os franceses, os britânicos, onde estão agora? Estão amarrados aos Estados Unidos da América. Não podem fazer absolutamente nada sem permissão de Washington. Os Estados Unidos são afinal o único império.
    JF: Mencionou o mau estado em que se encontra a democracia inglesa. Preocupa-o o auge das políticas de direita populistas na Inglaterra? Porque acha que têm agora tanto êxito na Inglaterra?
    TA: Bem, tem êxito porque não há mais nada. Efectivamente, as duas questões sobre as quais versam as campanhas do UKIP são a União Europeia e a imigração. Estão ligados, porque a imigração que atacam, em grande medida, é a que provém da União Europeia. Infelizmente, estas são demandas populares em toda a Europa neste momento devido à crise económica.
    De resto, na minha opinião, a esquerda tem sido muito débil ao não se adiantar com fortes críticas à União Europeia e seu funcionamento, porque tem medo de ser considerada antieuropeia. Mas não é antieuropeu dizer que a União Europeia está totalmente corrupta, é burocrática, antidemocrática, dirigida por elites e que é, efectivamente, uma união de banqueiros. Isso é um facto. Mas a esquerda não está a fazer campanha, excepto na França.
    Existe assim uma situação em que um partido emerge das entranhas do velho Tea Party e aparece com todas essas coisas e os grupos fascistas que começam a fazer a sua entrada transformaram-se numa força política cujo principal propósito é pressionar os Conservadores e separá-los da Europa. Claro que tiveram sucesso na hora de empurrar todos os partidos em Westminster para a direita no caso da imigração. Daí estarem no auge.
    Mas, creio que há um problema mais profundo, argumentado por Peter Mair, um bom politólogo, no seu livro póstumo, Rulling theVoid, (Governar o Vazio). Argumenta, correctamente na minha opinião, que o que temos agora no mundo capitalista avançado é uma situação em que a classe política não representa as necessidades ou os pontos de vista da população. Isto ajuda a uma crescente alienação da política como tal. Consequentemente, o défice democrático na Inglaterra é muito forte. É enorme. E esta é também uma das razões pelas quais os escoceses deveriam agarrar esta oportunidade e fugir do cárcere em que a Inglaterra se converteu, desenvolver as suas próprias políticas e discutir abertamente a maneira de seguir em frente. Não deveriam aspirar a uma versão menor do neoliberalismo inglês.
    JF: Muita gente está preocupada com as implicações, se a Escócia se vai, com o futuro dos governos trabalhistas de centro esquerda no resto da Inglaterra. No contexto do UKIP, do populismo crescente, das revisões de Collins e outras, qual é o futuro da social-democracia em Inglaterra?
    TA: Expressei abertamente a minha opinião sobre este assunto desde o aparecimento do New Labour. Aceita-se de forma generalizada que não existe qualquer diferença fundamental entre o centro-esquerda e o centro-direita na política britânica, nem na francesa nem na alemã.
    Efectivamente, o que temos é um extremo centro. «Extremo» porque apoia guerras e ocupações. «Extremo» porque declara guerras contra a sua própria gente, tenta culpabilizar as vítimas pelos crimes cometidos concebidos pelas elites. «Extremo» porque se prepara para desmantelar direitos democráticos fundamentais com o fim de prevenir dissensões nas discussões sobre o estado secreto.
    Esse extremo centro cerca tanto o centro-esquerda como o centro-direita. Fazem algum ruído quando se encontram na oposição, mas quando estão no poder, fazem o mesmo. Até hoje, a primeira bancada dos New Labour não foi capaz de dizer que se separaram das políticas fundamentais da coalizão em assuntos de economia. Não podem dizê-lo, porque são as suas políticas. Não são diferentes.
    Daí que toda essa conversa sobre a debilitação das forças de esquerda no que ficará do Reino Unido é uma cortina de fumo. Uma cortina para quê? Para nada. Não mantêm qualquer relação com a realidade. Os sindicatos são débeis, a última greve geral convocou-se em 1926, portanto a noção de que se está a transaccionar a unidade da classe trabalhadora escocesa e inglesa não tem qualquer sentido. Em qualquer caso, essa unidade pode exercer-se a partir de fronteiras independentes. Os socialistas sempre defenderam a unidade de uma classe trabalhadora internacional, até que a primeira guerra mundial mostrou a força do nacionalismo do tipo retrógrado, que também uniu os trabalhadores.
    Assim em minha opinião nenhuma dessas ideias é séria. O núcleo duro unionista tem um argumento forte ao afirmar que Deus, a igreja e a monarquia são os factores que unem a União e que assim tem sido desde 1707, e que não deveríamos quebrar isto e que os escoceses que o querem fazer serão castigados. Isso é pelo menos uma perspectiva consistente, mas completamente anacrónica.
    JF: Algumas pessoas argumentam que a Escócia e a Inglaterra se afogariam depois da independência. Também falam de impostos corporativos e outras coisas. Acha que as coisas realmente melhorariam se a Escócia conseguisse a independência?
    TA: Bom, acho que se firmaram as bases para que as coisas melhorem. Se melhoram ou não depende de dois factos, se os líderes do Partido Nacionalista Escocês estão preparados para ir mais além em termos de criar uma social-democracia escocesa ou não. Espero por Deus que estejam. Em segundo lugar e mais importante, depende de se numa Escócia independente haverá o desejo das pessoas participarem de um modo mais activo na política a todos os níveis. Não apenas através das instituições que supervisionam e observam a nova democracia escocesa. Necessitam de participar e falar alto e claro quando as coisas não vão bem. Acho que será esse o efeito. A esquerda na Escócia deve interpretar o seu papel.
    JF: Que acha do modelo nórdico e de outras variantes do capitalismo? Pode a Escócia basear-se nessas ideias?
    TA: Bom, falamos de um período em que o sistema capitalista triunfou e as ideias sobre o socialismo sofreram uma enorme derrota global. Estamos a viver um período de transição estranho, que pode durar até ao final do século. Não deveríamos excluir essa possibilidade. Assim, temos que trabalhar com o que existe, e ver como o capital nos seus piores aspectos pode regular-se, como um Estado pode regular-se de maneira a trabalhar em benefício dos trabalhadores… na verdade era este o propósito do Labour em 1945, e esse programa era bom. Realmente mudou as condições de vida das pessoas e até hoje, eu não vivo na Escócia, mas as pessoas dizem-me que o sistema educativo na Escócia é melhor, em comparação com o sistema educativo inglês. É aí que uma Escócia independente poderia marcar a diferença. Se souber dirigir a sua economia, o seu petróleo, aprender a lição com a Noruega, que investiu a riqueza do seu petróleo, de um modo muito sábio. Como resultado goza de um estado de bem estar social-democrático que praticamente o mundo inteiro inveja. Quando ali estive, disse-me um amigo norueguês: «Não te verei até Outubro, porque vou estar fora seis meses e eu respondi-lhe «porquê? Que se passa?” E ele confessou-me «a minha mulher vai ter uma criança, e segundo a lei norueguesa, os pais têm uma licença de seis meses”. Fiquei surpreendido, porque sabia que existia algo assim, mas sem pormenores.
    Portanto, sentimos que de algo modo, eles vivem melhor sob governos social-democratas, ou sob consensos que aceitam que certas reformas não têm preço.
    E são os programas de privatização da elite britânica que afundaram o país. Agora vendem o serviço de saúde. O New Labour deveria lembrar-se. Havia um artigo do anterior secretário de saúde, Alan Milburn, no Financial Times na semana passada que discutia sobre o assunto da saúde privada, com a pretensão de que se trata de uma maneira de salvaguardar a Segurança Social. Foi isto que gerou aborrecimento na Inglaterra e na Escócia. Foi culpa do New Labour. E temos que definitivamente quebrar essas políticas e criar uma sociedade melhor.
    Não será esta a sociedade socialista com que os nossos socialistas sonharam. Mas abriria espaço para que pelo menos essas coisas fossem debatidas e as reformas pudessem ver-se implementadas de tal forma que melhorassem as condições de vida na Escócia. Não há qualquer razão para que uma Escócia independente não possa reindustrializar-se e construir uma grande industria de navegação, com a ajuda de países fora da Europa que estão dispostos. É um disparate ver apenas o futuro da Escócia com a Inglaterra ou até com o resto da Europa. Com a imaginação vamos mais longe.
    JF: A maior ansiedade de muita gente é que a Escócia se verá cada vez mais isolada após a independência. Como pode a Escócia impedir isso? E que tipo de alianças deve a Escócia construir?
    TA: Mas a Escócia não está já isolada? Eu diria que a Escócia agora está isolada sendo uma parte da Inglaterra. A Inglaterra não o está, mas a Escócia sim. Portanto esta ideia do isolamento após a independência está equivocada. O conjunto de alianças que deveria construir? Para começar, o propósito deveria ser construir alianças com o bloco escandinavo, particularmente com a Noruega e a Suécia. Acho que seriam recebidos de braços abertos, para realizar negócios financeiros, turismo, tratados políticos, etc. O bloco escandinavo é uma possibilidade.
    No ano da União Europeia, deveriam lutar pelo direito à expressão de Estados mais pequenos. A Escócia deveria construir vínculos com repúblicas mais pequenas no seio da União Europeia, ou até nas áreas no interior da União Europeia que ainda não são independentes, como a Catalunha.
    E porque não deveria a Escócia ser independente da Inglaterra para manter relações com países da Ásia ou da África? Por isso acho que os Escoceses têm que ver mais além. A principal instituição que deveria ser criada, entre outras, seria um Ministério de Negócios Estrangeiros, um comércio do ultramar, isso seria muito importante.

    sábado, 29 de março de 2014

    OTAN em desespero trava sua última batalha no norte da Síria

    Por Tony CartalucciNew Eastern Outlook – traduzido pelo Oriente Mídia

    A pequena cidade de Kassab no noroeste sírio, localizada na fronteira com a Turquia, transformou-se em um campo de batalha crucial entre as forças de segurança sírias e militantes armados apoiados pelo exército turco. Os confrontos receberam destaque no último domingo, quando a Turquia abateu um avião de guerra sírio realizando ataques aéreos ao longo da fronteira enquanto os militantes adentravam o território sírio.
    Enquanto o governo turco sustenta que o avião sírio violou seu espaço aéreo, este caiu em território sírio, após seu piloto ter ejetado e aterrissado em segurança também em solo sírio. AReuters informou em seu artigo, “Turquia abate avião sírio que teria violado seu espaço aéreo”[1], que:
    Um F-16 turco disparou um foguete contra o jato sírio, que caiu cerca de 1.200 metros (1.300 jardas) dentro do território sírio.
    É evidente que o governo turco sabia que forças sírias estavam combatendo militantes, que Ancara abrigava em seu território, e quaisquer atividades transfronteiriças realizadas pela Síria, não representava nenhuma ameaça para a segurança turca, mais que as perseguições que seu governo realiza regularmente no norte do Iraque contra militantes curdos. Em vez disso, parece que os aviões de guerra turcos estavam de fato fornecendo suporte aéreo para os militantes cruzarem a fronteira síria.
    Mais alarmante é o fato de que os militantes foram identificados através dos meios de comunicação ocidentais como vindos da organização terrorista Jabhat Al Nusra, que o Departamento de Estado dos EUA designou como sendo franquia síria da Al-Qaeda. Na página do Wall Street Journal/Middle East Real Time, a postagem “Ofensiva em Latakia traz lembranças sombrias para armênio-sírios”[2], diz:
    Quando os rebeldes islâmicos linha-dura tomaram trechos da província de Latakia nesta semana, obtiveram seu primeiro posto avançado no Mar Mediterrâneo .
    A ofensiva militar foi simbólica por vários motivos: os rebeldes da Frente Al-Nusra tomaram partes do norte da província natal de Bashar Al-Assad, enquanto a força aérea turca abateu um avião de guerra do regime que tentava bombardear o avanço rebelde, enquanto voava perto da fronteira. Al-Nusra é filial da Al-Qaeda na Síria.
    Um membro da OTAN fornecendo apoio aéreo para as incursões da Al-Qaeda em um país vizinho não poderia ser mais flagrante violação da soberania nacional ou do direito internacional. No entanto a Turquia, aparentemente, não parou por aí na tentativa de aumentar as tensões com a Síria. Uma conversa recente vazou[3] entre o chefe da inteligência turca, Hakan Fidan, e o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Ahmet Davutoglu, revelando os planos da Turquia para encenar um ataque forjado na própria Turquia, para provocar uma guerra com a Síria.
    International Business Times informou em seu artigo, “Banimento do Youtube na Turquia: Transcrição completa do vazamento da conversa entre oficiais de Erdogan sobre a ‘Guerra’ na Síria”[3], que:
    O banimento do YouTube pelo primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan ocorreu depois do vazamento da conversa entre o chefe da Inteligência Turca Hakan Fidan e o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, que ele queria que fosse removido do site de compartilhamento de vídeos.
    O vazamento revelou detalhes da ideia de Erdogan de que um ataque à Síria “deve ser visto como uma oportunidade para nós [Turquia]“.
    Na conversa, o chefe da inteligência Fidan diz que vai enviar quatro homens para a Síria para atacar a Turquia para “criar uma causa de guerra”.
    O Vice-Chefe do Estado-Maior tenente-general Yaşar Güler responde que as ações projetadas de Fidan são “uma clara causa de guerra … o que você vai fazer é uma clara causa de guerra.”
    O Ministério das Relações Exteriores da Turquia disse que, a gravação que vazou de altos funcionários discutindo a operação Síria foi “parcialmente manipulada” e é um “ataque desprezível” à segurança nacional.
    No vídeo vazado, Fidan está discutindo com Davutoglu, Güler e outros funcionários uma possível operação dentro Síria para proteger o túmulo de Suleyman Shah, avô do fundador do império otomano.
    A revelação surpreendente foi praticamente enterrada pelos meios de comunicação ocidentais, que intencionalmente focaram apenas na proibição do Facebook e Twitter na Turquia que visava encobrir o que se referiram como “casos de corrupção”. Um ataque auto-infligido para justificar ação militar direta na Síria, corre o risco de desencadear um conflito regional de larga escala envolvendo a Turquia e, por extensão, os membros ocidentais da OTAN – cenário que o Ocidente tem buscado tão logo o conflito na Síria começou em 2011.
    Uma intervenção ocidental, mesmo que limitada ao norte da Síria, através da Turquia, permitiria a criação de “zonas tampão” ocupadas pelo ocidente em território sírio, há muito desejadas pelo Ocidente desde meados de 2012, pelos decisores políticos norte-americanos, especialmente aqueles entre o financiamento corporativo da Brookings Institution, a partir do qual muitas das aventuras militares americanas foram concebidas.
    A ideia de estabelecer uma “zona tampão” destina-se a olhar como uma reação instintiva de violência ao longo da fronteira sírio-turca e foi descrita em detalhes pelo Brookings Institutionem seu “Memorando nº21 para o Oriente Médio Março de 2012″, “Avaliando opções para mudança de regime”[4] , onde afirmava especificamente:
    “Uma alternativa seria concentrar esforços diplomáticos para primeiro acabar com a violência e obter acesso humanitário, como está sendo feito sob a liderança de Annan. Isso pode levar à criação de lugares seguros [safe-havens] e corredores humanitários, que seriam apoiados por poder militar limitado. Isso, é claro, ficaria aquém das metas dos EUA para a Síria e poderia preservar Assad no poder. A partir desse ponto, no entanto, seria possível adicionar, com uma ampla coalizão com mandato internacional apropriado, outras medidas de coação para os seus esforços.”
    Brookings Institution, no referido memorando, não faz segredo de que a “responsabilidade de proteger” humanitária é apenas um pretexto para a mudança de regime há muito planejada.
    A cumplicidade com a Al-Qaeda, fornecendo terroristas armados com apoio aéreo e planejamento para provocar intencionalmente uma guerra com a Síria através de um premeditado, auto-infligido e agora plenamente revelado ataque projetado para incriminar Damasco – tudo levado à cabo às claras, enquanto o mundo procura esclarecer o perigoso desespero em que o Ocidente agora se encontra, enquanto seu projeto de hegemonia global toma o pior rumo.
    Enquanto a Turquia leva a culpa pelas recentes e flagrantes séries de atos de guerra contra a vizinha Síria, sua participação na OTAN e a subsequente falha da OTAN em condenar a Turquia por suas ações, implica toda a aliança militar como cúmplice. Na verdade é irônico o fato de que, embora a OTAN envie mimos à Al-Qaeda como armas e cobertura aérea ao longo da fronteira sírio-turca, ela usa a presença da mesma Al-Qaeda no Afeganistão, para justificar a sua contínua ocupação lá, bem como incursões transfronteiriças para o vizinho Paquistão.
    Em cada momento crucial durante o conflito sírio em curso, o Ocidente tem gasto muito de sua credibilidade e reputação, enquanto burla as “normas internacionais” que tem trabalhado há décadas para estabelecer. A cada derrota nestes momentos cruciais, o impulso com o qual o Ocidente contava tão ansiosamente desde 2011 é reduzido cada vez mais. A batalha em Kassab, e em menor extensão a “Frente Sul” ao longo da fronteira sul entre Síria e Jordânia, que parece já ter entrado em colapso sob contra-ataques da Síria, parece ser a última batalha da OTAN e seus procuradores na Síria.
    O Exército Sírio parece totalmente capaz de barrar os militantes que fluem ao longo de suas fronteiras e exibiu paciência infinita contra as provocações da OTAN. Com a Turquia tendo revelado estar planejando ataques em seu próprio território para provocar uma guerra com a Síria, qualquer tentativa efetiva de realizar um falso ataque agora só enfraqueceria ainda mais a posição da Turquia e da OTAN. Mesmo que o Ocidente seja capaz de estabelecer “zonas tampão” no norte da Síria, o preço que pagarão em credibilidade, reputação e legitimidade faria de tal “vitória” pírrica.
    Tal como acontece com todos os impérios ao longo da história humana, há um momento decisivo, quando o declínio se torna irreversível e a queda de um império iminente. Para a “Pax Americana” e a elite estacionada em Wall Street e na cidade de Londres, esse momento pode ser a batalha de Kassab e o fim vergonhoso da tentativa ocidental de mudança de regime na Síria.


    Vazamento! /Turquia usa Al-Qaeda para justificar guerra contra a Síria


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    Por Mimi Al Lahamsyrianews.cc
    Tumba de Suleiman Shah - Wikipedia
    Tumba de Suleiman Shah – Wikipedia
    Uma conversa vazada entre o chefe de inteligência da Turquia e o gabinete de guerra revela plano para criar um casus belli contra a Síria, usando Al-Qaeda (ISIL[1]) para ameaçar o santuário turco tumba de Suleiman Shah[2] .A Turquia bloqueou o Youtube, a fim de encobrir os vazamentos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros turco confirmou a gravação de planejamento para uma incursão militar na Síria, acrescentando que uma “rede de traidores” foi responsável pelo vazamento.
    Parte 1 da transcrição (link: https://www.youtube.com/watch?v=c-1GooSDwJ8)
    Na fita vazada,
    Ministro das Relações Exteriores Ahmet Davudoğlu
    Chefe da Inteligência Turca (MIT) Hakan Fidan
    Subsecretário de chancelaria Feridun Sinirlioğlu
    General Yaşar Güler
    procuram um motivo (e querem criar um, se a conversa não for frutífera) para declarar guerra contra a Síria. O vazamento tem duas partes, a segunda ainda não foi traduzida para o inglês. Aqui está a primeira parte.
    Planos de guerra visando as eleições – Parte 1
    1º Slide:

    Ahmet Davutoglu: Eu não compreenderia outra coisa, o que exatamente nosso Ministro da Relações Exteriores deveria fazer? Não, eu não estou falando disso. Há outras coisas que podemos fazer. Se decidirmos sobre isso, notificamos as Nações Unidas, o Consulado de Istambul do regime sírio, certo?
    Feridun Sinirlioğlu: Mas se decidirmos sobre uma operação lá, o efeito deve ser impactante. Quero dizer, se o fizermos. Eu não sei o que vamos fazer, mas independentemente do que decidirmos, eu não acho que seria apropriado notificar ninguém de antemão.
    Ahmet Davutoglu: OK, mas vamos ter que nos preparar de alguma forma. Para evitar problemas com o direito internacional. Eu só percebi quando eu estava conversando com o presidente (Abdullah Gül), se os tanques turcos forem para lá, isso significa que estaremos lá de qualquer forma, certo?
    Yaşar Güler: Significa que estaremos lá, sim.
    Ahmet Davutoglu: Sim, mas há uma diferença entre ir com aviões e ir com tanques …
    2º Slide:
    Yaşar Güler: Talvez possamos dizer ao consulado general sírio, que ISIL está atualmente trabalhando ao lado do regime, e esse lugar é solo turco. Devemos definitivamente …
    Ahmet Davutoglu: Mas já dissemos isso, enviei várias notas diplomáticas.
    Yaşar Güler: para a Síria …
    Feridun Sinirlioğlu: Isso mesmo.
    Ahmet Davutoglu: Sim, enviamos-lhes inúmeras vezes. Portanto, eu gostaria de saber do nosso ministro, quais as expectativas da nossa Chefia de Gabinete.
    Yaşar Güler: Talvez sua intenção era dizer que, eu realmente não sei, ele se encontrou com o Sr. Fidan.
    Hakan Fidan: Bem, ele mencionou essa parte, mas nós não entramos em detalhes.
    Yaşar Güler: Talvez tenha sido isso que quis dizer… Uma nota diplomática à Síria?
    Hakan Fidan: Talvez em coordenação com o Ministério das Relações Exteriores…
    3º Slide:
    Ahmet Davutoglu: Quer dizer, eu poderia coordenar a diplomacia, mas a guerra civil, os militares …
    Feridun Sinirlioğlu: Isso é o que eu disse lá atrás. Por um lado, a situação é diferente. Uma operação contra o ISIL tem apoio do direito internacional. Nós mostramos que é a Al-Qaeda, não haverá perigo se estiver relacionado com a Al-Qaeda. E trata-se de defender a tumba de Suleiman Shah, é uma questão de proteger a nossa terra.
    Yaşar Güler: Nós não temos problemas com isso.
    Hakan Fidan: Depois que ocorrer, será uma grande comoção interna (com vários casos de atentados ocorrendo aqui dentro). A fronteira não está sob controle …
    Feridun Sinirlioğlu: Quero dizer, sim, claro que os atentados acontecerão. Mas eu me lembro da nossa conversa de 3 anos atrás …
    Yaşar Güler: Mr. Fidan deve receber apoio urgentemente e precisamos ajudá-lo a fornecer armas e munição para os rebeldes. Precisamos falar com o ministro. Nosso Ministro do Interior, o nosso Ministro da Defesa. Precisamos conversar sobre isso e chegar a um resolução, senhor.
    Ahmet Davutoglu: Como colocamos forças especiais em ação, quando houve uma ameaça no Norte do Iraque? Deveríamos ter feito isso lá também. Nós deveríamos ter treinado esses homens. Nós deveríamos ter enviado homens. De qualquer forma, não podemos fazer isso, só podemos fazer o que a diplomacia …
    Feridun Sinirlioğlu: Eu disse a você antes, pelo amor de Deus, General, você sabe como enviar aqueles tanques, você estava lá.
    Yaşar Güler: O que, você quer dizer nosso material?
    Feridun Sinirlioğlu: Sim, como você acha que nós conseguimos reunir nossos tanques no Iraque ? Como? Como conseguimos enviar forças especiais e os batalhões? Eu estava envolvido nisso. Deixe-me ser claro, não havia nenhuma decisão do governo sobre aquilo, conseguimos apenas com uma única ordem.
    4º Slide:
    Yaşar Güler: Bem, eu concordo com você. Por um lado, nós não estamos nem discutindo isso. Mas há coisas diferentes que a Síria pode fazer agora.
    Ahmet Davutoglu: General, a razão pela qual estamos dizendo não à esta operação é porque que sabemos sobre a capacidade desses homens.
    Yaşar Güler: Olha, senhor, a MKE (Mechanical and Chemical Industry Corporation) não está às ordens do ministro? Senhor, eu quero dizer, o Qatar quer comprar munição em dinheiro. À vista. Então, por que não acabamos logo com isso? Está sob o comando do Sr. Ministro.
    Ahmet Davutoglu: Mas não é o ponto, não podemos agir de forma integrada, não podemos coordenar.
    Yaşar Güler: Então, o nosso primeiro-ministro pode convocar tanto o Sr. Ministro da Defesa e o Sr. Ministro, ao mesmo tempo. Então, ele pode falar diretamente com eles.
    Ahmet Davutoglu: Nós, o Sr. Siniroğlu e eu, literalmente imploramos para o Sr. primeiro-ministro para uma reunião privada, dissemos que as coisas não pareciam tão bem.
    5º Slide:
    Yaşar Güler: Além disso, não precisa ser uma reunião com muitos envolvidos. Você, o Sr. Ministro da Defesa, o Sr. Ministro do Interior e nosso Chefe de Gabinete, os quatro serão suficiente. Não há nenhuma necessidade para uma multidão. Porque, senhor, a principal necessidade lá, são armas e munição. Nem tanto armas, principalmente munição. Nós já falamos sobre isso, senhor. Digamos que nós estamos construindo um exército lá, de 1000 homens. Se os levarmos à guerra sem antes armazenar um mínimo de 6 meses de munição, estes homens vão retornarão em dois meses.
    Ahmet Davutoglu: Eles já voltaram.
    Yaşar Güler: Eles vão voltar para nós, senhor.
    Ahmet Davutoglu: Eles voltaram a partir de … Onde foi? Çobanbey.
    Yaşar Güler: Sim, é verdade, senhor. Este assunto não pode ser apenas um fardo sobre os ombros do Sr. Fidan como é agora. É inaceitável. Quero dizer, nós não podemos entender isso. Por quê?
    6º Slide:
    Ahmet Davutoglu: Naquela noite, tínhamos chegado a uma resolução. E eu pensei que as coisas estavam tomando um rumo. Nossa…
    Feridun Sinirlioğlu: Emitimos a resolução do MGK (Conselho de Segurança Nacional) no dia seguinte. Então nós conversamos com o general …
    Ahmet Davutoglu: E as outras forças realmente aproveitaram essa nossa fraqueza. Você diz que está indo capturar esse lugar, e que os homens que estão lá constituem um fator de risco. Você os traz de volta. Você captura o lugar. Você o reforça e envia suas tropas novamente.
    Yaşar Güler: Exatamente, senhor. Você está absolutamente certo.
    Ahmet Davutoglu: Certo? É assim que interpretei. Mas, depois da evacuação, esta não é uma necessidade militar. É uma coisa totalmente diferente.
    7º Slide:
    Feridun Siniroğlu: Há algumas mudanças sérias na geopolítica mundial e regional. Que agora podem se espalhar para outros lugares. Você mesmo disse hoje e outros concordaram … Estamos rumando para um jogo diferente agora. Precisamos enxergar isso. Que o ISIL e os outros, todas as organizações são extremamente manipuláveis. Tendo uma região composta de organizações de natureza semelhante constituirá um risco de segurança vital para nós. E quando fomos pela primeira vez ao norte do Iraque, havia sempre o risco do PKK explodir o lugar. Se considerarmos cuidadosamente os riscos e verificarmos… Como o general disse …
    Yaşar Güler: Senhor, quando estávamos lá dentro agora à pouco, estávamos discutindo exatamente isso. Abertamente. Quero dizer, as forças armadas sempre são uma “ferramenta” necessária para você.
    Ahmet Davutoglu: Claro. Eu sempre digo ao primeiro-ministro, na sua ausência, a mesma coisa no jargão acadêmico, você não pode ficar nessas terras sem força bruta. Sem força bruta não há diplomacia.
    8º Slide:
    Yaşar Güler: Senhor.
    Feridun Sinirlioğlu: A segurança nacional tem sido politizada. Não me lembro de nada assim na história política turca. Tornou-se uma questão de política interna. Todos os discursos sobre defender nossas terras, nossa segurança das fronteiras, as nossas terras soberanas lá, tudo tornou-se política doméstica barata.
    Yaşar Güler: Exatamente.
    Feridun Siniroğlu: Isso nunca aconteceu antes. Infelizmente, mas …
    Yaşar Güler: Quero dizer, há ao menos um dos partidos de oposição que o apoia em um ponto tão sério da segurança nacional? Senhor, isso seria justificável sob o a ótica da segurança nacional?
    Feridun Sinirlioğlu: Eu nem me lembro de tal período.
    9º Slide:
    Yaşar Güler: De que outra forma poderíamos nos unir, se não uma questão de segurança nacional de tal importância? Nenhuma.
    Ahmet Davutoglu: Em 2012, não fizemos o mesmo que em 2011. Se ao menos tivéssemos agido de forma séria à época, mesmo no verão de 2012.
    Feridun Sinirlioğlu: Eles estavam por baixo em 2012.
    Ahmet Davutoglu: Internamente, eles eram como a Líbia. Quem entra ou sai do poder não é de qualquer importância para nós. Mas algumas coisas …
    Yaşar Güler: Senhor, para evitar qualquer confusão, a nossa necessidade em 2011 foi de armas e munição. Em 2012, 2013 e hoje também. Estamos no mesmo exato ponto. Para nós é absolutamente necessário encontrar e proteger este lugar.
    Ahmet Davutoglu: Armas e munição não são tão necessários para aquele lugar. Porque não conseguimos deixar o fator humano em ordem…
    Parte 2 da transcrição (parcial, link: https://www.youtube.com/watch?v=lm7eg0-IjlI)
    Feridun Sinirlioglu: Deixem-me dizer o seguinte: é um pequeno pedaço de terra e pela lei internacional, é solo turco, por isso temos todo o direito de fazer uma operação e se a fizermos o mundo inteiro nos apoiaria, não resta dúvida disso.
    Yasar Guler: Nós não temos nenhuma dúvida.
    Yasar Guler: Essas forças especiais turcas estão esperando lá por um ano! Não planejamos tudo isso ontem. Eles estão esperando há um ano.
    Ahmet Davutoglu: Kerry me disse exatamente isso: VOCÊS JÁ SE DECIDIRAM?
    Yasar Guler: Sim, já nos acertamos 100 vezes com EUA
    Feridun Sinirlioglu: 3 dias atrás americanos vieram para o quartel-general militar e eles tiveram uma reunião de coordenação de crise. Esta é a primeira vez que ouço isso deles.
    Yasar Guler: Não, fazemos isso o tempo todo.
    Ahmet Davutoglu: Todos devem cumprir seus deveres. Se o embaixador me diz “senhor se eu fizer isso eu vou ser preso, eles prenderão todos”, então o que devemos fazer? Falamos para ele renunciar e encontramos alguém que esteja disposto a fazer o que precisa ser feito. É assim que as coisas funcionam na democracia.

    [1] Tumba de Suleiman Shah é, de acordo com o Tratado de Ancara assinado entre França e Turquia em 1921, território turco em solo sírio.
    [2] ISIL ou ISIS, da sigla em inglês: Estado Islâmico do Iraque e Levante (Sham em árabe). É grupo islamofascista associado à Al-Qaeda, usado como ferramenta para invasão Síria.
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       Fonte : ORIENTE mídia

    Cosmologia: Eis a solução para o paradoxo do buraco negro de Hawking

    O espaço e o tempo estão interligados. Não podemos olhar para o espaço à frente sem olhar para trás no tempo. [Carl Sagan]

    quinta-feira, 27 de março de 2014

    Eis a solução para o paradoxo do buraco negro de Hawking

    Buraco-negro

    No início deste ano, Stephen Hawking propôs uma reformulação radical na forma como definimos os buracos negros, mas essa explicação ainda deixou uma grande pergunta sem resposta de como os buracos negros funcionam. Agora, um físico diz ter resolvido esse problema. O problema gira em torno do que acontece à informação quando ela é encontrada por um buraco negro. Um buraco negro se mantém cercado por um brilho de radiação chamado radiação Hawking, que lentamente evapora o monstro cósmico, embora isso demande uma incrível quantidade de tempo. as, conforme a radiação evapora, as informações que contém nela, teoricamente, são destruídas, o que viola um dos princípios fundamentais da física, que diz que a informação nunca pode ser perdida. 

    É aí que Chris Adami, da Universidade de Michigan, entra em cena com sua solução. A resposta para o que acontece com a informação, explicou ele em um comunicado, encontra-se no conceito de emissão estimulada – basicamente a informação é copiada, assim como uma Xerox: “A emissão estimulada é o processo físico por trás dos LASERS (amplificação de luz por emissão estimulada de radiação).

    Basicamente, ela funciona como uma máquina de cópia: você joga algo na máquina, e duas coisas idênticas saem. Se você joga informações em um buraco negro, pouco antes dela ser engolida, o buraco negro primeiro faz uma cópia que é deixado do lado de fora. Este mecanismo de cópia foi previsto por Albert Einstein em 1917, mas nunca havia sido aplicado a um buraco negro.  Sem esse mecanismo, a física não poderia ser consistente”. É uma ideia interessante que poderia oferecer uma explicação potencialmente elegante para o paradoxo de como a informação é tratada por buracos negros. Além do mais, Adami diz que sua solução se encaixa com a teoria de Hawking, mostrando que a teoria de como um buraco negro evapora está correta.
        Astronomia e Universo

    sexta-feira, 28 de março de 2014

    Jovens opositores teriam sido treinados pelos EUA para desestabilizar governo venezuelano



    Reprodução/Adital
    As ações foram divulgadas como sendo organizadas por movimentos estudantis insatisfeitos com a série de problemas sociais enfrentados no país, mas viu-se que era uma estratégia da oposição para conseguir aplicar um golpe de Estado
    27/03/2014
    Natasha Pitts
    da Adital
    O ministro das Relações Interiores, Justiça e Paz da Venezuela, Miguel Rodríguez Torres, denuncia a participação dos Estados Unidos nos protestos e manifestações violentas que tiveram início no país no último dia 12 de fevereiro. Torres acredita que as ações foram realizadas com base em um ‘Manual de Desestabilização’ criado para derrubar governos eleitos democraticamente, como é o caso da Venezuela.
    As ações, segundo informou o ministro durante uma entrevista coletiva, são viabilizadas pela OTPOR, organização financiada pelos Estados Unidos, que treina os jovens no intuito de realizar "um espetáculo midiático para justificar a substituição ilegítima do governo”. Sérvia e Ucrânia, países que enfrentaram conflitos recentes, também foram apontadas como alvos dessa manipulação.
    Em princípio, as ações foram divulgadas como sendo organizadas por movimentos estudantis independentes e insatisfeitos com a série de problemas sociais enfrentados no país, mas, com a intensa participação da ultradireita, viu-se que era uma estratégia da oposição para conseguir aplicar um golpe de Estado, explica documentário da Agência Venezuelana de Notícias (AVN).
    Com o passar dos dias as manifestações foram deixando o caráter pacífico e se tornando cada vez mais violentas. "Eles seguiam instruções. A estratégia era o espetáculo. Só um momento falso ou vários pré-fabricados são necessários para fazer o mundo acreditar que a Venezuela vive uma ditadura. Esses grupos violentos preparam o terreno para justificar uma intervenção estrangeira”, narra o vídeo.
    Torres denunciou ainda que o que se está vivendo na Venezuela começou em 2010, quando um grupo de jovens foi levado ao México para ser "adestrado” por pessoal da OTPOR. Gaby Arellano, Vilka Fernández, do Movimento 13, pessoas da Juventude Ativa Venezuela Unida (Javu) de Valência e Yon Goicochea foram alguns dos que estiveram no México sendo preparados para implantar o terror nos dias de hoje, apontou o ministro.
    As manifestações midiáticas com a utilização de jovens, sobretudo de classe média e média alta, que se apoiam nos ideais de um líder de direita, são conhecidas como "golpe suave” ou "revolução de cores” e são mais sutis que os golpes de Estado tradicionais, pois permitem justificar midiaticamente a derrubada do governo. Mas a Venezuela não foi a única vítima. Sérvia, Ucrânia, Iugoslávia e Geógia também são apontados como alvos quando passaram por momentos de desestabilização e troca de governo.
    Informações filtradas pela Wikileaks em 2012 dão conta de que o fundador da OTPOR é colaborador da empresa estadunidense privada de inteligência Stratfor. Em 2013, outra informação veio à tona por meio da Wikileaks. A organização Canvas (fundada pelo líder da OTPOR) junto com a Stratfor traçava um caminho para que a ultradireita venezuelana conseguisse derrubar Hugo Chávez. Os mesmos documentos informavam como preparar os movimentos estudantis para a derrocada do líder da Revolução Bolivariana. Hoje, os mesmo personagens, mas com metodologias diferentes, estariam tentando derrubar Nicolás Maduro.

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