segunda-feira, 10 de junho de 2013
As uvas não estão maduras
Uma famosíssima fábula de Esopo intitulada “A raposa e as uvas” conta que, quando uma raposa viu uns lindos cachos de uvas bem maduras, lambendo-se de vontades, tentou alcançá-las de diversas formas. Como não conseguiu seu objetivo, para autoconsolar-se, a raposa disse a si mesma: que me importa, ao fim e ao cabo, “essas uvas não estão maduras”. Com esta fábula se resume a pretensão de certos personagens que dizem não apetecer o que lhes resulta impossível de alcançar e se aplica ao pé da letra ao que acaba de suceder ao regime de Juan Manuel Santos com sua vã pretensão de que a Colômbia ingressasse na Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN], um dos principais grupos de assassinos do planeta.
No
dia de sábado, 1º de junho, Santos, com toda pompa do caso e
acreditando na maneira de que nosso país forma parte do “primeiro mundo”
– porque já se sente membro da OCDE –, disse com um tom pretensioso que
“no mês de junho, a OTAN vai subscrever um acordo com o governo
colombiano, com o Ministério de Defesa, para iniciar todo um processo de
aproximação, de cooperação, com vistas também a ingressar nessa
organização”. Acrescentou que “nosso Exército está na melhor posição
para poder distinguir-se também a nível internacional. Já o estamos
fazendo em muitas frentes”. Rubricou seu sonho de indignidade e entrega
dizendo que “Colômbia tem direito e pode pensar em grande. Porque...
estamos deixando o medo de um lado e enchendo-nos de razões para sermos
os melhores, já não da região mas sim do mundo inteiro. Temos com que. O
temos demonstrado”. Como para ratificar suas pretensões de que já somos
do “primeiro mundo” e que estávamos às portas da OTAN, desde a
presidência da República, Santos difundiu uma foto em sua conta de
twitter onde se mostra “aviões colombianos da Força Aérea [que estão]
reabastecendo aviões da OTAN”. [ver foto em: http://www.elespectador.com/noticias/politica/imagen-425757-colombia-ya-reabastece-aviones-de-otan-el-aire).
Para que não fique dúvida de onde veio a ordem de pedir o ingresso deste país à OTAN, o governo dos Estados Unidos expressou que respaldava a seus súditos colombianos, ao indicar que “nosso objetivo é certamente apoiar a Colômbia como membro capaz e forte de muitas organizações multilaterais, e isso pode incluir a OTAN”, segundo palavras de Roberta Jacobson, a secretaria de Estado adjunta dos Estados Unidos para América Latina. Evidentemente, a ordem se dava para medir a reação dos vizinhos da Colômbia, os quais nesta ocasião se moveram rápido, entendendo o sentido do que está em jogo, como o fizeram Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, que denunciaram a manobra de Santos como uma punhalada dirigida contra a soberania desses países.
Para que não fique dúvida de onde veio a ordem de pedir o ingresso deste país à OTAN, o governo dos Estados Unidos expressou que respaldava a seus súditos colombianos, ao indicar que “nosso objetivo é certamente apoiar a Colômbia como membro capaz e forte de muitas organizações multilaterais, e isso pode incluir a OTAN”, segundo palavras de Roberta Jacobson, a secretaria de Estado adjunta dos Estados Unidos para América Latina. Evidentemente, a ordem se dava para medir a reação dos vizinhos da Colômbia, os quais nesta ocasião se moveram rápido, entendendo o sentido do que está em jogo, como o fizeram Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, que denunciaram a manobra de Santos como uma punhalada dirigida contra a soberania desses países.
Como
sucede, às vezes, com os lacaios que creem que, por sua obsequência e
servilismo, vão ser compensados com sobras, Santos pensou, após a visita
do vice-presidente dos Estados Unidos e de ajoelhar-se em forma
incondicional ante seu amo imperial e aos outros lacaios da Aliança do
Pacífico, que sua genuflexão lhe havia aberto as portas da OTAN. No
entanto, para demonstrar quem é que manda e ratificar aquilo de que
quanto mais servil seja o cão mais se lhe castiga, a OTAN rapidamente se
apressou a dizer, desde sua sede em Bruxelas, que a Colômbia “não
cumpre os critérios geográficos” para ser membro, ainda que se prepara
um acordo que “permitiria o intercâmbio de informação classificada entre
a Aliança e Colômbia”, porém “não há planos imediatos para estabelecer
uma associação formal” entre ambas as partes.
Com
isto, lhe atiraram a porta na cara a Juan Manuel Santos, quem, como bem
diz um adágio popular, se pôs a selar antes de trazer as mulas.
O
que a OTAN disse ao regime santista é que, certamente, vai utilizar,
sempre que o requeira, os sicários colombianos [vestidos de verde-oliva
ou de qualquer outra cor] para que realizem todo tipo de atos criminosos
onde queira que essa aliança imperialista vá intervir e nas guerras que
tem planejadas para o futuro imediato. Entre linhas, se lhe está
dizendo a Santos e aos sipaios colombianos que não confundam o fato de
ser sicários a soldo com converter-se em membros plenos do seleto clube
dos Estados terroristas-imperialistas do planeta, o que só está
reservado a uns quantos.
A
pretensão altissonante e vende pátria de Santos terminou tão mal que
nem sequer ele mesmo quis sair a explicar ou justificar sua metida de
patas e para fazê-lo escolheu a um de seus subalternos. Logo após o
desdém imperialista, o ministro de Defesa [sic] Juan Carlos Pinzón
manifestou que “Colômbia não pode e não quer ingressar na OTAN”, “o que a
Colômbia, sim, quer é percorrer o caminho para ser um sócio na
cooperação como o são agora Austrália, Nova Zelãndia, Japão, entre
outros países”. Neste caso, se repetiu a história da raposa e das uvas: a
raposa foi o governo da Colômbia e as uvas são a OTAN.
Tendo
em conta a ignorância que caracteriza aos políticos colombianos, cabe
perguntar-se se Santos e seu belicoso ministro de Guerra não estavam
confundindo a OTAN com o Sudão, um sofrido país com o qual a Colômbia se
parece cada dia mais, e ao qual já superamos, por exemplo, na
quantidade de população interna deslocada.
Como
os oligarcas colombianos, como Santos, já creem que nosso país é do
primeiro mundo, só porque desde aqui se exporta a todo tipo de expertos
em assuntos tão sofisticados como matar, torturar ou desaparecer – no
que as forças armadas deste país, sim, que têm uma experiência acumulada
e digna de imitar em outros lugares – somente falta que solicitem o
ingresso no G-8, e creiam de antemão que vão ser aceitados.
Essa
pretensão primeiro mundista dos lacaios dos países periféricos – e as
classes dominantes da Colômbia são um claro exemplo disso – sempre
termina em “milagres” de curta duração que afundam os países na miséria e
os fazem mais dependentes dos poderes imperialistas. Se se quisesse
citar um exemplo próximo, só bastaria recordar-se de Carlos Menem – um
neoliberal e pró imperialista da mesma estirpe de Juan Manuel Santos –
que, em fins da década de 1990, apresentou a Argentina como um modelo de
país que vivia o sonho de haver ingressado no primeiro mundo. O
problema foi que, com pouco tempo, esse país se despertou, depois da
ressaca neoliberal, como em Cuesta Abajo, o tango de Gardel, com “a
vergonha de ter sido e a dor de já não ser”.
(*) Renán Vega Cantor é historiador. Professor titular da Universidad Pedagógica Nacional, de Bogotá, Colômbia. Autor e compilador dos livros Marx y el siglo XXI (2 volumes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá, 1998-1999; Gente muy Rebelde, (4 volumes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá, 2002; Neoliberalismo: mito y realidad; El Caos Planetario, Ediciones Herramienta, 1999; entre outros. Premio Libertador, Venezuela, 2008. Seu último livro publicado é Capitalismo y Despojo.
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