quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Líbia: Assassinos e ladrões festejam, mas...

mensagem
Amigos, não se deixem levar pela propaganda dos maiores assassinos do mundo (as tropas da OTAN e os governos que as utilizam).

Estou apenas repassando o que um amigo que trabalha na Petrobrás me enviou (ele não é comunista, nem socialista e nem pertence a nenhum partido político; é apenas um sujeito informado). Vale a pena uma reflexão e um posicionamento, na contramão das Globos da vida (cúmplices de assassinatos também no Brasil).
 

O que a mídia jamais vai mostrar

I – KADDAFI. SEJA O BIZARRO QUE FOR, A ONU CONSTATOU EM 2007:

1 - Maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);
2 - Ensino gratuito até a Universidade;
3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago;
4 - Ao casar, o casal recebe até US$50.000 para adquirir seus bens;
5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc.;
6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;
7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.
(Obs. de meu amigo: "Conheci ha mais de 20 anos engenheiros brasileiros que deram consultoria neste mega-projeto".)

E assim vai...

II - POR QUE DETONAR A LÍBIA, ENTÃO?...


Há (3) principais motivos:

1 - Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;
2 - Fazer com que todo o Mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;
3 - E o maior, provavelmente: O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda,  o dinar, e desatrelando-o das flutuações do dólar.O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.

III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:

 1 - A OTAN, comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e a infra estrutura de água, esgoto, gás e luz estão seriamente danificados;
2 - As bombas usadas contêm DU (Urânio depletado); tempo de vida 3 bilhões de ano (causa câncer e deformações genéticas);
3 - Metade das crianças líbias está traumatizada psicologicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;
4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças sofrem com a falta de remédios e alimentos;
5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo, as crianças são as mais atingidas;
6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;
7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver (água, comida e remédios) de uma população de 6,5 milhões de pessoas.

Em suma: O "bombardeio humanitário" acabou com a nação Líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa. Simples assim. 
A OTAN, os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a Itália e todos os demais que apoiaram mais este holocausto, ou calaram diante dele são criminosos de guerra, na verdadeira acepção do termo. Só não serão julgados agora, porque estão com a faca e o queijo na mão.
Mas a História não para. Este Império ainda vai ruir e a História julgará tais criminosos cheios de tecnologia. E se / quando explodirem prédios ou qualquer coisa nas grandes capitais do mundo do imperialismo, vão chorar de novo suas lágrimas de arrependimento.

SIMPLES ASSIM


 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Anticomunismo escorregadio: Até você Hobsbawm?!

domingo, 28 de agosto de 2011


Etnocentrismo, russofobia e impulso anticomunista de Eric J. Hobsbawm

Por Cristiano Alves

A Página Vermelha idenficou na obra do dito "renomado historiador marxista" uma série de falsificações em "A Era dos Extremos" que vão desde a desinformação a respeito do sistema político soviético até russofobia e etnocentrismo 




É muito comum ouvir o nome de Hobsbawm nos quatro cantos do mundo acadêmico, especialmente em faculdades de História. Sua obra é recomendada num dos mais bem conceituados concursos do Brasil, o da carreira diplomática, cujo programa recomenda as "Eras" do autor nascido no Egito de nacionalidade britânica. De fato, muitos o vêem como "a última palavra em História", uma espécie de guru até, para alguns, ainda, influencia a chamada "esquerda verdadeira", isto é, esquerdistas que se autoproclamam, abertamente ou não, a "última palavra em termos de marxismo", o que pesa ainda mais em razão da militância deste no PCGB, isto é, o Partido Comunista da Grã-Bretanha. A verdade, entretanto, e a intenção de repassá-la nem sempre é um elemento contido nos livros de Eric John Hobsbawm, devendo ser buscada e espalhada, a fim de que novos erros não venham a ser repetidos e mentiras possam ser destruídas como uma muralha que impede a todos de ver a verdade.

A Era dos Extremos, assim como várias outras obras de Hobsbawm, é uma referência para muita gente no tocante à história do século XX, independente de suas visões políticas, de modo tal que o historiador britânico consegue congregar num mesmo universo "esquerdistas" e conservadores, sendo classificado como tal por ambos os grupos. O próprio título do livro é tendencioso, pois ele infere, implicitamente(e é necessário ler toda o livro para perceber isso), que a "Era dos Extremos" é uma era de "extrema-esquerda" e "extrema-direita", que teriam influenciado fortemente o mundo em que vivemos. Não é nenhum segredo que tais tendência existem, entretanto, para Hobsbawm a "extrema-esquerda" nada mais é do que a tendência apresentada pela União Soviética e outros países que efetivamente buscaram o socialismo em seus países, diferente do PCGB, que apenas o faz verbalmente. Para Hobsbawm as idéias de Lenin e Stalin são idéias de "extrema-esquerda" e um trecho do livro que corrobora bem esta tese está no capítulo "O socialismo real"(página 363). Este capítulo traz uma vasta pesquisa a respeito do socialismo em alguns países da Cortina de Ferro, porém negligenciando que nem todos esses Estados de "orientação marxista" eram necessariamente Estados Socialistas, porém Repúblicas Populares, assim como cometendo um leve deslize ao negligenciar a defesa que Marx fazia da Economia Planificada e Centralizada, que é defendida pelo filósofo alemão já em O Manifesto Comunista. Até aí, nenhum problema, o autor inclusive faz uma aguçada análise que vai de encontro à do historiador belga Ludo Martens no tocante ao nome de Nikolay Buharin, que Hobsbawm acertadamente identifica como um "proto-Gorbatchov"1.

Segundo William Bland, marxista britânico, "antistalinismo" é anticomunismo, uma vez que o primeiro nada mais é do que uma forma de atacar não o homem I. V. Stalin, porém a sua obra no primeiro Estado Socialista da história, uma vez que seu trabalho seguiu praticamente à risca os escritos de Karl Heinrich Marx, e o antistalinismo é o grande tótem de Hobsbawm. Ao falar de Stalin, cujo governo levou a Rússia da era do arado para a era da energia nuclear(então a mais avançada forma de tecnologia da época), nas palavras do próprio Winston Churchill, também britânico, Hobsbawm não esconde o seu impulso contra o ex-sapateiro georgiano, introduzindo-o como um "autocrata de ferocidade, crueldade e falta de escrúpulos exepcionais que para muitos eram "únicas"2. Essa visão, entretanto, pode ser facilmente refutada por uma série de autores que vai desde sua filha Svetlana na consagrada obra "Vinte cartas a um amigo", até o historiador Simon Sebag Montefiore(também britânico), autor de "O jovem Stalin", livro que fora sucesso de vendas na Europa ao demonstrar um lado desconhecido do líder soviético, um poeta do Cáucaso. Deve ser lembrado aqui que esse mesmo senhor Montefiore, em uma de suas obras, insinua que "a mãe de Stalin era prostituta, uma vez que era muito pobre e provavelmente não vivia bem apenas lavando roupas"(em poucas palavras, para S. Montefiore, Stalin era literalmente um "filho da puta"), tal era o seu elitismo3.

A idéia de que "Stalin era um ditador"(termo que Hobsbawm substitui por "autocrata" para não cair em clichê), é objeto de onanismo político dos defensores do liberalismo econômico, do conservadorismo político e de outras idéias da classe dos exploradores do povo, além de ser objeto também de onanismo político da extrema-esquerda, que para Lenin era uma "doença infantil do comunismo"4. A idéia do "Stalin ditador absolutista", entretanto, é tão realista quanto um cavalo alado ou um leão falante, já foi esclarescida num diálogo de Stalin com Eugene Lyons5, que o entrevistou pessoalmente, e refutada por autores como William Bland, que estudou seu governo e até sua personalidade baseado no testemunho de pessoas que estiveram com ele. Os estudos de Bland demonstram que Stalin, premier soviético, tinha um poder menor do que o do Presidente dos Estados Unidos, no governo soviético. Enquanto este era o secretário-geral do PCUS e chefe do governo soviético(mas não de Estado), o soberano americano executava as duas funções. Essa limitação do poder de Stalin é mais tarde reconhecida inclusive por Harry Truman, líder americano, que durante as negociações relativas às áreas de influência na Europa mencionava que não se podia adotar por parâmetro as "decisões do Tio Joe"(nota: Stalin)6, em razão deste ser um "prisioneiro do Politburo". Essa versão é corroborada pelo professor Grover Furr, dos Estados Unidos, ampliada num debate com um professor do Reino Unido que deu origem a um importante texto a respeito, mostrando as limitações do governo de Stalin7. Este mesmo professor, em "Stalin e a luta pela reforma democrática"8, apresenta várias limitações da autoridade do líder georgiano e até apresenta um fato ignorado por praticamente todos os estudiosos do premier soviético, uma proposta sua de eleições diretas para os postos do governo soviético a ser incluída na Constituição de 1936, vetada pelos outros membros do Politburo. Grover Furr, tomando por base os estudos de um renomado historiador russo, o Dr. Yuri Júkov, alega ser uma mentira o mito de Stalin como "ditador todo-poderoso". Ainda, o líder albanês Enver Hodja afirmou que "Stalin não era um tirano, um déspota", mas "um homem de princípios"9. Sidney e Beatrice Webb, em "Soviet Communism: A New Civilisation", também rejeitam a idéia de que o Estado Soviético era governado por uma só pessoa10. 

Um dos poucos pontos positivos da obra de Hobsbawm está em seu reconhecimento do surgimento de uma nova sociedade surgida com as idéias dos bolchevistas na União Soviética. Na foto, uma parada cívica de atletas soviéticas nos anos 30.

Refutada a idéia do "Stalin autocrata", é necessário questionar, investigar e fazer conclusões sobre a idéia do "Stalin cruel", adotando uma corrente que nada tem de "stalinista", mas de racionalista, mais próxima de Voltaire do que de Stalin. A imagem deste "Darth Vader vermelho", vendida por historiadores como Hobsbawm, cujo impulso antistalinista o leva a extremos, foi objeto de estudo do marxista-leninista britânico William Bland. Em seu documento "O culto do indivíduo"11, Bland demonstra que segundo o líder albanês Enver Hodja "Stalin era modesto e bastante gentil com as pessoas, os quadros e seus colegas", e segundo o embaixador dos Estados Unidos na União Soviética, Joseph Davies, citado no trabalho de Bland, Stalin era um homem simples, de gestos agradáveis. Contrastando ainda com essa imagem, a filha do próprio Stalin, Svetlana Alilulyeva, descreve o líder soviético como um pai atencioso, amável. Segundo Georgiy Júkov, Marechal da União Soviética, "Stalin conquistava o coração de todos com quem conversava"12. Como se não bastassem essas declarações, o "cruel Stalin" jamais ordenara a prisão de Mihail Bulgákov, um escritor que pensava diferente do Estado Soviético e lhe era crítico, apreciava o talento de Maria Yudina, pianista considerada louca na URSS mas admirada por Stalin, e tinha por um de seus hobbies não a caça ou a pescaria, mas tão somente plantar árvores ou plantas de jardim, características incomuns num "sujeito cruel". Para alegar que "Stalin era cruel" é necessário comprovar tal alegação, por exemplo, com algum documento de Stalin que demonstrasse atos de crueldade, documentos que inexistem, tornando a alegação de Hobsbawm pura sofistaria.13

Stalin, segundo Eric Hobsbawm


Não bastasse o impulso anti-Stalin de Hobsbawm, de dar inveja a qualquer propagandista do III Reich, Hobsbawm chega a mais um extremo ao alegar que "poucos homens manipularam o terror em escala mais universal". É questionável o porquê de Eric ter adicionado esta descrição, será que chamar de "cruel e autocrata" já não era suficiente para o britânico? É de se supor que esta afirmação tenha sido inserida como forma de "blindar" o autor de A Era dos Extremos contra possíveis alegações de "stalinista" por parte de seus editores ou mecenas burgueses. Um elogio de Hobsbawm ao Banco Mundial no referido livro pode ser indicativo de uma de suas fontes de financiamento. É comum que certos indivíduos confundam "amor a uma coisa" com "ódio por outra", usando-se do ódio como forma de demonstrar "apreço" por uma outra coisa, como Hitler na Alemanha, que sendo austríaco, usava o ódio contra eslavos, negros e judeus como forma de demonstrar um suposto "amor" pelo país, ou como o marido que bate na esposa como forma de mostrar que "a ama". Mais uma vez, essa tentativa desesperada de Hobsbawm de doutrinarnos com sua sofistaria através de uma linguagem de ódio vai por água abaixo ante os estudos do Dr. Yuri Júkov e do professor Grover Furr. Mesmo o discurso de Nikita Hruschov no XX Congresso do PCUS, que talvez conferissem alguma legitimidade ao historiador britânico foi provado como falso pelo professor americano em sua obra "Hruschov lied", que demonstra que 60 das 61 acusações de Hruschov em seu discurso no referido congresso são falsas, discurso que, diga-se de passagem, é ignorado por Eric Hobsbawm, mesmo sendo um dos discursos mais importantes do século XX, sua obra carece de qualquer investigação séria desse discurso e de sua veracidade. O professor Grover Furr, responsável por investigar e desmascarar o discurso fraudulento de Hruschov, demonstra como falsa a idéia de Stalin como "todo poderoso soviético", demonstrando que esse não exercia controle sobre o NKVD, órgão para a defesa da Revolução Bolchevique que nos anos 30 cometera sérios abusos de poder sob a direção de Genrih Yagoda e Nikolay Yejov, ambos exonerados, processados, julgados, condenados e executados, sendo este último substituído por Lavrenti Beria.

Fazendo o papel de pícaro do marxismo a serviço de forças reacionárias, Hobsbawm descreve o crescimento do sistema soviético como o resultado de uma "força de trabalho de 4 e 13 milhões de pessoas prisioneiras(os gulags)", citando Van der Linden. Essa cifra absurda já foi contestada por uma vasta gama de autores e refutada pelos documentos desclassificados na época da Glasnost e assinados pelo Procurador-Geral da União Soviética R. Rudenko, o Ministro do Interior S. Kruglov e o Ministro da Justiça K. Gorshenin, que demonstram o número de cerca de 2 milhões de presos na URSS, um número inferior em termos absolutos e proporcionais ao número de presos nos EUA(que por volta de 2006 era de 7 milhões). Essa mesma tabela divulgada pelo governo anticomunista de M. Gorbatchov fora divulgada pelo sueco Mário Sousa14, por Alexander Dugin, Zemskov e Ludo Martens. Ela é a prova de que autores como Hobsbawm e outros de sua camarilha mentem deliberadamente quando o assunto é "União Soviética", algo que não se atrevem a fazer quando falam de seus próprios países, responsáveis pela morte de milhões de pessoas ao redor do mundo. Estima-se que a Grã-Bretanha, país de Hobsbawm, tenha provocado deliberadamente uma grande fome na Índia que matou cerca de 30 milhões de pessoas. Curiosamente, sua soberana, a Rainha Elizabeth II e seus primeiros-ministros, não recebem nem metade dos epítetos que o historiador lança furiosamente e irresponsavelmente sobre Stalin.

Adotando uma posição reacionária, Hobsbawm atribui como causa da fome na Ucrânia em 1932-33 a "coletivização da agricultura", medida adotada para promover a justiça social no campo e evitar a figura do kulak, o historiador britânico ignora completamente o papel destes na sabotagem da agricultura, do tifo e da seca, fatores abordados e detalhadamente pesquisados pelo historiador belga Ludo Martens15. Com muito pouca objetividde, E. Hobsbawm descreve Stalin como um "homem pequenino", de "1,58", embora registros médicos o indicassem como tendo 1,71, e observações de Wallace Graham, médico de Harry Truman16, o indicasse como tendo a mesma altura de Hitler, isto é, por volta de 1,73, e fichas de informação do governo tzarista o descrevessem como tendo 1,74. Na página 386 da edição em português de seu livro, Hobsbawm, com seu anti-sovietismo e russofobia, descreve a URSS como sendo responsável pelo "saque" dos países então libertados pelo Exército Vermelho. Num ato de vilania, ele omite ao leitor que estes países libertados eram ex-aliados da Alemanha nazista que, juntos com esta, participaram do massacre de mais de 20 milhões de soviéticos, países como a Tchecoeslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária, que cujo contingente enviado para a Operação Barbarrossa ultrapassava os 300 mil homens. Falando sobre a Hungria, a propósito, Hobsbawm se atreve a defender o levante de 1956, organizado pelos partidários do fascista Horty, aliado de Hitler durante a Segunda Guerra.

Sem dúvidas, um dos pontos mais curiosos em "A Era dos Extremos" é o impulso antistalinista latente de Eric Hobsbawm, levando-o a despir-se de todo método dialético para abraçaro método maniqueísta. Poucos nomes em sua obra impregnada de subjetivismo são tão demonizados como a figura de Stalin. Nem mesmo Hitler, cujo projeto político exterminou cerca de 60 milhões de pessoas17 e incluía na sua agenda um racismo aberto, é descrito como "cruel, perverso, tirano" no livro de Hobsbawm; nem mesmo Harry Truman, cujo governo introduziu a bactéria da sífilis em mais de centenas de indivíduos para usá-los como cobaias humanas, é descrito como "perverso"; nomes como Mussolini, Margaret Tatcher e outros personagens reacionários do século XX não recebem um espaço especial para demonização como o líder responsável pela destruição de mais de 70% das forças nazistas. 

O que Eric Hobsbawn pretende e quais os seus objetivos com o seu onanismo político? Será que ele acredita mesmo que todos os seus leitores são todos tolos ou acéfalos incapazes de pesquisar a respeito de um pesonagem de tão grande importância no século XX, considerado um dos três maiores nomes da história da Rússia na pesquisa "The Name of Russia", efetuada em 2008, mesmo após anos de vilania anti-stalinista e, portanto, anticomunista? Impressiona como a sugestão de livros a respeito do socialismo real do Sr. Hobsbawn não traga sequer um só autor que examine a URSS com objetividade e sem preconceitos. É este falsificador e farsante o "grande historiador marxista"? Que "marxistas" como Hobsbawn, com seu onanismo político, sejam exaltados e gozem de excelente reputação na mídia de massa, isso é perfeitamente compreensivo, porém cabe apenas aos tolos digerir o produto de sua diarréia mental. Aquele que de fato compreende a força dos valores iluministas, a importância da pesquisa, da investigação e da conclusão buscam o conhecimento, não se acomodam com "historiadores marxistas recomendados pela mídia", eles denunciam pícaros do movimento marxista e fazem a verdade ir até o topo das montanhas, ressoar pelas paredes, eles fazem com que as nuvens façam chover essas verdades que cairão como uma espada afiada que destroça a vilania e a mentira!


Fontes:

1- HOBSBAWM, Eric J. A Era dos extremos: Breve século XX 1914-1991. 2ª edição. Tradução de Marcos Santarrita. Companhia das Letras
2- ibid., pg. 371

domingo, 28 de agosto de 2011

Arte & luta, Paul Robeson

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


Paul Robeson

Nascido Paul LeRoy Bustill Robeson no dia 9 de abril de 1898, Paul Robeson foi um ator, cantor, escritor, ativista e atleta. Sua carreira artística iniciou-se em meados da década de 20, quando decidiu abandonar o futebol americano. Na mesma época, quebrou uma série de tabus por ser o primeiro negro ao interpretar a obra de Shakespeare, Otelo. A partir daí, as portas foram abertas para os outros atores negros que surgiram ao longo dos anos, tais como Sidney Poitier e Harry Belafonte. Filho de africanos, seu pai era escravo antes de fugir e tornar-se pastor; sua mãe era membro de uma sociedade abolicionista e faleceu tragicamente quando sua casa pegou fogo, deixando o pequeno Robeson que, na época, tinha apenas seis anos de idade. Em 1915, formou-se e ganhou uma bolsa na a Universidade Rutgers, lugar onde aprendeu uma série de esportes. Posteriormente, iniciou sua carreira como jogador profissional de futebol americano e matriculou-se na Universidade de Columbia, num curso de direito.

Em 1921 , conheceu a Eslanda Cardozo Goode, com a qual casou-se no mesmo ano e teve um filho, Paul Robeson Jr.Embora já tivesse atuado em algumas peças, participado de alguns filmes, tais como Body and Soul (seu primeiro filme), Camille e Borderlie, e feito pequenas apresentações na escola, foi em 1930 no clássico de William Shakespeare, Otelo que ele consagrou-se no mundo artístico. A partir daí, foram muitos os convites feitos pelos mais renomados diretores da época, dentre eles, ressalto James Whale e a adaptação Show Boat (1936) que contava com a participação de Irene Dunne, Hattie McDaniel, Allan Jones, entre outros; segundo os críticos, essa foi a passagem mais memorável de Paul nas telas.

Vale lembrar que ao lado de Hattie, interpretou uma das canções mais divertidas do clássico. Apesar das controvérsias com o filme anterior The Emperor Jones, que não foi exibido (nos EUA) pelo fato de ter um homem negro matando um homem branco, o que para os norte-americanos era inaceitável, Paul deu continuidade a sua carreira. Aos interessados, aproveito para deixar aqui o filme completo. No final da década de 30 decidiu envolver-se com política tornando-se então um ativista conta o racismo e o fascismo. Nessa época, participou de diversos projetos e homenagens ao redor do mundo. No auge de sua carreira, ao lado de Lawrence Brown e outros músicos, interpretou a canção Ballad for Americans e impressionou a todos com sua belíssima voz.

Impedido de cantar pela patrulha anti comunista, sair do país devido a sua ficha, nada pequena, no FBI e por ter o passaporte anulado, viu-se obrigado a esperar por quase dez anos para retomar suas atividades. Em 1958 fez uma aparição no Carnegie Hall e sete anos depois, durante uma homenagem, cantou a canção We Are Climbing Jacob's Ladder. Neste mesmo ano, perdeu sua mulher e instalou-se em Filadélfia, juntamente com a irmã, onde veio a falecer no dia 23 de janeiro de 1976 aos 77 anos de idade após um AVC.

(Fonte: www.cpsr.cs.uchicago.edu/robeson/index.html)
Comentário de P. Netuno:
   Paul Robeson foi um valoroso militante comunista estadunidense e uma referência no combate ao racismo.

sábado, 27 de agosto de 2011

Líbia:rebeldes atacam negros e iniciam limpeza étnica.

     ( Negros líbios são marcados como "estrangeiros" para morrer!   

Obs:netuno) 

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Os líbios negros correm risco de uma ação de limpeza étnica por causa da determinação de apoiarem o líder Muamar Kadafi. Ao leste do país,os líbios de origem árabe ligados às elites econômicas das cidades produtoras de petróleo assimilaram a ideologia racista dos ingleses e norte-americanos,dos quais recebem treinamentos,dinheiro e armas para tentar dividir o país e permitir o roubo do petróleo pelas potências ocidentais. O alerta foi dado nesta semana pelo bispo Dom Mussie Zerai,em Roma. O bispo preside a agência de desenvolvimento e cooperação Habeshia. Ele relatou que apenas na cidade de Misrata,sob controle dos rebeldes,mais de 800 negros africanos foram assassinados.

Segundo o bispo de origem eritréia,os massacres foram relatados por refugiados africanos sobreviventes,assim que desembarcaram na Itália. Eles também trouxeram uma série de vídeos e fotografias,postadas no site da agência Habeshia,revelando episódios de extrema crueldade e fúria de rebeldes pisoteando corpos sem vida de negros africanos. Na Líbia,há dois grupos étnicos de origem não-árabe,disse dom Zerai,e o risco de que eles podem se tornar vítimas de limpeza étnica durante os confrontos sangrentos entre partidários de Kadafi e os rebeldes é muito alto. Basta ser negro para ser taxado de mercenário pró-Kadafi pelos rebeldes insurgentes. O clérigo afirmou que ainda há indiferença,apesar do aviso prévio.
Dom Zerai assim,pediu a atenção da comunidade internacional para que “os líbios negros não sejam massacrados,a exemplo de centenas de milhares de sudaneses em Darfur.”
Ele alertou para o risco de ”milhares de pessoas serem esmagadas por essa intolerância que está se espalhando nos territórios ocupados pelos rebeldes”. Na opinião do bispo,os autores destes assassinatos e atos violentos são os rebeldes anti-Kadafi. Dom Zerai perguntou ”quem garante a civilidade dos novos senhores da Líbia,defendidos pela Europa? Precisamos a todo custo evitar um novo genocídio no continente africano.”
Nas últimas semanas outras organizações tem denunciado diversos massacres contra a população negra do leste da Líbia. Esses massacres só tem sido possíveis graças ao apoio militar e financeiro que os países invasores prestam aos grupos rebeldes.
FacebookDeliciousLinkedInNetlogOrkutEmail Fonte: Lúcio Júnior / Boletim Eletrônico
  Matéria de Junho-2011

Rússia capitalista & estatísticas amargas.

Agitador: intercâmbio de experiências

20 anos sem a União Soviética. A Rússia ficou em primeiro lugar mundial em termos de tráfico de seres humanos. O que nos trouxe a "Rússia Unida"?


2011/08/26 19:24
agitação e departamento de propaganda do Partido Comunista Regional Novosibirsk
No 20 º aniversário da destruição da União Soviética, Novosibirsk Departamento Regional do Partido Comunista emitiu uma campanha de folheto que demonstram o que levou o país ao poder dos oligarcas e os anos do "capitalismo selvagem":
Este ano marca 20 anos desde o colapso da União Soviética. A URSS era uma sociedade justa, livre de cuidados de saúde, a educação acessível, a confiança no futuro. Agora é hora de avaliar o resultado do actual regime que rege o país.
RECORDS "Rússia Unida"
Hoje, a Rússia tem o primeiro lugar NO MUNDO:
■ o nível de homicídios;
■ o número de fumo por crianças e adolescentes;
■ o número de subornos para a admissão às universidades;
■ taxas de crescimento do tabagismo;
■ em acidentes rodoviários;
■ A mortalidade por suicídio entre adolescentes de 15-19 anos;
■ o valor absoluto do declínio da população;
■ o número de suicídios entre os idosos;
■ o número de divórcios eo número de crianças nascidas fora do casamento;
■ o número de crianças abandonadas por seus pais;
■ A mortalidade por doenças do sistema cardiovascular;
■ o número de pacientes com doenças da mente;
■ o volume de tráfico de pessoas;
■ o número de abortos e mortalidade materna;
■ o volume de heroína (21% da produção mundial);
■ consumo de bebidas alcoólicas e de álcool;
■ Vendas de espíritos;
■ na taxa de crescimento do HIV-positivos;
■ o número de acidentes (13 vezes a média mundial);
■ o número de bilionários que são perseguidos por agências de aplicação da lei;
■ o número de acidentes rodoviários;
■ importar carne de canguru da Austrália.

SEGUNDO LUGAR PERTENCE EDINOROSSOVSKOY RÚSSIA:
■ o nível de burocracia;
■ o número de bilionários (após os EUA);
■ o número de suicídios (após Lituânia);
■ o número de homicídios per capita (depois da Colômbia);
■ a divulgação de medicamentos falsificados (depois da China);
■ produção pornô volumes;
■ o número de crianças adotadas em os EUA;
■ sobre o número de migrantes;
■ o número de presos em 1000 (após os EUA);
■ o número de pessoas que procuram asilo no Ocidente (depois Sérvia);
■ o número de jornalistas assassinados nos últimos dez anos (depois do Iraque).

E aqui é o que coloca RANKS RUSSO NO MUNDO:
■ 3 º lugar no número de refugiados;
■ posição 3 no fluxo de migrantes;
■ 3 pelo número de seitas totalitárias;
■ 27 º lugar no mundo para a qualidade da educação;
■ 32 º lugar no ranking ambiental dos países;
■ lugar 43 da competitividade da economia mundial;
■ lugar 62 no mundo em termos de desenvolvimento tecnológico (entre Costa Rica e no Paquistão);
■ 65 no mundo para os padrões de vida;
■ 71 lugares no mundo em termos de desenvolvimento humano;
■ 72 do mundo avaliado gastos do Estado por pessoa;
■ 97 em renda per capita;
■ 111 no mundo para a expectativa de vida;
■ 127 lugares no mundo como uma saúde pública;
■ 175 no mundo em termos de segurança física dos cidadãos
Será que as pessoas comuns, de tal "controle" um país não tem futuro. A única maneira - para alterar o poder de "Rússia Unida"!
Muitas partes, com o povo - o Partido Comunista!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Líbia: O avanço da cruzada da morte & da mentira.

Imprimir PDF AGRESSÃO IMPERIAL ACLAMADA COMO VITÓRIA POPULAR

imagemCrédito: ODiario.info
Nota dos Editores
A entrada em Tripoli dos bandos do auto denominado Conselho Nacional de Transição e a ocupação da residência e quartel general de Muamar Kadhafi foram aclamados pelo presidente Obama, os governos da União Europeia e as media ocidentais como desfecho da cruzada libertadora da Líbia e vitória da democracia e da liberdade sobre a tirania e a barbárie.
Poucas vezes na Historia a desinformação cientificamente montada ao serviço de ambições inconfessáveis terá tido tanto êxito em transformar a mentira em verdade, ocultando o significado da agressão a um povo.
Desde o inicio em Março dos bombardeamentos selvagens a Tripoli, a oratória farisaica de Obama, Sarkozy e Cameron funcionou como cobertura de um projecto imperial que, sob o manto de pretensa «intervenção humanitária destinada a proteger as populações», tinha como predestinado objectivo tomar posse do petróleo e do gás, bem como dos importantes activos financeiros do estado Líbio.
Planearam o crime com muita antecedência. A «insurreição» de Benghazi foi preparada por agentes da CIA; comandos britânicos treinaram uma escória de mercenários armada pelos EUA e pela Grã-bretanha; a chamada Zona de Exclusão Aérea não passou de um slogan para facilitar a passagem pelo Conselho de Segurança e iludir o propósito da subsequente intervenção militar; a anunciada não participação da Força Aérea Americana, nos primeiros dias dos bombardeamentos, foi só uma farsa porque a OTAN, que assumiu a direcção da guerra, é um instrumento dos EUA por estes controlada, e porque as próprias forças aeronavais estado-unidenses interviriam activamente nos bombardeamentos e na guerra cibernética.
Mas as coisas não correram como eles desejavam. Os «rebeldes» somente entraram em Tripoli transcorridos seis meses. As suas vitórias foram forjadas pela comunicação social. A OTAN acreditava poder repetir o que aconteceu na Jugoslávia, onde os bombardeamentos aéreos forçaram Mihailovich a capitular. Kadhafi resistiu, apoiado por grande parte do povo líbio. Independentemente do balanço que se faça da sua intervenção na Historia em quatro décadas de poder absoluto,  Muamar Kadhafi resistiu com bravura à agressão desencadeada pelas maiores potencia militares Ocidentais. A tropa fandanga do CNT foi um exército ficcional que somente avançava à medida que as bombas da OTAN reduziam a ruínas as infra-estruturas líbias. Milhares de civis líbios foram massacrados nesta guerra repugnante.
Nos últimos dias, uma orgia de violência irracional atingiu Tripoli. O bombardeamento sónico, para aterrorizar a população, coincidiu com as bombas que caíam do céu. Os invasores submeteram a cidade a um saque medieval, matando, saqueando, violando, num cenário de horror. Os media europeus e norte americanos difundiam noticias falsas. A bandeira da corrupta monarquia senussita foi hasteada em Terraços donde «rebeldes» disparavam sobre o povo.
Os muitos milhares de milhões de dólares do povo líbio depositados na banca internacional foram confiscados pelos governos ocidentais.
Mas, para frustração de Washington e seus aliados, a resistência prossegue enquanto que o paradeiro de Kadhafi e outros responsáveis líbios, que não se submeteram, é desconhecido.
Sobre o CNT, um saco de gatos mascarado de governo provisório, chovem agora felicitações.
Cavaco Silva e Passos Coelho, obviamente, associaram-se a esse coro da desvergonha, cumprindo o seu papel de pequenos sátrapas coloniais.
Os Editores de odiario.info

terça-feira, 23 de agosto de 2011

OTAN bombardeia e mata; "rebeldes " tiram fotos...

É a OTAN que faz todo o trabalho militar, não os rebeldes

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imagemCrédito: Resistir.info

Thierry Meyssan, Entrevistado por Silvia Cattori
Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Tripoli está em vias de colapso. Qual é a vossa opinião?
Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo à insurreição. Neste momento grupos armados começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a OTAN trouxe um barco até as proximidades de Tripoli, do qual foram desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas vão cada vez pior.
Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?
Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.
Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças especiais"?
Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o princípio, são eles que fazem tudo.
Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?
Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos os membros deste cortejo refugiaram-se no hotel Rixos, onde reside a imprensa internacional e onde por acaso me encontro eu.
A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do hotel.
As forças entradas em Tripoli desde ontem não tomaram nenhum edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício ocupado. A OTAN bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece encerrada na sua casa.
Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há electricidade e água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.
Silvia Cattori: Quantos assaltantes cercam vosso hotel neste momento?
Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar Tripoli. Mas se há outras tropas da OTAN com eles sim, isso muda tudo, o perigo torna-se grande.
Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para o ar e que não parecem profissionais...
Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não são formados militarmente. É pura encenação, não é realidade. A realidade é que todos os combates são travados pela OTAN; e quando seu objectivo é atingido as tropas da OTAN retiram-se. Então chegam pequenos grupos – vê-se de cada vez uma vintena de pessoas – mas na realidade nunca são vistos em acção. A acção são as forças da OTAN.
Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdidas, retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças da OTAN que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo. Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a OTAN que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os rebeldes" fazer a figuração. É isso que você vê difundido nas cadeias de TV.
Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?
Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em Tripoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que haja células combatentes no interior é perfeitamente provável. Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a proporção do enquadramento pelas forças da OTAN. A verdadeira questão é saber quantas forças especiais já foram colocadas.
Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.
Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?
Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram completamente em pânico. É um pânico geral.
Silvia Cattori: E você como se sente?Thierry Meyssan

Entrevistado por Silvia Cattori

Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!
Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados no hotel?
Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.
Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a guerra há sempre um bom número deles que faz informação, que são agentes duplos, espiões...
Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles não sabem tudo.
Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros está pronto. Eles vão poder sair...
Thierry Meyssan: A Organização de Emigração Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de Tripoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa, prioritárias neste caso.
Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?
Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não entrou no porto. É a OTAN que o impede de atracar. Quando a OTAN o autorizar será feita a evacuação.
Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?
Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da OTAN. São combatentes pertencentes às forças especiais da OTAN que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair rapidamente...
Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?
Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira. Em Tripoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e munições. Houve um treino nestes últimos meses.
Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em condições de sair para manifestarem-se contra as forças da OTAN?
Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de toda a parte; e além disso bombardeia-se.
Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil. Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por ter contraditado suas versões dos factos!
Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas estado-unidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas intenções.
Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?
Thierry Meyssan: Sim, na presença de (...)
Entrevista realizada a partir de Tripoli em 21/Agosto/2011/23h00.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Bolívar, soberania X Tudo por $: Lula !!

“A América Latina não precisa mais da espada de Bolívar; precisa de crédito" (Luiz Inácio Lula da Silva)

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imagemCrédito: mercopress

*Paulo Schueler
Em recente viagem a Bogotá, durante evento organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o ex-presidente Lula afirmou que “A América Latina não precisa mais da espada de Bolívar; precisa de crédito".
A frase, que já representaria uma afronta à manutenção da soberania de nossos povos em um momento de exacerbação da crise do capitalismo, crise energética mundial, que traz o cenário nem tão longínquo de disputa por fontes de água potável e agressão imperialista, torna-se ainda pior com o anúncio, quase simultâneo, de que Brasil e Colômbia assinaram acordo militar para “monitoramento” das fronteiras comuns – meses após Brasília ter assinado acordo de cooperação militar com Washington e com a demonização crescente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e de sua forma de atuar na luta de classes colombiana.
A América Latina, continente no qual a mobilização popular de alguns povos levou às eleições de governos progressistas na Venezuela, Bolívia, Equador e Peru; território que detém o Aquífero Guarany e amplas reservas comprovadas de petróleo e minérios, local onde está localizada a maior floresta tropical do planeta e seu incalculável estoque de biodiversidade, precisa talvez como em poucos momentos de sua história ter em punhos a espada de Bolívar, assim como o legado de José Marti, para se defender da possibilidade crescente de intervenção externa em seus destinos – cujo maior exemplo, aliás, é a interferência de Washington sobre a vida dos trabalhadores da Colômbia.
Integração para o capital...
No evento organizado pelo BID, Lula afirmou que é o momento de nós latino-americanos “pensarmos em nós mesmos” para uma platéia de 500 empresários e altos funcionários da Colômbia e do Brasil.
Entre eles, o ministro das Comunicações do Brasil, os governadores de Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco, e empresário Marcelo Odebrecht (Odebrecht) e José Sergio Gabrielli (Petrobras), além de Luis Carlos Sarmiento (Grupo Aval), Germain Efromovich (Avianca) e Carlos Raul Yepes (Bancolombia).
Falava não de nossos povos, mas das possibilidades de exploração do trabalho que deveriam ser abertas às burguesias dos dois países. Não à toa, deu o “caminho das pedras” aos empresários presentes: grandes investimentos devem ser feitos em barragens, usinas hidrelétricas, estradas, oleodutos, nos biocombustíveis e no setor automotivo. Segundo ele, nisso “repousa a integração”.
Ao defender “crédito”, Lula na verdade solicitou que os Estados nacionais do continente financiassem a manutenção e elevação do lucro de grupos empresariais ligados a estes setores, como o BNDES brasileiro já faz com empreiteiras e montadoras. Foi o ventríloco mercador de interesses privados, remunerado por isso a preço de ouro em suas recentes e já famosas “palestras” ao mundo empresarial.
A “integração” que deseja é a citada pelo banqueiro Luis Carlos Sarmiento, que deseja um Tratado de livre comércio entre os dois países e a possibilidade de o empresariado colombiano se associar à Bovespa, bolsa de valores brasileira, para “abrir caminho para o mercado de capitais”.
O pior é que tais negociatas já começaram: a Petrobras vai investir 430 milhões dólares na Colômbia, e em 2012 começará a perfuração de um poço no Caribe colombiano. A companhia brasileira objetiva ainda comprar uma participação na Ecopetrol colombiana. Na Colômbia, a Petrobras já tem uma produção de 40 mil barris diários de petróleo em 16 blocos.
Já Sarmiento iniciou visitas e contatos com os bancos brasileiros Bradesco e Itaú para “importação” de estratégias na gestão de tecnologia, além, é óbvio, da estratégia de ferrenha exploração do trabalho, como ocorre com os bancários brasileiros. Não apenas dos bancos privados. Presente ao evento em Bogotá, o vice-presidente de Negócios Internacionais do Banco do Brasil (BB), Allan Simões Toledo, afirmou que o BB instalará seu escritório de representação naquele país em 2012.
... e repressão aos lutadores
Poucos dias depois do convescote burguês, os governos do Brasil e da Colômbia assinaram em Tabatinga (Amazonas) acordo para realizar ações conjuntas e coordenadas na fronteira comum, com a criação da Comissão Binacional Fronteiriça (Combifron) e a adoção do Plano Binacional de Segurança Fronteiriça.
Trata-se de uma indisfarçada estratégia de apoio militar brasileiro à repressão da insurgência colombiana, em colaboração com o exército da Colômbia e sua chefia imediata – o imperialismo norte-americano.
Apesar do discurso no lado brasileiro da fronteira ser de controle da segurança nacional, o discurso do ministro da Defesa colombiano, Rodrigo Rivera, não deixa dúvidas: “Será compartilhada inteligência e experiência entre as forças dos dois países, e serão realizadas operações coordenadas entre os militares e os organismos de segurança contra as ameaças, cada um em seu território. O mundo deveria condenar as Farc pela depredação de nossas selvas para suas atividades criminosas”, declarou Rivera.
Palavras do lacaio sobre o uso do “agente laranja” pelos EUA? Obviamente que não.
*Paulo Schueler é membro do Comitê Central do PCB e editor do Imprensa Popular

domingo, 21 de agosto de 2011

Arte: Portinari na internet e para todos

 

3/11/2010
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Pesquisador das áreas de engenharia de telecomunicações e de matemática, João Candido Portinari deixou a carreira acadêmica de lado há 35 anos, quando decidiu se dedicar integralmente a um projeto grandioso: localizar, digitalizar e catalogar as mais de 5 mil obras de seu pai, Candido Portinari (1903-1962), um dos principais artistas brasileiros.
O Projeto Portinari conseguiu disponibilizar em forma digital praticamente toda a obra do artista. De acordo com João Candido, a iniciativa é uma forma de corrigir uma consequência perversa da importância e do reconhecimento da obra de seu pai: com a maior parte de seus quadros dispersa em coleções privadas de todo o mundo, o pintor que dedicou sua vida a retratar o povo tem sua obra inacessível ao público geral.
Depois de 20 anos de pesquisas, qualificadas por João Candido como “um verdadeiro trabalho de detetive”, toda a obra foi catalogada. Nos últimos 13 anos, o Projeto Portinari tem divulgado a obra do pintor por todo o Brasil, realizando exposições itinerantes em comunidades afastadas, com foco especial nas crianças.
O próximo passo do projeto será grandioso: trazer de volta ao Brasil, temporariamente, a obra Guerra e Paz: dois painéis de 14 metros de altura que foram concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas, em Nova York.
Com a sede passando por uma grande reforma, o Projeto Portinari conseguiu a guarda dos dois painéis até 2013. A obra, concluída em 1956, foi a última de Portinari e causou sua morte. Durante os cinco anos em que trabalhou nos painéis de 140 metros quadrados, o pintor já estava intoxicado pelo chumbo das tintas a óleo. Ele morreria no início de 1962 em decorrência do envenenamento.
Considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra, os painéis de Guerra e Paz serão apresentados em dezembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cidade onde foram apresentadas ao público brasileiro por uma única vez antes de serem embarcados para os Estados Unidos, há 53 anos. Em seguida, serão submetidos a uma restauração que poderá ser acompanhada pelo público, em processo que levará alguns meses. Após o restauro, passarão por diversas cidades, acompanhados de 120 estudos preparatórios executados por Portinari entre 1952 e 1956.
No dia 21 de outubro uma exposição com reproduções das 25 obras de Portinari que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada na sede da Fundação, em São Paulo. Na ocasião, João Candido concedeu à Agência FAPESP a seguinte entrevista:

Agência FAPESP – O Projeto Portinari fez a digitalização de praticamente todas as obras de seu pai. Quais foram as dificuldades encontradas para realizar o levantamento de uma obra tão extensa?

João Candido Portinari
– De fato é uma obra extensa. Conseguimos catalogar mais de 5 mil obras. Esse número correspondia à estimativa que tínhamos, antes de iniciar o trabalho, de que ele teria produzido um trabalho a cada três dias, em média, durante cerca de 40 anos, incluindo os grandes painéis e murais que levavam vários meses ou anos para ser realizados. Quando começamos o levantamento, a situação era dramática, pois o paradeiro da maioria das obras era desconhecido, não havia nenhum museu, nenhum catálogo e os livros sobre sua vida e obra estavam esgotados.. Foi um trabalho de detetive que consumiu muitos anos, porque se trata de uma obra dispersa não só em coleções privadas do Brasil, mas em vários países. Encontramos obras nas Américas, na Finlândia, na antiga Tchecoslováquia, no Canadá, na África do Sul, em Israel, no Haiti e em muitos outros países.
Agência FAPESP – Quanto tempo levou esse processo?
João Candido
– Essa fase de atividade de rastreamento, localização, catalogação e digitalização consumiu inteiramente os primeiros 20 anos do projeto. Foi uma aventura que só teve sucesso graças à solidariedade da sociedade brasileira. Esse trabalho imenso não se restringiu apenas ao levantamento das obras, conseguimos também reunir mais de 30 mil documentos.
Agência FAPESP – Qual é a natureza dessa documentação?
João Candido
– Todo tipo de documento, incluindo 9 mil cartas que Portinari trocou com intelectuais e artistas de sua época, como Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Luís Carlos Prestes, Heitor Villa-Lobos, Cecília Meirelles, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros. É um tesouro extraordinário. Além disso, temos 12 mil recortes de periódicos que vão de 1920 até os dias de hoje. Além de compilar esse material, também produzimos novos documentos. Fizemos um programa de história oral que, ao longo de anos, entrevistou 74 contemporâneos de Portinari. Disso resultaram 130 horas gravadas em vídeo, que não se restringem a comentar sobre Portinari ou arte, mas também abordam preocupações estéticas, culturais, sociais e políticas daquela geração. Tudo isso está consubstanciado em um site, onde qualquer um pode encontrar toda a documentação.
Agência FAPESP – O Projeto Portinari tem uma sede física ou se concentra no universo virtual?
João Candido
– Nossa sede fica na PUC-RJ, no Rio de Janeiro, mas você tem razão em dizer que se trata de algo primordialmente virtual. O projeto poderia estar em qualquer lugar, pois não temos nenhuma obra original, apenas reunimos os conteúdos e a pesquisa sobre o artista. Projetamos criar, no futuro, um Museu Portinari, no qual o público pudesse ter contato, em um só lugar, com toda a obra do artista. Faríamos isso com reproduções impressas em alta definição. Avaliamos que reunir reproduções de alta qualidade das 5 mil obras sairia mais barato do que fazer um museu com apenas dez obras originais. Foi o que a FAPESP fez com a exposição de reproduções atualmente em sua sede.
Agência FAPESP – Podemos dizer que, em relação ao tamanho de sua obra, Portinari é pouco conhecido?
João Candido
– Sim, essa foi uma das principais motivações para o projeto e é também o que nos inspira o sonho de um dia ter um Museu Portinari. Meu pai dizia que sua obra era dedicada ao povo, mas o destino dela foi vítima de uma ironia perversa: hoje, o povo não tem acesso à sua obra, que está dispersa em coleções privadas e museus em várias partes do planeta. Isso motivou o questionamento de Antonio Callado: "segregado em coleções particulares, em salas de bancos, Candinho vai se tornando invisível. Vai continuar desmembrado o nosso maior pintor, como o Tiradentes que pintou?".
Agência FAPESP – Com a conclusão da catalogação e digitalização das obras, o Projeto Portinari cumpriu sua missão?
João Candido
– Não, pelo contrário, consideramos que o verdadeiro trabalho começou a partir do momento em que tivemos todos os conteúdos levantados, catalogados, cruzados entre si e pesquisados minuciosamente. Desde então, passamos a desenvolver uma série de ações. A mais importante delas é o trabalho com crianças, realizado nos últimos 13 anos: o Brasil de Portinari.
Agência FAPESP – Como é desenvolvido esse trabalho?
João Candido
– Percorremos escolas, centros culturais e prefeituras em todos os estados brasileiros. Visitamos também hospitais, populações ribeirinhas e presídios. Mas a prioridade é apresentar o trabalho às crianças. Realizamos, por exemplo, uma excursão no Pantanal recebendo crianças para uma exposição em um barco. Em 2009, fizemos uma parceria com a Marinha e percorremos o Amazonas e seus afluentes, ficando 19 dias no rio Purus. Nos navios, moradores de povoados muito precários têm contato com a obra de Portinari e recebem assistência médica e odontológica, tiram documentos, entre outras atividades.
Agência FAPESP – Como é a reação das crianças?
João Candido
– Às vezes as crianças têm uma percepção visual bem mais aguçada que a dos adultos. Eles se envolvem muito e entendem imediatamente o que diz o pintor. O resultado tem sido de um sucesso extraordinário. Procuramos incentivar a criança a uma reflexão crítica sobre a realidade do mundo. A ideia é colocá-los em contato com a obra de Portinari e sua poderosa mensagem de não-violência, de fraternidade, de solidariedade, de compaixão e de respeito pelo sagrado da vida. Nada disso seria possível com uma obra que não tivesse a força do trabalho de Portinari.
Agência FAPESP – Podemos dizer que a força do trabalho de Portinari vem da preocupação com a questão social?
João Candido
– Sim e isso é muito interessante. O trabalho do meu pai foi caracterizado por um experimentalismo incessante – a ponto de críticos dizerem que em sua obra há uma dezena de pintores diferentes. Mas a temática é sempre a mesma: a profunda preocupação social. Ele foi mudando o estilo e a forma de expressão. Dava importância à técnica, dizia que sem ela é impossível expressar o que vai na alma, mas destacava que seu tema era o homem. Está presente invariavelmente em sua obra esse desejo profundo de solidariedade e de compaixão.
Agência FAPESP – O excluído é o personagem central da obra do pintor?
João Candido
– O excluído é um personagem absolutamente central. Ele vivia em uma região cafeeira do interior paulista que era passagem de retirantes que vinham do Nordeste. Isso impressionou de forma indelével as retinas daquele menino que presenciou a tragédia das famílias que viajavam em condições desumanas. Essa experiência despertou nele, de forma muito precoce, um sentimento de solidariedade incondicional com o excluído. Eu diria que esse sentimento solidário – e de revolta e denúncia contra a violência e as injustiças – é uma das características mais fundamentais para compreender Portinari. Esse foco na exclusão encontraria sua síntese máxima em sua última obra, os monumentais painéis Guerra e Paz. Ali, o excluído é a espécie humana inteira, submetida ao flagelo da guerra e excluída da paz.
Agência FAPESP – Quais são os outros temas importantes em Portinari?
João Candido
– A partir desse eixo da preocupação com a exclusão social, a temática dele é muito abrangente, abordando questões universais e trazendo também um grande retrato do Brasil. Algo que pouca gente sabe, por exemplo, é que Portinari foi um dos maiores pintores sacros do mundo. É extraordinário como pintou tantas vezes o Cristo e as cenas bíblicas. Uma produção sacra que levou Alceu Amoroso Lima – grande pensador católico – a levantar um intrigante paradoxo: como um pintor comunista como Portinari fazia a pintura sacra com tanto fervor.
Agência FAPESP – Trata-se de fato de um paradoxo?
João Candido
– O próprio Amoroso Lima concluiu que não havia paradoxo quando foi a Brodowsky, cidade natal de Portinari, visitar sua casa. Conhecendo a mãe, a avó e as tias do pintor, compreendeu que se tratava de uma típica família matriarcal italiana, de católicas fervorosas. E percebeu que não havia contradição: Portinari era um homem de um misticismo ancestral e nunca abandonou isso. Ele se recusou a seguir as diretivas do Partido Comunista Russo, de que os pintores socialistas deviam seguir os cânones do realismo socialista. Luis Carlos Prestes, que era seu amigo, teve a grandeza de perceber essa dimensão e não fazer qualquer restrição ao meu pai no Partido Comunista.
Agência FAPESP – Além da temática religiosa, o que é mais presente em sua obra?
João Candido
– Por tomar para si o partido do desfavorecido, Portinari se tornou um dos maiores pintores de negros das Américas. Isso foi dito por Assis Chateaubriand, que escreveu um texto sobre a presença da África na obra de meu pai: "Portinari é o maior e mais fantástico pintor de negros que ainda viu a espécie humana. Ele sente a África com sua magia, os seus mistérios, a sua volúpia, como nenhum outro artista do pincel". A infância também é um tema recorrente. A infância está em sua obra poética, lírica. Porque é uma infância do interior do Brasil, que, apesar de ser pobre é passada sob as estrelas, no mato, brincando na rua, com animais. Isso está na obra dele de forma riquíssima, impregnada de poesia. Outro elemento é o trabalho. O trabalhador é um tema que percorre toda a sua trajetória. Tudo isso foi abordado de uma forma que apresenta sempre uma dialética entre o drama e a poesia, entre a fúria e a ternura e entre o trágico e o lírico. Em qualquer ponto da trajetória de Portinari veremos essa dialética.
Agência FAPESP – O senhor é pesquisador do ramo de engenharia de telecomunicações. Como foi sua carreira acadêmica? Ainda atua na área?
João Candido – Estudei matemática na França e lá prestei concurso para escolas de engenharia e me formei em telecomunicações. Fiz o doutoramento no Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), ainda na área de engenharia elétrica, mas já com meu interesse todo voltado, novamente, para matemática. Terminando o doutoramento, depois de dez anos fora do Brasil, em 1966 fui convidado pela PUC do Rio de Janeiro para ajudar a criar seu Departamento de Matemática. Eu tinha 28 anos. No ano seguinte fui diretor do departamento e fiquei 13 anos totalmente absorvido na pesquisa, ensino e administração. Em 1979 concebemos o Projeto Portinari. Rapidamente vi que seria impossível conciliar as duas atividades, porque o projeto ia se desdobrando e, infelizmente, tive que abrir mão da matemática.

Fonte: Agência FAPESP
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