quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Iraque: Tática de espera dos EUA ou armadilha para Irã e Síria?

Global Research, 23/06/ 2014
Syrie-Irak terrorisme
1. Doutor Harba, o senhor disse que a invasão do Iraque pelos bandos “daechistas”, ou seja dos membros do EIIL, “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” seria uma consequência da resistência da Síria durante os últimos três anos e que Daech depois de ter fracassado na Síria, tinha se deslocado ao Iraque. Por sua parte Daech então teria dito claramente que os que eles estavam a ajudar representavam o ponto de partida para uma efetiva construção do “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”. Agora, se eles nunca tivessem ido ao Iraque, até quando o Iraque conseguiria evitar a divisão do país e/ou uma guerra confissional? No caso de uma guerra confissional no Iraque, não se poderia recear que isso teria uma repercussão na Síria? Depois, o senhor aceita ou partilha a análise dos que pensam que se trata principalmente de um golpe contra o Irã?       
Os que apoiam o terrorismo na Síria são os mesmos que o apoiam no Iraque e isso eles o fazem utilizando os mesmos meios. Mas antes de responder a sua questão eu gostaria de dizer que nós somos a favor de todos os esforços internacionais para acabar com o terrorismo, não só na Síria e no Iraque mas por todo o mundo.
Tendo isso sido dito, tem-se que já há três anos que o terrorismo, seja qual for o nome que se lhe dê, está matando os sírios. Entretanto, ele não conseguiu realisar os objetivos de tudo o que possa ter sido planejado pelos serviços de inteligência e pelas câmaras operacionais americana-sionistas, ou outras. Foram três anos de resistência a esse terrorismo, mas três dias foram o suficiente para que esse tivesse sucesso no Iraque e eu acho que três horas lhes seriam suficientes para suceder na Jordânia!
Agora, acreditar que essa ofensiva de Daech teria sido feita no Iraque sem que os Estados Unidos o soubesse, de quando as suas redes de espionagem e satélites constantemente tem a mira sobre a nossa região, seria de uma extrema inocência. Ainda mais que esses grupos selvagens tiveram que atravessar regiões do deserto levando com eles suas armas, veículos, e materiais… Por outras fontes eu pude ler hoje que a Embaixada dos Estados Unidos estava informada [1].
Certo depois é que seria mais que provável que os daechistas tivessem se beneficiado de cumplicidades internas [2], a saber, aquela do governador da província de Ninavva, Assir al-Noujaïfï, o qual, e isso é um fato, visitou a administração de Erdogan e se encontrou com o chefe dos serviços secretos turcos, Hakan Fidan, uma semana antes do ataque. Nós sabemos também que os turcos tinham três contingentes a postos, dois contingentes de militares e um da polícia nacional. Em outras palavras, mais do que 30 000 tropas estavam presentes nessa província [3] quando o governador Assir al-Noujaïfï fez seu apelo ao povo iraquiano de não confrontar Daech. Por conseguinte, já havia no Iraque um clima político favorável sendo que Daech então não seria mais do que uma das frentes terroristas a lhe atacar.
2. Clima favorável significa aqui confissionalismo, não é verdade?
Isso de uma maneira geral, porque são os Estados Unidos que dirigem essa agressão, e isso de várias formas e dimensões.
  • A primeira dimensão é de ordem política. Ela mostra, especialmente depois dos resultados das eleições legislativas que confirmaram o bloco do Sr. Al-Maliki, o papél do Iraque na região, e principalmente as suas tomadas de posição em favor da Síria e da Palestina… Os Estados Unidos procuram provar que o Iraque tornou-se “um estado falido”, e que isso os obrigaria a tratar do problema através de intervenção militar direta ou indireta para poder extrair a “Frente de recusa” [Irã-Síria-Líbia] e levar o país ao círculo da Arábia Saudita e dos Países do Golfo.
Nesse caso eu classificaria o plano que está em curso de aplicação como o “Plano Balfour 2 ”, como sendo ainda mais perigoso que o Plano Balfour 1 [4]. Isso porque se o plano 1 [de 1917] foi umas das primeiras etapas da instalação de uma entidade sionista na Palestina, essa aqui seria a primeira etapa para a criação de uma “entidade sionista-wahhabista-takfirista” nessa região, a qual é de uma grande importância geoestratégica.
  • A segunda dimensão é de ordem econômica. Primeiro em questão de recursos petrolíferos e de gás do Iraque, especialmente na região que comprehende Ninawa, de Dyala e de Al-Anbar…O pretendido estado islâmico, o EIIL mencionado acima, deverá assim sua existência a essa imensa riqueza energética e, partimos disso, porque ele não se estenderá até a Jordânia, a Arábia Saudita e mesmo, como eles tem a pretensão, até Al-Raqqa e Deir ez-zor na Síria, depois… na Turquia !?
Isso sem que nos esqueçamos da possibilidade de concretizar o projeto de encaminhamento do gás e do petróleo da Arábia Saudita e do Catar através da Turquia [5], o que é feito para impedir o transporte do gás iraniano através do Mediterrâneo via Iraque e Síria [6]. Num só golpe então isso viria também a ameaçar os gasodutos que transitam pela Ucrânia, em direção a Europa… assunto de alta relevância atualmente [7].
  • A terceira dimensão é de ordem militar. Na realidade nós poderíamos dizer que a administração dos Estados Unidos está muito determinada procurando sempre sua cooperação com o terrorismo internacional, onde quer que seja que ele se apresente, o que explica o que alguns categorizam como um “`attentisme´ dos Estados Unidos” [8] frente a ofensiva de Daech no Iraque. Eles não interveniram “imediatamente” para salvar o governo central iraquiano como anunciaram [9] [10] assim como não o fizeram para salvar o exército que eles mesmos criaram, da mesma maneira como também não terão nenhuma pressa para intervenir agora.
Disso vem então o perigo, no senso de poderá se tratar de uma armadilha contra o Irã, porque se esse intervir no Iraque, isso poderá servir de pretexto para os Estados Unidos, e seus aliados, pretendendo que o Irã estaria intervindo para proteger os chiitas do Iraque, o que reforçaria a idéia de uma “guerra sunita-chiita” a qual querem que explique em princípio todos os males da região.
De quando as zonas de combate se deslocassem para as fronteiras iranianas, o país estaria como entre os dois lados de um alicate. De um lado, ao leste, estariam os Talibãs, do outro lado, ao oeste, os daechistas.
Como em outras ocasiões não deveremos ficar surpresos se dentro em pouco tempo eles começarem a nos explicar que uma fracção desses terroristas não são afiliados a Daech,  de outro modo conhecido como al-Qaïda, mas que fazem parte de uma “oposição armada moderada”, exatamente como eles não param de o fazer quanto a Síria.
Para ser conciso, eu acho que os Estados Unidos estão a caminho de perseguir vários objetivos de uma só vez. Eles pensam arrumar uma armadilha para o Irã de uma maneira ou de outra, abandonando o terreno sírio aos que eles fazem passar por “oposição moderada”, esses então em realidade não sendo mais que um outro sortimento da Al-Qaïda.
Depois tem-se que os Estados Unidos estão limpando o terreno para os interesses de Daech, e para si mesmos. Vou tentar explicar em lembrando um fato marcante que surgiu logo que Al-Zawari [sucessor de Bin Laden e chefe da Al-Qaïda] despachou seis de seus delegados para fazer com que Abou Bakr Al-Baghdadi [comandante de Daech] e Abou Mohammad Al-Joulani [comandante de Jabhat al-Nosra] saíssem da Síria para se ocupar dos desgostosos irmão iraquianos [11]. Nós todos sabemos que Al-Baghdadi se encantou com a idéia e respondeu ao apelo de Al-Zawari saindo da Síria para se retirar ao Iraque, mas não antes de garantir o transporte de armas e combatentes para a Síria, até o preciso momento em que os veículos blindados dos Estados Unidos, vindo do Iraque, já estivessem perfeitamente visíveis ao redor de Hassaka, de Deir ez-Zor, e de Al-Qamichli, enquanto al-Joulani se refusou a atender o pedido.
Nós podemos deduzir que teremos que esperar alguns dias para poder começar a falar de divisão na Al-Nosra, onde uma parte aceitou o ir juntar-se a Daech, e portanto a Al-Qaïda, enquanto uma outra parte se recusou para poder continuar ao lado de Al-Joulani que se aliou com a “Frente Islamista” [último nascimento de grupos terroristas a serem usados exclusivamente na Síria] [12]. Essa será então a ocasião para os Estados Unidos de nos apresentar Al-Joulani e Companhia, como a “nova oposição moderada da Síria”, pois poderão dizer que essa se compõe de elementos que se refusaram a prestar loialidade a Al-Qaïda !
Tem-se ainda que os daechistas já são os “maus”, porque eles muito depressa gritaram que eles tinham a intenção de destruir locais sagrados, quer esses fossem em Samarra, Najaf, ou Karbala…
No final das contas é sempre a administração americana que tem o controle e a responsabilidade final dessas organizações terroristas-takfiristas-wahabistas, e não se deve nunca ser esquecido que foi o próprio Estados Unidos que criou a Al-Qaïda para as necessidades de suas próprias “causas” no Afeganistão [13]. Eles retornam a ela persistentemente, apesar de que seu próprio povo ainda sofra da amargura de 11 de setembro de 2001. Mas tais são os costumes desses dirigentes, sempre prontos a se aliar com o próprio diabo desde que possam realizar seus próprios interesses.
Apesar disso temos que distinguir entre o sonho e a realidade. Eles não poderão realizar seus objetivos, nem na Síria, nem no Iraque, nem na região…
3. Mas como fazer para que isso termine ?
Não será os Estados Unidos que irá parar de fazer o que faz. A comunidade internacional tem que assumir sua responsabilidade e fazer com que esse apoio ao terrorismo, que mata na Síria e no Iraque, chegue a um fim. Quanto a nós, iremos lutar até que ele desapareça, e ele vai desaparecer porque tem que desaparecer!
4. O senhor fala de uma resolução internacional de luta contra o terrorismo?
Eu digo que o terrorismo tem que ser erradicado porque ele ameaça toda a humanidade ! Senão, e particularmente se os Estados Unidos continuar a sustentá-lo, não só mais sírios e iraquianos irão morrer, mas também mais europeus e americanos perderão suas vidas. Eu creio que a última palavra volta sempre aos Estados Unidos. Um chefe de Daech com o nome de Mazen Abou Mohammad foi hospitalizado num hospital público turco, e um jornal austríaco publicou, muito recentemente, um artigo detalhando as implicações da Arábia Saudita dando apoio a Daech no Iraque, etc. etc… Entretanto, sim, eu acredito que a palavra de ordem para parar o terrorismo, destruidor e sanguinário, teria que vir dos Estados Unidos.
Dr Salim Harba
16/06/2014
Source : TV syrienne / Al-Ikhbariya [dernier quart d’heure d’une émission consacrée à la libération de Kassab et de ses environs], le Dr Harba est interrogé par Mme Alissar Moala
Traduzido do arabe por Mouna Alno-Nakhal para Mondialisation.ca
Traduzido do francês por Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.com, para Mondialisation.ca 
 Notes :
[1] L’ambassadeur américain était au courant de l’avancée de Daech
[2] Les daéchites à Mossoul / Vidéo Irak 10/06/3014
[3] The Engineered Destruction and Political Fragmentation of Iraq. Towards the Creation of a US Sponsored Islamist Caliphate
[4] Déclaration Balfour de 1917
[5] Syrie : Le trajet des gazoducs qataris décide des zones de combat !
[6] Syrie/Irak/Iran : un gazoduc très politique
[8] Alain Chouet : “En Irak, l’Iran a tout intérêt à laisser les Occidentaux s’enferrer !”
[9] Obama n’exclut rien… [12 Juin 2014]
[10] Irak : Obama n’enverra pas de GIs contre les islamistes [13 Juin 2014]
[11]Syrie : Zawahiri somme Al-Nosra de cesser de combattre les autres djihadistes
[11] Syrie : Lexique de la terreur en prévision de Genève II !
[12] Hillary Clinton : Nous avons crée Al-Qaïda, Nous avons financé les Moudjahidin

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