domingo, 9 de junho de 2013

Toni Solo: Adeus Mare Nostrum (China na América Central)



08.Jun.13 :: Outros autores
Este texto sobre a recente visita de Xi Jinping à América Latina traz-nos à memória a frase atribuída a Galileu: …e pur si muove!
Quando o dilema civilização ou barbárie parece perder sentido, face ao aparentemente irreversível retrocesso da roda da História, um texto como o que hoje apresentamos, desmascara o silêncio cúmplice dos media institucionais rendidos ao consenso de Washington.



Hoje, 31 de Maio, Xi Jinping, Presidente da República Popular da China inicia uma visita de enorme significado para o mundo. O Presidente Xi Jinping passará dois dias em Trinidad e Tobago, um dos estados caribenhos mais prósperos, antes de visitar a Costa Rica, o México e os Estados Unidos. Na primeira visita de um Presidente da China ao Caribe anglófono, o programa é quase mais interessante que o provável conteúdo da série de reuniões prevista.
A primeira parte da sua visita a Trinidad e Tobago será dedicada a reuniões bilaterais com os líderes de muitos países caribenhos que têm relações diplomáticas com a China. Trata-se de Antígua e Barbuda, Barbados, Bahamas, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica e Suriname. Todos estes países, com excepção de Trinidad e Tobago e Barbados são membros do bloco económico regional Petrocaribe, liderado pela Venezuela e Cuba, com os quais a China já tem excelentes relações.
Antígua e Barbados, juntamente com Dominica, são membros da Aliança Bolivariana das Américas, que também inclui a Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua, S. Vicente e as Granadinas e a Venezuela. O mais provável é que Xi Jinping e a sua equipa assinem acordos bilaterais com todos os países caribenhos que se reúnem com ele em Trinidad e Tobago. É importante entender que a visita do Presidente chinês é o culminar de uma série de visitas preparatórias na região feitas por diferentes funcionários da República Popular da China.
Note-se igualmente que o Coronel Guo Jinlong, Secretário-geral do Partido Comunista da China, visitou Cuba antem, dia 30 de maio. A sua visita foi para fortalecer os laços entre os dois países e entre os seus partidos governantes. Trata-se, pois, de uma importante ofensiva diplomática, económica e comercial das autoridades chinesas para marcar o seu estatuto tanto no Caribe como na Mesoamérica. A China já tem excelentes relações garantidas com os países da América do Sul, recentemente fortalecidas com a visita à China do Presidente Pepe Mujica do Uruguai.
Depois de visitar Trinidad e Tobago, Xi Jinping vai estar dois dias na Costa Rica, que tem um Tratado de Livre Comércio com a China. O valor do comércio entre a China e a Costa Rica ultrapassou os 6 mil milhões de dólares em 2012, um incremento de 30% em relação a 2011. O Presidente chinês reunir-se-á com a Presidenta Laura Chinchilla para analisar o desenvolvimento futro das relações bilaterais entre os dois países e assinar acordos no âmbito do comércio e da cooperação económica.
Da Costa Rica, Xi Jinping irá para o México para dois dias de importantes reuniões com o Presidente Enrique Peña Nieto e outros líderes políticos do país. O comércio entre o México e a China é o segundo mais importante da China (na América Latina) logo a seguir ao Brasil. Para o México é o segundo mais importante no mundo. Este intercâmbio comercial alcançou mais de 36 mil milhões de dólares no ano passado. As duas partes assinarão vários e importantes acordos durante a visita.
Do México, o Presidente Xi Jinping a convite do Presidente Barack Obama vai passar dois dias na residência do Presidente Obama na Califórnia. A visita será bastante informal para facilitar um intercâmbio fluido sobre muitos aspectos de preocupação comum aos dois países. Os temas de interesse principal são os de como melhorar a economia global e das respectivas estratégias dos Estados Unidos e da China no Pacífico.
Naquela região o governo estadunidense é muito dúplice sobre as tentativas dos seus aliados Japão e Filipinas usurparem ilhas e território marítimo reclamado pela China. Este último país também está em oposição às políticas terroristas dos Estados Unidos contra a Síria e o Irão. A China também não está de acordo com a permanente postura de agressividade dos Estados Unidos para coma República Popular Democrática da Coreia. Para a região da América Latina e do Caribe a visita do Presidente Xi Jinping simboliza um passo mais para um mundo multipolar, livre do domínio do velho regime imperialista ocidental.
Ainda que John Kerry, secretário de Estado estadunidense, continue a falar da América latina como se fosse o pátio traseiro dos Estados Unidos, esse velho sonho é cada vez mais uma fantasia irracional. A China tem milhões de milhões de dólares para investir em todo o mundo. Está a fazê-lo na Ásia, em África e agora está a aumentar a gama dos seus investimentos na América Latina e no Caribe. A visita do Presidente Xi Jinping a Trinidad e Tobago e à Costa Rica mostra que o caribe já não é o Mare Nostrum do império ianque.
Antes do ano 2020 espera-se o início das obras do Canal Interoceânico pela Nicarágua com investimento chinês e possivelmente russo. A Costa Rica abandonou Taiwan para aumentar o seu comércio com a China; no entanto a China continua a investir na Nicarágua apesar das relações diplomáticas entre a Nicarágua e Taiwan, com quem a China está a normalizar as relações. Este facto dá uma ideia da importância que a China atribui ao canal interoceânico na Nicarágua e da enorme importância nesse sentido da sentença, no ano passado, do Tribunal Internacional de Justiça que restituiu a Nicarágua os seus históricos direitos sobre o território marítimo caribenho.
A visita do Presidente Xi Jinping cobre três países que se consideram fiéis aliados dos Estados Unidos. É a demonstração que a pragmática política externa chinesa deixa liberdade aos seus governantes para manterem abertas todas as opções em vez de se enconchar num beco sem saída ideológica, como tem feito o governo dos Estados Unidos. Já não há pátio traseiro. Já não há Mare Nostrum. Se existe um Destino manifesto para os Estados Unidos é o de continuar a ser um país em vias de desdesenvolvimento.
Nicaragua, 31 de Maio de 2013
* Toni Solo, internacionalista irlandês e jornalista, reside na Nicarágua há muitos anos.
Este texto foi publicado em http://tortillaconsal.com/tortilla/es/node/12982
Tradução de José Paulo Gascão
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