sexta-feira, 7 de junho de 2013

'EUA espionam o mundo todo', diz colunista que obteve papéis secretos

07/06/2013 18h42 - Atualizado em 07/06/2013 18h44


Em entrevista ao G1, Glenn Greenwald diz que evita Skype e Facebook.
Americano revelou programa dos EUA para monitorar internautas.

Laura Brentano Do G1, em São Paulo
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O colunista Glenn Greenwald, que se opõe à vigilância do governo, publicou um documento secreto da Agência de Segurança Nacional dos EUA no 'The Guardian' sobre o controle de registros telefônicos. (Foto: David dos Santos/The New York Times)O colunista Glenn Greenwald, que se opõe à vigilância do governo, publicou um documento secreto da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA no 'The Guardian' sobre o controle de registros telefônicos
e de serviços de comunicação via internet . (Foto: David dos Santos/The New York Times)
"Os EUA estão espionando o mundo todo.” A afirmação é do colunista do jornal britânico "The Guardian" Glenn Greenwald, em entrevista ao G1. O jornalista foi um dos responsáveis pelo vazamento de um documento da Agência Nacional de Segurança americana (NSA, na sigla em inglês) que revela um programa para monitorar informações de pessoas de fora dos EUA que usam serviços de nove grandes empresas americanas – como Google, Facebook, Apple e Microsoft.

“Esse é o objetivo [dos EUA]. Eles querem fazer com que ninguém no planeta possa ter qualquer tipo de privacidade ou falar um com o outro sem que o governo dos EUA esteja escutando”, disse Greenwald em entrevista, por telefone, nesta sexta-feira (7). “Eles querem saber de tudo. Eles querem ser capazes de monitorar tudo. E eles estão chegando muito perto do ponto onde serão capazes de fazer isso.”
Greenwald, que nasceu em Nova York e mora no Rio de Janeiro desde 2005, afirmou inclusive que a entrevista feita pelo G1 por telefone também estava sendo monitorada. “Tenho a certeza de que a nossa conversa está sendo monitorada. Por uma razão: eu estou em Hong Kong e você no Brasil, isso torna mais fácil para eles fazerem isso. E por outra razão: eu estou no meio de um dos maiores vazamentos dos EUA. Não há dúvida de que o governo está interessado no que eu estou fazendo e com quem eu estou conversando.”

O colunista afirmou saber sobre o documento há poucos meses e disse que os EUA não têm o direito de monitorar outros países, apesar de eles fazerem isso de qualquer jeito. “Os EUA são, se não o país mais poderoso, um dos mais poderosos. Então eles fazem o que querem de qualquer jeito. Isso é algo que o resto do mundo terá que pensar, agora que eles sabem disso.” O jornalista se recusou a falar sobre como conheceu a sua fonte, pois ela estará sob investigação.

“O documento mostra que uma agência de espionagem dos EUA, basicamente, usou seu poder para perseguir os serviços dessas empresas, onde todas essas informações estão. Eles ouvem o que querem e quando querem. Agora é esperar que outros países digam: precisamos fazer algo a respeito”, acrescentou Greenwald, que não usa os serviços de nenhuma das empresas listadas no documento. “Eu não usaria o Facebook e uso o Skype eventualmente porque preciso, já que não existe nenhuma alternativa. Mas, em geral, eu me esforço para evitar usar companhias que eu sei que estão deixando o governo dos EUA escutar o que querem.”

O jornalista está em Hong Kong trabalhando em uma reportagem. Ele foi advogado em Nova York por dez anos e sempre passou suas férias no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, onde conheceu seu parceiro. “O governo brasileiro reconheceu a nossa relação e me deu um visto permanente. O meu governo não reconheceu a nossa união e não deu um visto para o meu parceiro. Então o Brasil é o único lugar onde podemos morar juntos.”

Questionado se tem medo de alguma retaliação do governo dos EUA sobre o vazamento, Greenwald disse que obviamente pensou nessa possibilidade. “O governo dos EUA tem provado muitas vezes que mira as pessoas que expõem seus segredos. Eles os ameaçam, os processam e os colocam na prisão. Então seria estúpido da minha parte não pensar que isso seria uma possibilidade”, disse.

“Mas ao mesmo tempo eu sei que tenho os meus direitos como cidadão e jornalista e tenho que exercê-los. As pessoas que levaram essas informações para o público foram muito corajosas, tiveram muita coragem e correm muito mais riscos do que eu. Eu olho para o exemplo deles e vejo o que eles fizeram e isso me inspira a fazer o mesmo. Espero, com isso sendo feito, inspirar outras pessoas a não ter medo do governo e a perceber que eles têm os direitos de cidadãos, que fazem com que eles não desistam por causa do medo.”
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