sábado, 26 de janeiro de 2013

Lênin e a teoria do "socialismo em um só país"





Sobre as origens da teoria do “socialismo em um país”





Neste artigo, examinamos as origens da teoria do “socialismo em alguns, ou

mesmo num só país capitalista tomado isoladamente”. Tal esforço se faz necessário

para contrapor a recorrente lenda, criada e difundida pelo trotskismo, de que tal

teoria teria sido criada por Stalin em 1924, bem como de que servisse como

expressão da estreiteza nacional de uma crescente burocracia soviética

conservativa. Este estudo nos revela que esta teoria já estava presente na resposta

dos bolcheviques à traição dos partidos socialdemocratas europeus ao ideal da

revolução proletária, o que se deu logo após a eclosão da Primeira Guerra Mundial

em 1914 (que os bolcheviques denunciaram como a guerra imperialista). A

incompreensão de Trotsky, ou mesmo sua recusa em aceitar esta concepção

leninista, nos mostra que seu rompimento com o menchevismo foi parcial, além de

apontar a compreensão ultra-esquerdista que tinha do processo revolucionário

mundial. Para sermos breves, empregaremos o termo “socialismo em um país” ao

invés de “socialismo em alguns, ou mesmo em um único país tomado isoladamente”.

Esta foi, de fato,

a disputa mais acirrada na história do movimento revolucionário




marxista. Nos debates que giravam em torno da própria natureza do processo

revolucionário mundial, tratava-se do papel a ser desempenhado pelo socialismo,

caso este obtivesse a vitória somente em alguns, ou mesmo num único país

capitalista. Levantada primeiramente no conflito entre Lênin e as correntes

oportunistas da Socialdemocracia, esta questão mais tarde se transfiguraria na

disputa entre Stalin e Trotski. Mas por que tal debate foi tão central? A resposta

pertence à

ordem do tempo, e pode ser encontrada na natureza da época em que




vieram à tona.

O Partido Bolchevique, sob a liderança de Lênin, foi o único partido da

Segunda Internacional Socialista a defender uma ação revolucionária após a

deflagração da Primeira Guerra Mundial. Os demais partidos da Internacional – cujo

mais notável era o Partido Socialdemocrata Alemão – traíram a luta pela revolução

proletária e pelo socialismo ao apoiarem suas próprias burguesias na guerra das

potências imperialistas. Comprometidos por sua traição e expostos na frente dos

Trabalhadores avançados, esses antes escondidos revisionistas, inimigos da





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Revolução da Classe Trabalhadora, precisavam buscar justificativas teóricas para

sua traição.

Ao vasculhar certos trabalhos de Marx e Engels, encontraram o que buscavam: o

socialismo, diziam, deve se dar internacionalmente; ou o socialismo será

internacional, ou nada será.

Isto não passava, porém, de uma paródia do Marxismo, que embora

parecesse muito válida para muitos professores universitários, dificilmente serviria

para a liderança das classes revolucionárias. O que os oportunistas buscavam era

uma mera justificativa “marxista” para trair a classe trabalhadora e apoiar suas

respectivas burguesias na guerra inter-imperialista. Seu principal argumento era,

portanto, de que não haviam traído o socialismo e a revolução porque ambos teriam,

por sua própria natureza, que ocorrer internacionalmente, a partir da união dos

“proletários de todo o mundo”. Marx não havia dito isso, e Engels não teve a mesma

opinião? Como os Leninistas podem nos acusar de trair o socialismo se estamos

nos baseando nos autores mais sagrados dos sagrados do Marxismo? Os

oportunistas concluíam: o Socialismo jamais seria possível no isolamento, em um

único país. Desta forma, os oportunistas buscaram e “encontraram” justificativa nos

escritos dos criadores do Socialismo Científico. Porém, devemos aqui lembrar do

ditado: “o próprio diabo pode citar as escrituras”.

O que os oportunistas da Segunda Internacional não compreenderam era que

o capitalismo havia sofrido transformações desde os tempos de Marx e Engels. De

sua era pré-imperialista, este havia atingido sua etapa monopolista, ou seja,

imperialista. O capitalismo em ascensão se convertia no capitalismo em decadência:

o imperialismo se tornaria o capitalismo “moribundo” (Lenin). Desta forma, antes

deste período de desenvolvimento nem Marx nem Engels puderam imaginar a

possibilidade do socialismo em um só país, enfatizando corretamente que a

transição para o socialismo só seria possível caso se desse em diversos países. No

entanto, as coisas mudariam a partir da ascensão das formas monopolistas e

imperialistas do capitalismo. O imperialismo intensificava as leis do desenvolvimento

desigual, mesmo sob as bases de um nivelamento. Isto foi a intensificação das leis

do desenvolvimento desigual sob o imperialismo, que serviu para transformar as

perspectivas da revolução internacional. E foi o próprio Lênin quem tomou a tarefa





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de demonstrar esta nova fase do capitalismo, bem como a consequência que teria

para a revolução mundial.

Lênin nos mostrou que este desenvolvimento do capitalismo deu

“origem às guerras imperialistas, que minam as forças do imperialismo e

torna possível romper a cadeia do imperialismo em seu ponto mais

fraco” (J. Stalin: Works 18; p. 168; Reimpresso pela Red Star Press;

Londres, 1976)

Lênin assim concluiu:





“Desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do

capitalismo. Então, a vitória do socialismo é possível em alguns ou

mesmo em um país capitalista, tomado isoladamente”.


(V.I. Lenin:




Selected works; Eng. Ed., Vol.5; p.141; citado em Stalin; op.cit. p.169)

Com este raciocínio, Lênin contrapôs os oportunistas e social-chauvinistas da

Segunda Internacional, que tendo traído a classe trabalhadora ao início da Primeira

Guerra Imperialista, buscavam a todo custo ocultar sua traição com citações de Marx

e Engels, com passagens que refletiam as perspectivas de um momento

completamente diferente. Em outras palavras, Lenin dizia aos social-traidores: vocês

não podem mais usar a velha máxima de que ‘o socialismo deve ser internacional’

para justificar sua traição perante a classe operária. O Imperialismo tinha modificado

a natureza do processo revolucionário mundial no sentido de tornar as revoluções e

o socialismo possíveis em alguns ou mesmo em um único país. Sob os olhos dos

traidores, Lenin tornou-se um “revisionista” por não compreender o marxismo como

um dogma, mas como um método de reflexão e ação.

Para consolidar sua nova posição ainda mais firmemente, Lênin notou que:

“O desenvolvimento do capitalismo procede de forma extremamente

desigual nos diversos países. Isto não pode se dar de maneira diferente

sob o sistema de produção de mercadorias. Disto segue,





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irrefutavelmente, que a vitória do socialismo não pode ocorrer

simultaneamente em todos os países. O socialismo alcançará a vitória

primeiro em um ou alguns países, enquanto os demais permanecerão

burgueses ou preb-urgueses por algum tempo” (V. Lênin “Programa de

guerra da Revolução Proletária”, em: Collected Works, Vol. 29; p. 325)

Lênin prossegue esta passagem explicando as contradições que surgiriam

entre os países socialistas e os estados atrasados, o que poderia levar à guerra, que

pelo lado dos países socialistas seria uma guerra justa e legítima. O que Lênin

buscava demonstrar era que as concepções marxistas desenvolvidas no período

pré-imperialista do capitalismo (de que o socialismo em um país isolado seria

impossível, e que portanto sua vitória deveria ocorrer simultaneamente em todos os

países capitalistas avançados) não eram mais válidas. Também eram inválidas as

tentativas da ala direita da socialdemocracia de se esconder atrás da tese da

“impossibilidade do socialismo em um país” para justificar sua recusa em conduzir a

luta para derrubar o capitalismo e guiar a luta pela construção do socialismo nos

respectivos países.

Ao defender a possibilidade do socialismo em um único ou em alguns países,

Lênin se engajaria em uma disputa colossal com os oportunistas e direitistas da

Socialdemocracia, que para salvar sua reputação se opunham ao socialismo em um

só país. Acima de tudo, não era atoa que, se não todos, a maioria desses líderes

eram oriundos de países capitalistas avançados.

A própria ideia de tomar o poder na Rússia em 1917 foi para eles algo oposto

à compreensão livresca que tinham do marxismo. Sua recusa em conduzir a luta

pelo socialismo naquele momento era justificada pela noção de que o socialismo “ou

será internacional ou nada será”. Sua crítica aos bolcheviques era de que a Rússia

estava materialmente atrasada para o socialismo, o que era, de fato, mas tal

argumento não justificava a recusa em dar passos na direção de eliminar o atraso, o

que poderia ter sido feito mais facilmente se os oportunistas não tivessem traído a

luta pelo socialismo nos países avançados.

É importante compreendermos aqui que Lênin desenvolveu o pensamento

marxista em acordo com os desenvolvimentos sofridos pelo capitalismo, o que





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também levou ao desenvolvimento da teoria marxista do processo revolucionário. A

antiga concepção pré-imperialista de que o socialismo teria que se dar

obrigatoriamente no plano internacional deu lugar a nova teoria marxista-leninista de

que o socialismo era possível em um ou alguns países em dado momento do

processo revolucionário mundial. Com isso, Lênin não só desenvolveu a teoria

revolucionária marxista como também obteve êxito ao expor os oportunistas e

direitistas que se opunham à teoria do socialismo em alguns ou num único país

porque esta era uma dura amostra de sua traição na recusa em conduzir a luta pelo

socialismo em seus próprios países após o rompimento da guerra imperialista.

Vemos assim que a luta de Lênin para defender a teoria do socialismo em

alguns ou em um único país era parte da contradição entre as linhas oportunistas e

revolucionárias. A linha revolucionária sustentou que o socialismo seria possível

mesmo em um único país, enquanto os oportunistas continuaram se baseando em

noções ultrapassadas sobre o capitalismo pré-imperialista, que embora fossem

corretas em seu tempo, tinham se tornado inválidas pelo recente desenvolvimento

do capitalismo, sua forma monopolista e imperialista. No âmago desta luta entre a

revolução e o oportunismo surgiria a figura de Trotsky, que por um bom tempo

titubeara entre as duas alas da socialdemocracia russa, os bolcheviques e os

mencheviques, tendo em geral colaborado com os segundos contra os primeiros. A

posição que Trotsky defenderia no partido bolchevique ficava era um meio-termo

entre o Leninismo e o oportunismo. Naquele tempo, Trotsky apoiava o slogan

“Estados unidos da Europa”, do qual Lênin discordou fortemente. Para Lênin, este

slogan não levava em conta a lei do desenvolvimento desigual, podendo servir

novamente para que a ala direita da socialdemocracia evitasse a luta pelo poder em

seus respectivos países; além disso, tal slogan tinha para Lênin um tom

eurocêntrico. Para expor a limitação desta concepção, Lênin o contrapôs ao slogan

“Estados Unidos do Mundo”, que embora fosse preferível, a proposta era aplicada

ao socialismo ao invés do capitalismo. A principal fraqueza desta última proposta

para Lênin era que

“Enquanto um slogan separado, entretanto, o slogan dos Estados

Unidos do Mundo dificilmente estaria correto. Primeiro, porque seu

surgimento só seria possível com o socialismo, e em segundo, porque





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poderá ser erroneamente interpretado, levando a crer que a vitória do

socialismo em um país isolado é impossível, além de poder levar a

equívocos quanto à relação deste país com os outros”. (V. Lenin: ‘The

United States of Europe’ Slogan; Selected Works, Eng. Ed., Vol. 5; p.

141; August 1915).

Nesta passagem, Lênin polemizava contra os “Estados Unidos da Europa”,

apoiado por Trotsky, buscando uma proposta alternativa e concluindo que ambos

eram contra a teoria desenvolvimento do socialismo em um único país enquanto

parte do processo revolucionário de todo o mundo. Podemos compreender a

conclusão de Lênin se lembrarmos que ele se encontrava em luta contra a ala

direitista do movimento socialista, que recentemente tinha traído a luta pelo

socialismo baseando-se na impossibilidade do socialismo em um só país.

Parece-nos óbvio que Trotsky não pôde vislumbrar a ligação entre a defesa

que Lênin fazia de sua nova teoria sobre a possibilidade do socialismo em alguns ou

em um único país, e a luta que conduzia contra a ala direita da Internacional

Socialista, que ocultava seu oportunismo e sua traição da classe trabalhadora, ou

seja, sua incapacidade em conduzir a luta pelo socialismo em seus respectivos

países, escondendo-se atrás da concepção

ultrapassada de que o socialismo só




seria possível em âmbito internacional. Esta incapacidade de Trotsky em

compreender a ligação entre defender o socialismo em um único país enquanto

parte da luta mundial e a luta contra o oportunismo era informar os pronunciamentos

mais novos de Trotsky.

Trotsky respondeu à crítica de Lênin de seus “Estados Unidos da Europa” em

um artigo onde expunha sua própria visão do processo revolucionário mundial,

argumentando que

“O único argumento histórico mais ou menos concreto contra o slogan

dos Estados Unidos da Europa foi formulado na Social-Democracia

Suíça (naquele tempo o órgão central dos Bolcheviques) na seguinte

frase: “o desenvolvimento econômico e político desigual é uma lei

absoluta do capitalismo”. Daí, o Sotsial-Democrat chega à conclusão de

que a vitória do socialismo é possível em um único país, e que por isso





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não haveria motivo para colocar a criação dos Estados Unidos da

Europa como condição a para a ditadura do proletariado em cada país

separado... Que nenhum país em sua luta deve ‘esperar’ pelos demais é

um argumento elementar, útil e necessário para reiterar a ideia de uma

ação internacional simultânea não deve ser substituída pela ideia de

uma inatividade internacional simultânea. Sem esperar pelos demais,

nós começaremos e levaremos a cabo a luta, com a total confiança de

que nossa iniciativa dará um ímpeto às lutas nos demais países; mas

caso isto não ocorra, seria sem esperanças pensar – conforme

testemunham a experiência histórica e a importância teórica – que, por

exemplo, uma Rússia revolucionária poderia se manter diante de uma

Europa conservadora, ou que uma Alemanha socialista poderia existir

isolada no mundo capitalista”. (Trotsky: Works. Vol. 3 part 1; PP.89-90:

também citado em Stalin: Works 8, p. 336).

Esta foi a resposta de Trotsky à teoria de Lênin sobre a possibilidade do

socialismo em um país enquanto parte integrante do processo revolucionário global.

Ele era contra qualquer busca por “ganhar tempo”, ou atrasar a revolução em países

individuais, o que o coloca em desacordo com os líderes da direita do movimento

socialista, mas ao mesmo tempo, ele não acreditava que o socialismo poderia se

manter na Rússia ou na Alemanha, por exemplo, diante de uma Europa

conservadora. E isto foi, de fato, o que aconteceu na União Soviética, onde o

socialismo resistiu. A sobrevivência da União Soviética até sua liquidação final pelos

revisionistas que tomaram o controle do PCUS nos serve para refutar tal prognóstico

de Trotsky. Portanto, se por um lado Trotsky se opunha ao adiamento da revolução

nos países individuais, por outro lado ele se opôs ferozmente à tese leninista sobre a

possibilidade do socialismo em um único país enquanto parte da luta mais ampla

pela revolução internacional.

Falhando em compreender, ou mesmo rejeitando claramente a posição

leninista de que o socialismo seria possível em um único, ou alguns países (tese

alicerçada na lei do desenvolvimento desigual), Trotsky jamais poderia discernir que

a luta pelo socialismo em um país enquanto parte do processo revolucionário





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mundial era parte integrante da luta de Lênin contra os oportunistas de direita e o

Social-Chauvinismo na direção do movimento socialista internacional. Esta

incapacidade da parte de Trotsky posteriormente levaria o trotskismo a

desempenhar um papel contrarrevolucionário na União Soviética após a morte de

Lênin, em 1924.

Trotsky entrou para o Partido Bolchevique em 1917 mesmo se opondo à

teoria leninista de que o socialismo era possível em um único país. Após filiar-se ao

partido, Trotsky procurou não se opor abertamente à Lênin nesta questão.

Entretanto, após a morte de Lênin, Trotsky buscou afirmar sua posição contrária à

de Lenin, dirigindo sua crítica à Stalin. Trotsky foi tão longe que chegou a dizer que

Stalin teria criado tal teoria, sendo que qualquer comunista sabe que esta fora

formulada pelo próprio Lênin. Desta forma, a “Escola Trotskista de Falsificação” foi

responsável pela maior fraude teórica já perpetrada no interior do movimento

revolucionário da classe trabalhadora. A lenda de que Stalin era o autor da teoria do

socialismo em um país, seja ela produto da ignorância ou uma mentira consciente, é

repetida em todo tipo de literatura sobre a Revolução Russa produzida pelos

movimentos trotskistas.

Portanto, no 7º Pleno do Comitê Executivo da Internacional Comunista (22 de

novembro a 16 de dezembro de 1926) Stalin pontua em sua réplica na discussão

sobre o “Desvio socialdemocrata em nosso partido”:

“O modo como compreendo a questão é que agora Trotsky se levanta

contra a teoria de Lenin, mas como combater Lenin abertamente seria

um negócio arriscado, ele decidiu levar a cabo esta luta sob a aparência

de combater uma “teoria” de Stalin. Desta forma, Trotsky quer tornar

mais fácil para si lutar contra o leninismo, disfarçando sua luta com a

crítica à teoria de Stalin”. (Stalin: Works 9; p.121; Reimpressão pela Red

Star Press, Londres).

Tendo passado a vida toda ao lado dos oportunistas, Trotsky jamais compreendeu a

arte de levar a cabo uma luta baseada em princípios, sem ter que recorrer a

manobras baratas, e oportunistas. Com isso, Stalin lembrou os comunistas de que:





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“...notemos que a afirmação de Trotsky a respeito da ‘teoria de Stalin’ é

uma manobra, um truque, um truque covarde e mal sucedido, destinado

a ocultar sua luta contra a teoria de Lenin da vitória isolada do

socialismo nos países, uma luta que começou em 1915 e se estende

aos dias de hoje. Se esta artimanha de Trotsky é ou não um sinal de

honestidade, que decidam os camaradas”. (Stalin, IBID.)

O mais espantoso é que Trotsky pensou que poderia fugir com tamanho

truque no mais importante plano político da classe trabalhadora, a vanguarda

comunista, e ainda se passando por um leninista! Após unir-se aos bolcheviques,

Trotsky não julgou que tal truque seria sensato, ou em outras palavras, Trotsky

estava desprovido de argumentos que pudesse opor a este elemento primordial do

leninismo, e decidiu mascarar sua luta contra o leninismo apresentando-a como uma

luta contra Stalin, o que prova que Trotsky era motivado primordialmente por motivos

oportunistas.

Da mesma forma como as alas direitistas denunciaram a teoria de Lenin

como ‘revisionismo’ para mascarar sua traição à classe trabalhadora ao atacar a

possibilidade de construir o socialismo em seus países, naquele momento Trosky

denunciava Stalin por inventar uma teoria revisionista chamada ‘socialismo em um

só país’, teoria que por sua vez expressava as tendências conservadoras da

burocracia soviética.

Ao pender para o menchevismo na questão do socialismo em um só país, o

qual Trotsky contrapunha mecanicamente à revolução mundial, Trotsky seria punido

após conduzir o desvio socialdemocrata no partido comunista. Assim como os

líderes oportunistas da Segunda Internacional, Trotsky se opunha à possibilidade de

construção do socialismo em um só país, embora por razões distintas. Enquanto os

oportunistas de direita buscaram justificar sua traição ao socialismo em seus países

por sua rejeição ao socialismo em países isolados, Trotsky lutaria contra o

socialismo em um só país porque o via enquanto contraposto à ideia da revolução

internacional. A consequência lógica é que tanto os direitistas da internacional

quanto o ultra-esquerdista Trotsky defenderam posições que negavam qualquer





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possibilidade do socialismo ser construído em países isolados. Enquanto para os

direitistas este era o motivo que inviabilizava a conquista do poder nos respectivos

países, para os ultra-esquerdistas o socialismo seria impossível em um país isolado,

e jamais ocorreria sem a revolução mundial.

A extrema-esquerda e a direita do movimento socialista se uniriam em

oposição à teoria leninista sobre a possibilidade de se consolidar o socialismo em

um único país enquanto parte do processo revolucionário mundial. Desta forma, no

que diz respeito à União Soviética, o passado menchevique de Trotsky se

reconciliaria com ele. Situando-se ‘à esquerda’, os trotskystas começariam a

desempenhar um importante papel para a burguesia ao propagandear a

impossibilidade do socialismo na União Soviética, visto que sua ruidosa denúncia do

leninismo serviria apenas para desmoralizar o movimento comunista e classe

trabalhadora, minando a confiança dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que

impulsionava a confiança da burguesia soviética na restauração do capitalismo.

Se o socialismo jamais seria alcançado na União Soviética, na ausência de

revoluções em outros países, a contrarrevolução e a restauração do capitalismo não

estariam longe.

Embora se utilizando sempre de um disfarce ‘de esquerda’, o papel objetivo

desempenhado pelo trotskismo foi de enfraquecer a confiança da classe

trabalhadora nos comunistas soviéticos com sua rejeição a teoria de Lênin no que

dizia respeito à possibilidade do socialismo desenvolver-se na União Soviética. A

linha política de Trotsky era a linha da contrarrevolução soviética. Stalin assumiria a

defesa da teoria de Lênin, e a oposição de Trotsky a tal teoria o situaria

objetivamente ao lado dos contrarrevolucionários, ou seja, na trincheira de todos os

anti-socialistas que buscaram desmoralizar a revolução russa sob o princípio

ideológico de que o socialismo jamais seria construído em um país isolado. Esta

campanha de desmoralização surtiu algum efeito, claramente demonstrado em

pessoas como Zinoviev e Kamenev, que embora já tivesse defendido o leninismo

dos desvios de Trotsky, tornar-se-iam, por motivos oportunistas e sectários,

ferramentas da campanha trotskista contra o leninismo.





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Conclusão





A teoria de Lênin, que compreendia a possibilidade da vitória do Socialismo

em um único país isolado enquanto parte do processo revolucionário internacional,

se originava a partir de um desenvolvimento da teoria marxista da revolução, e era

parte do avanço teórico que se dava em consequência da transformação do

capitalismo pré-imperialista em capitalismo imperialista. Tal desenvolvimento

intensificava os efeitos da lei do desenvolvimento desigual, o que levara as

potências imperialistas a choques cada vez mais constantes por mercados e

matérias-primas. As guerras geradas por tais conflitos enfraqueciam o imperialismo,

criando a possibilidade de rompimento dos elos mais fracos da corrente imperialista.

Por sua vez, tal situação criava oportunidades favoráveis à vitória isolada do

socialismo nos países. A deflagração da primeira guerra imperialista expôs o

completo apodrecimento das lideranças da Segunda Internacional, comprometidos

com o oportunismo e o social-chauvinismo. Estes traidores da classe trabalhadora e

do socialismo buscavam justificar sua traição à revolução e seu fracasso em

conduzir a luta pelo poder com base em princípios teóricos e ideológicos que só

possibilitavam pensar o socialismo em escala mundial. Utilizando citações de Marx e

Engels a respeito da natureza internacionalista da derrubada do capitalismo, a

socialdemocracia ignorava a mudança sofrida pelo capitalismo, desde sua era préimperialista

ao capitalismo imperialista. A luta de Lênin para sustentar a teoria de

que o socialismo seria viável em apenas alguns ou mesmo em um único país era

dirigida a estes oportunistas, que se escondiam por trás do caráter internacionalista

do socialismo para justificar sua deslealdade à classe trabalhadora. Opondo-se a

lutar pelo socialismo em seus próprios países, justificavam sua traição opondo-se a

possibilidade do socialismo em países isolados. Em outras palavras, os

socialdemocratas europeus contrapunham o socialismo em um só país à natureza

internacional do socialismo.

Em sua luta para sustentar que haveria possibilidades do socialismo

desenvolver-se primeiro em alguns do mundo enquanto parte do processo

revolucionário mundial, Lênin criticava o slogan trotskista dos “Estados Unidos da

Europa”. Ele o contrapunha aos “Estados Unidos do Mundo”, rejeitando-o também





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porque tal proposta se mesclava com o socialismo e levava ao equívoco de que o

socialismo seria impossível em países isolados. Trotsky respondeu a crítica de Lênin

de agosto de 1915 afirmando que embora os socialistas não devessem esperar a

revolução nos demais países, a ditadura do proletariado jamais resistiria frente a

uma Europa conservadora. Mesmo divergindo da teoria de Lênin, Trotsky uniu-se

aos bolcheviques em 1917 e procurou não expor suas divergências abertamente no

início, porém após a morte de Lênin passou a opor-se abertamente a teoria de

Lênin. Por motivos sectaristas ele passou a agir de maneira oportunista, dirigindo

seu antagonismo à figura de Stalin naquilo que se tornaria a maior falsificação

política na história do movimento revolucionário – a afirmação de que Stalin era o

criador do Socialismo em um só país, uma lenda repetida pelos trotskistas até os

dias de hoje. Este artifício oportunista foi completamente revelado por Stalin em sua

luta contra a oposição liderada por Trotsky na União Soviética. A consequência da

oposição de Trotsky à teoria de Lênin foi sua aproximação ao campo daqueles que

buscaram apenas desmoralizar os comunistas e a classe trabalhadora sob o

argumento de que o socialismo seria impossível na União Soviética. Já que esta era

a posição da burguesia e dos mencheviques, ansiosos por desmoralizar qualquer

um que lutasse pelo socialismo, o trotskismo era colocado mesmo lado dos

contrarrevolucionários burgueses, embora buscasse atacar a revolução pela

“esquerda”. Desta forma, fica claro que em sua oposição à Lênin o trotskismo

desempenhou – e continua a desempenhar – um papel reacionário. O significado

que teve o trotskismo após a morte de Lênin em 1924 não pode ser encontrado na

sua oposição “de esquerda” à teoria leninista do processo revolucionário mundial,

mas sim em seu papel objetivo de comprometer a confiança dos elementos

revolucionários e socialistas em uma plataforma que possibilitasse pensar a

construção do socialismo na União Soviética como algo viável. O PCUS caracterizou

a posição de Trotsky como um desvio socialdemocrata pelo fato de sua negação do

socialismo em um só país ter sido a mesma dos estratos menchevistas. Sem dúvida

alguma, as opiniões expostas por Trotsky serviam apenas aos interesses dos

elementos capitalistas, ansiosos por uma possível restauração deste nos primeiros

anos após a revolução russa.





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Tony Clark

COMMUNIST PARTY ALLIANCE.





·

Tradução para o português – Sandro A. Teles




·

Revisão – Thalles Castellani Leal




·

Texto Original em Inglês:




http://marxism.halkcephesi.net/Tony%20Clark/socialism%20in%20one%20country.htm





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