quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Deflagrada rebelião popular no Panamá contra o neoliberal Martinelli




Deflagrada rebelião popular no Panamá contra o neoliberal Martinelli ImprimirPDF
imagemCrédito: PCB
Por Resumen Latinoamericano
O povo da cidade de Colón ganhou as ruas para enfrentar uma nova medida de saqueio neoliberal, numa aberta rebelião popular para enfrentar o governo Martinelli.
Um garoto de nove anos morreu e cerca de 30 pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira na cidade de Colón, no centro do Panamá, em enfrentamentos entre a Polícia e centenas de pessoas que estavam na manifestação contra a venda da Zona Livre de Colón (ZLC), onde o comércio de produtos é isento de impostos. Os distúrbios terminaram com 80 prisões.
O menor de idade chegou morto, com um disparo na barriga, ao hospital Manuel Amador Guerrero, situado em Colón, aonde também foram transladados dezenas de manifestantes e agentes policiais feridos gravemente nos conflitos.
A lei promulgada nesta sexta-feira pelo presidente panamenho, Ricardo Martinelli, autoriza o Estado a vender terras desta zona livre de impostos, criada em 1948, para aproveitar comercialmente o enclave do canal do Panamá. Milhares de companhias de todo o mundo têm uma base de operações na ZLC, de onde partem rotas até o Japão, Estados Unidos e outros países latinoamericanos.
Toque de recolher
Devido aos violentos confrontos no início da sexta-feira, as autoridades de Colón decretaram toque de recolher desde o início da tarde, enquanto tumultos continuaram até o final do dia, de acordo com relatos da mídia local e da Telesur .
Dezenas de pessoas saquearam várias lojas localizadas na ZLC e atearam fogo em vários caixas eletrônicos. Ao mesmo tempo, centenas de pessoas marcharam pelas principais ruas de Colón. Mais tarde, entraram em confronto depois de incendiar vários pneus e montando barricadas nas ruas.
Martinelli pediu calma e defendeu a liberalização da ZLC. Contudo, os sindicatos e os empregadores têm pressionado o governo panamenho para revogar a lei, ameaçando uma greve geral na província de Colón. Segundo o comunicado oficial emitido pela Presidência, a Lei 72 irá permitir um maior investimento econômico para a província de Colón, onde o governo panamenho "continua a realizar importante investimento social".
Panamá: Colón transformada em zona de guerra por aprovação da venda da Zona Franca
19/10/2012 – Logo após a aprovação do projeto de lei que permite a venda das terras da Zona Livre de Colón (ZLC), vários colonenses vêm protagonizando enfrentamentos nas 16 ruas da cidade, colocando-se contrários à decisão da Assembleia Nacional, o que criou um caos na área, ocasionando a declaração de um toque de recolher, tanto no distrito como na província.
As unidades de controle de multidões dispararam para o ar e contra algumas pessoas, para se defenderem e dispersar a multidão. Lançam também gás lacrimogêneo e tentam evitar o fechamento da principal via de Colón. Mesmo o Super 99 teve de ser protegido, pois tornou-se alvo para os que protestavam. Os manifestantes pedem que o presidente da República revogue o projeto recentemente aprovado; caso contrário, irão continuar com as ações.
Estabelecimentos vandalizados, postos saqueados, assim como o posto de gasolina na Rua 10 Avenida Santa Isabel, pertencente ao gerente da ZLC, Leopoldo Benedetti, são alguns dos resultados dessas manifestações, que recrudesceram após a aprovação do projeto de lei por parte do Plenário da Assembleia.
Linces [polícia motorizada] chegaram ao local, já que a cidade converteu-se num campo da batalha e os anti-motins não conseguiram controlar a situação.
O prefeito de Colón, Dámaso García, disse que “sim, há pessoas feridas, e mais de 25 presos”.
O presidente da República, Ricardi Martinelli, destacou nesta manhã que a situação em Colón se tornaria similar ao ocorrido em Bocas del Toro e acusou os opositores e empresários de ajudar e financiar os manifestantes, todavia, os fatos mostram o contrário.
Martinelli declarou ao canal de televisão TVN2 que os protestos são provocados por “alguns incitadores” com motivos políticos.
O mandatário fez a acusação de que por trás dos protestos estaria um homem nacionalizado panamenho, de ascendência palestina, com presumidos vínculos com a guerrilha colombiana e o narcotráfico.
Ao alugar as terras do Estado, os empresários da Zona Franca - dedicada à importação e re-exportação de mercadorias - pagam cerca de US$ 33 milhões para o Estado, dinheiro que vai diretamente para o orçamento geral do país.
As operações da Zona Franca geraram 29 bilhões de dólares em 2011, um aumento de 34% sobre o ano anterior.
Da mesma forma, Leopoldo Benedetti disse que os partidos de oposição foram os que promoveram essas manifestações e sublinhou que a informação tinha sido exagerada, já que apenas foi saqueada uma loja que não tinha sido fechada.
Enquanto isso, estabelecimentos comerciais estavam fechados no local para evitar saques e funcionários do município tiveram de evacuar seus postos depois que os manifestantes ameaçaram queimar o local.
Presidente Varela pede para Martinelli a revogação da lei de terras em Colón
19/10/2012 - O vice-presidente da República, Juan Carlos Varela, qualificou como “lamentável” a sanção pelo presidente Ricardo Martinelli da lei pela qual se aprova a venda das terras da Zona Livre de Colón.
Varela, em um comunicado, disse que "não há nenhum sentido em continuar confrontando o povo com uma lei impopular", e fez um chamado ao presidente Martinelli para revogar esta lei e devolver a paz a Colón.
"A decisão de Martinelli do dia de hoje, de forçar a aprovação de uma lei para vender o as terras da Zona Franca, é outra mostra de seu desprezo pelos interesses do povo panamenho", disse Varela.
Ele acrescentou que, como resultado desta imposição do presidente Martinelli, em conluio com representantes do governo e desertores, a atitude irresponsável do presidente "o está levando a enfrentar o povo que o elegeu e a expor sem razão os funcionários de segurança pública."
"A venda desses ativos não se justifica em momentos em que a economia cresce e o governo atual conta com recursos extraordinários", disse Varela.
O povo panamenho lançou-se às ruas
por Frenadeso
Sexta - feira, 19 de outubro de 2012
A FRENADESO [Frente Nacional por la Defensa de los Derechos Economicos y Sociales Panamá] e o SUNTRACS [Sindicato Único de Obreros de la Construcción] anunciaram ações em todo o país. Uma onda de grande indignação desencadeada pela aprovação por parte dos deputados oficialistas do projeto de lei que permite a venda da Zona Livre de Colón. O povo não conteve sua fúria ao ouvir o presidente da Assembleia, Sérgio Gálvez, dizendo: "se quiserem chorar, vão ao cemitério."
Tampouco se conteve quando Martinelli se dirigiu nesta manhã ao país, minutos antes de se aprovar a lei. Agora, de maneira covarde, parte para Tóquio, recém-chegado da Alemanha, em sua viagem 66, deixando o país em chamas.
A província está insurreta. No centro desataram-se fortes enfrentamentos. O SUNTRACS permanece com as comunidades, fechando a Transístmca na altura de Sabanitas e Vista Alegre.
Neste momento, durante a tarde, fala-se de um morto e dois feridos. A polícia dispara balas contra os manifestantes, num prelúdio do massacre que preparam contra o povo, como ocorreu em 2010, em Changuinola, e no início deste ano no leste chiricano. O governador anunciou um toque de recolher em momentos em que milhares de panamenhos estão prontos a viajar para celebrar da peregrinação do Cristo Negro de Portobelo.
Neste mesmo site estaremos informando o que acontece.
O SUNTRACS e a FRENADESO, assim como o FAD, realizam reuniões para decidir as ações a nível nacional.
Colón está paralisada.
http://www.resumenlatinoamericano.org/index.php?option=com_content&task=view&id=3280
                 Fonte: PCB

Tian An Men - 1989- da deriva revisionista (parte II)



Tian An Men - 1989 - da deriva revisionista ao motim contrarrevolucionário - Ludo Martens (Segunda Parte)


TianAnMen – 1989 – Da deriva revisionista ao Motim Contrarrevolucionário (Segunda Parte)

Por: Ludo Martens

Traduzido por:Ícaro Leal Alves

Originalmente publicado em: Etudesmarxistes y autores, nº 12, 1 de septiembre de 1991

Traduzido de acordo com a versão em espanhol disponível em: http://www.forocomunista.com/t6550-ludo-martens-tian-an-men-1989



Preparação Sistemática da Violência

Se é indiscutível que a maioria dos estudantes não queriam a violência, é também evidente que a direção do movimento, desde o principio e de forma sistemática, preparou os ânimos para o enfrentamento e a violência.

Em 21 de abril de 1989 se faz, desde a universidade de Beida, um chamamento a greve. “Queremos fazer progredir a democracia pela sinceridade do nosso sacrifício, pouco importa a repressão, escalaremos montanhas de laminas cortantes, nós submergiremos em oceanos de fogo!”[1] , é uma linguagem que chama ao sangue.

Outro jornal mural de 23 de abril segue textualmente a propaganda de Taiwan: “a democracia e a liberdade é o fim de nossa greve. A luta é inevitável, temos de aceita-la sem temor. Haverão vitimas, porém o sacrifício vale a pena. Podemos aceitar a dor de haver nascido na escravidão? Nascemos livres, eles querem fazer-nos escravos.”[2] É uma tática posta em prática desde há muito tempo pela CIA para a luta nos países socialistas: evitar por tanto tempo quanto seja possível o enfrentamento direto com os órgãos da ditadura do proletariado; ganhar uma vasta influencia entre as massas vacilantes proclamando sua vontade pacifista; preparar psicologicamente o enfrentamento inevitável para, finalmente, destacar que as autoridades puseram em marcha a agressão e que os manifestantes tem direito a legitima defesa.



Em 13 de maio, os dirigentes decidem dramatizar a luta começando uma greve de fome de 3.000 estudantes. Preparando o enfrentamento, falam cada vez mais a frequentemente da morte. Na petição da greve de fome, os estudantes da universidade de Pequim falam do momento crucial, de vida ou morte, que decidirá a sobrevivência ou o naufrágio da nação. “A morte não é nosso fim. Porém se a morte de uma pessoa pode melhorar a vida de muitos outros, se pode conseguir uma nação prospera e poderosa, então não temos o direito de atuar vilmente.”[3] Um professor chinês de inglês explica a um jornalista do Libération a tática seguida pelo movimento. “A direção do Partido comunista deve, primeiro, reconhecer a associação de estudantes e a legitimidade do nosso movimento. porém estas são só nossas primeiras demandas. Devem abandonar a praça. E se utilizam a violência, passará na China como na França de 1789, a tomada da Bastilha.”[4]

Em 22 de maio, a estudantada da Praça TianAnMen elevam ainda mais a temperatura. “Li peng e Yang Shangkun deram um golpe de Estado contrarrevolucionário. Destituíram o secretário-geral ZhaoZiyang. Todo o povo deve esmagar este golpe de Estado e rechaçar o governo de Li Peng.”[5] Esmagar um golpe de Estado contrarrevolucionário: é possível fazer isto com gentileza e pacifismo?

Na terça-feira, 30 de maio, uma bandeira ondeia sobre a Praça TianAnMen: “o 1789 da China”, abertamente apelando a uma revolução para derrotar o regime. Wang declara a um jornalista do Libération: “a história prova que não se pode conquistar a liberdade sem o recurso da violência. É lamentável, porém o sangue deve fluir. Na China não chegou ainda o momento. A violência nos afastará das massas. Primeiro temos que despertar o povo e ganhar seu apoio para a causa da democracia.”[6]

Às 21 horas do dia 3 de Junho, antes da intervenção das forças da ordem, quando ChaiLing pede aos estudantes da praça que levantem a mão e jurem: “pelo progresso do nosso país até a democracia, pela prosperidade de nosso país e para impedir que um milhão de chineses morram na guerra, juro proteger a Praça TianAnMen e a República com a vida. Nossas cabeças podem ser cortadas e podem derramar nosso sangue, porém a praça do povo não se pode perder. Estamos protos para brigar até o fim até o último de nós.”[7]

Os pacifistas: “Sabemos que deve correr o sangue!”

Encontramos uma discussão extremamente significativa e reveladora do “caráter pacifico” do movimento, na revista ProblemsofCommunismo, publicada pela Agência de informação do governo norte-americana. Prova, indiscutivelmente, duas coisas. Primeiro: a opção não violenta do movimento de Pequim era uma simples tática, uma manobra inteligente para recolher um apoio tão grande quanto fosse possível para as atividades e as teses anticomunistas. Em segundo lugar: há uma divisão de papeis. Enquanto as vozes “oficiais” cantavam a não violência, elementos “especializados” estavam preparados para a violência. Isto é o que diz a revista do governo norte-americano a proposito da “ação sem violência” destes dirigentes estudantes tão inocentes: “Considerações de tipo prática aconselharam uma aproximação não violenta. O regime comunista, todavia controla forças militares e policiais impressionantes. O exército e as forças da policia se mantiveram firmemente do lado do regime. Seria ilusão para o movimento democrático reunir-se nas montanhas como fez Mao nos anos trinta. Os democratas dizem que se a violência tem um papel no futuro da China, terá que vir do interior do exército chinês. O presidente da Primavera da China, Hu Ping, disse no Quarto Congresso da organização em Los Angeles: “Nossa organização não tem a força de dar um holpe militar”. WanRunnan, da Federação Democrática afirmou: “Nosso principio da ação sem violência não significa que o sangue não correrá. Há uma divisão de papeis. Nosso papel é organizar atividades agradáveis, racionais e não violentas. Porém, outros cumpriram outros papeis.” A ação sem violência e o apoio ao socialismo oferecem as melhores possibilidades para construir uma grande coalizão contra o regime e para atrair ao máximo de apoio oficial e não oficial no estrangeiro. Um dirigente da Primavera da China declarava no momento dos debates do Quarto Congresso: “só a bandeira dos métodos pacíficos pode reunir uma audiência ampla e plural. Se alguém aqui me pedisse dinheiro para fuzis, daria certamente os fuzis para a caça de aves.” [8]

Os amotinados atacaram primeiro

Quando o exército e a policia quiseram reestabelecer a ordem, depois de duas semanas de trabalhos explicativos, os primeiros feridos, os primeiros mortos também, caíram do lado do exército.

O jornal Libération descreveu os acontecimentos da sexta-feira, 2 de junho, nesses termos: “as massas se lançaram sobre os militares, a imensa maioria muito novos e sem armas. Milhares de soldados foram feitos prisioneiros. Seus oficiais os ordenavam que não resistissem.”[9] No sábado, 3 de junho, as 15 horas, o jornalista do Libération anotou que manifestantes atearam fogo a veículos militares. E continua: “armas, recolhidas de um dos veículos, apresentam-se. Pequim tinha já, esta tarde, um ar de motim.” “Sem violência não podemos conquistar mudanças. Devemos nos preparar para isso. Não tememos a violência”, grita um operário. Esta violência já está no ar. No sábado, as cinco da tarde, no Palácio do Povo, jovens patrulham com pedras e largos cacetes recolhidos das mãos dos policias. “Estamos preparados para o sacrifício”, clama um orador improvisado. Se cai um de nós, serão um milhão os que se levantam”. As massas gritam: abaixo o regime fascista! Cada vez mais gente fala de “responder a violência do Estado.”[10] Lemos em Le Soir: “ao redor de quilômetros, tanto no oeste como no este da Praça TianAnMen, a avenida Chang’na não é mais que uma sucessão de barricadas.”[11] O jornalista direitista The FarEasternEconomicReview escreve: “Na tarde de 3 de junho, uma nova intervenção de soldados a pé e desarmados foi parada diante do Hotel de Pequim, porém desta vez, alguns soldados são golpeados brutalmente por bandos de jovens criminais que apareceram pela primeira vez na Praça TianAnMen com barras de ferro e cassetetes. Durante vários incidentes, vários soldados perdem a vida, golpeados por mãos e pedras. Em Chong Wen Men, o corpo de um soldado foi queimado. Em outro incidente, manifestantes mutilaram o corpo de um soldado.”[12] Um cidadão belga em Pequim declara por telefone: “primeiro enviaram os tanques do 38º Exército contra os ocupantes de TianAnMen. Trataram para que não houvesse violência. Não conseguiram, houve mortos em suas fileiras.”[13]

Quem são estes grupos de assassinos? Johan Galtung examinou os vídeos da violência e escreveu: “se movem rápido e muito, lançam coquetes molotov, sabendo exatamente como destruir um veiculo, até um tanque. Aparentemente, têm uns trinta anos.”[14] Podemos razoavelmente pensar em agentes vindos de Formosa, essa base mundial de esquadrões da morte, agentes que podem atuar desde há muito tempo graças a passividade e a frouxidão do governo, e tem um papel importante nesta violência. Formosa tem interesses em que o movimento termine violentamente e tem os meios para realizar as provocações necessárias para este fim.

Empurrados deliberadamente para a morte?

Até um jornal tão anticomunista como o Libération, se viu obrigado a sugerir a hipóteses segundo a qual os dirigentes do movimento estudantil provocaram deliberadamente o fim violento de um movimento que sabiam perdido. Libération cita um dirigente ligado ao Ocidente, Lao Um: “duas semanas antes da matança, sabíamos que tudo estava perdido e Wang Juntão fez preparar documentação falsa para assegurar a fuga dos intelectuais e de alguns estudantes que dirigem o movimento, entre os que estavam eu.” E Libération formula a pergunta necessária: “Por que WangJuntão se opôs a evacuação de TianAnMen, enquanto as informações comunicadas aos ativistas pelo jornalista Dai Qing, alguns dias antes, falavam de uma iminente e indiscriminadas intervenção militar? Alguns dirigentes do movimento consideravam que um mártir serviria melhor a causa?” “Toda a estratégia do movimento se baseou em buscar um mártir”, reclamava recentemente um dos lideres da rede democrática.[15]

O exército tinha a obrigação de acabar com o motim

Em 4 de junho, era urgente para o exército intervir para encerrar aquelas provocações assassinas e aquela ocupação da Praça TianAnMen.

Desde o 1 de junho, A Voz da América informava sistematicamente que unidades do exército estavam a ponto de enfrentar-se entre elas, que os soldados se negavam a impor a lei marcial, que o governo não contava com nenhum apoio. Em outras palavras, a emissora de rádio da CIA incitava abertamente a insurreição.

O exército não podia eclipsar-se ante a violência e os assassinatos, tampouco podia permitir que os anticomunistas continuassem ocupando o coração da capital. Isto seria considerado por todas as forças antissocialistas como uma expressão da impotência do exército ante as forças da contrarrevolução, como um indicador da paralisia e da debilidade do governo e, já que logo, podia ser derrubado.

A intervenção do exército para por fim ao motim anticomunista se fazia necessário, porém, constituía, ao mesmo tempo, a prova do fracasso de certa política. A orientação pró-capitalista, ou, pró-imperialista de Hu Yaobang e de ZhaoZhiyang provocam um descontentamento justificado na população, criando uma grande confusão política. Não compreendendo o alcance do programa do núcleo duro de TianAnMen, uma parte da população de Pequim se opõe a intervenção do exército.

Para combater a violência justificada com que o país socialista se defende contra o imperialismo, os piores fascistas juram pelo humanismo e o humanitarismo. Isto demostra que quando uma força política começa a falar de humanismo é necessário fazer sempre uma analise de classe. O porta-voz do governo fascista de Formosa, no relativo as ingerências norte-americanas na República Popular da China, comentam: “os Estados Unidos provaram que eram dignos de ser os dirigentes do mundo livre ao manter bem altos os princípios do humanismo e dos direitos humanos.”[16] Agora, nos primeiros meses de 1990, em El Salvador, grupos fascistas enviados por Formosa, bombardeiam cegamente os bairros populares da capital, massacrando a população. Em visita a Formosa, em 21 de fevereiro deste ano, o presidente salvadorenho, Christiani, declarou: “Juntos marchamos pelo caminho da liberdade e da democracia.”[17] No momento da agressão contra Panamá, um Estado independente, os Estados Unidos mataram, segundo Eduardo Galeano, a 7.000 pessoas. Todos os crimes inqualificáveis do imperialismo, sistematicamente são apagados da memória de nossos povos, enquanto que a repressão justificada dirigida contra a sublevação imperialista, em Pequim, é recordada pela BBC, diariamente, semana após semana desde há mais de um ano, contra o maior crime contra a humanidade. Não podemos estar do lado dos povos de El Salvador, de Guatemala, de Granada, de Panamá, de Argentina, de Filipinas, povos aterrorizados pelos Estados Unidos e por Formosa, e não estar do lado do governo socialista chinês que combate as tentativas de reconquista da China por parte de Formosa e dos Estados Unidos.

A China numa encruzilhada

Como pensar o futuro deste país imenso que é a China Popular, uma ano depois da repressão do motim contrarrevolucionário de Pequim?

Hoje, existe o risco de que a agitação contrarrevolucionária levante-se de novo e sempre existe o perigo de que a linha revisionista e pró-capitalista se faça com a direção do Partido Comunista Chinês. Se dessa maneira a direita pode minar o interior do Partido para depois arremata-lo, China se submergirá em um caos catastrófico que, em alguns anos, custará a vida de milhões de pessoas.

China poderá evitar este cataclismo se a correção, a retificação e a revolucionarização do Partido Comunista continuar até o fim. Só o socialismo pode salvar a China e só o Partido Comunista pode dirigir a construção socialista. A história recente tanto da Europa de Leste, como da China, nos diz que nos países socialistas existem dos tipos de luta de classes.

Uma contra os reacionários, os elementos inimigos do socialismo, os agentes do imperialismo. E outra luta que tem lugar no interior do Partido para a conservação da suas tradições revolucionárias. Está luta pela revolucionarização constante do Partido, está luta contra as tendências face a degeneração é sem duvida, a mais complexa, porém também a mais cruel.

Nos estamos em desacordo com os que fazem da luta pela “democracia” a questão essencial. O exemplo de TianAnMen demostra claramente que a palavra “democracia”, supostamente acima das classes é utilizada para propagar o desenvolvimento livre de toda classe de organizações antissocialistas e pró-imperilistas. Assim, a “democracia” é a consigna em Formosa e significa, nestes casos, o direito do partido fascista Kuomintang a participação ativa e constante das massas populares na edificação do socialismo, em sua defensa e no aperfeiçoamento de seu sistema político e econômico. O desenvolvimento da democracia socialista está condicionada pela revolucionarização do Partido. Um elevado grau de democracia socialista depende do trabalho exemplar dos comunistas, de seus laços com as massas, de seu estilo de vida simples e de luta dura, de seu espirito de sacrifício, de sua fidelidade, não em palavras senão em feitos, ao marxismo-leninismo e de sua capacidade de centralizar todas as ideias progressistas das massas.

Porém o Partido cometeu erros...

Objetam-nos, em certas ocasiões, que o Partido Comunista Chinês cometeu erros e falhas. Isso é evidente. Porém, qual são as conclusões que se retiram destas considerações? Situar-se no campo da contrarrevolução e do revisionismo é a cura para a enfermidade do socialismo? Toas as correntes demagógicas acentuaram sempre os erros e as debilidades do Partido, para impulsionar as concepções antissocialistas e contrarrevolucionárias.

Os que apoiaram aos heróis da Praça TianAnMen puderam agora constatar que apoiaram a uma direção ferozmente antissocialista e pró-Formosa. Os que apoiaram ao moderado, ao reformador, ao homem que da provas de sua flexibilidade e de sua vontade de dialogo, ZhaoZhiyang, veem hoje que apoiaram uma linha política de privatizações e mercado livre. Lutar contra os erros e as debilidades do Partido de um ponto de vista revolucionário, e lutar pela depuração do Partido dos elementos burgueses, oportunistas, burocráticos e podres, é lutar pela conservação dos princípios marxista-leninistas e por seu desenvolvimento.

Gerontocracia positivo e negativo

Os eventos na China mostrou-nos, mais uma vez, que sob o socialismo a luta de classes no partido é extremamente complexa. É necessário adotar uma atitude de estudo de pesquisa e análise para encontrar verdadeiros interesses de classe que estão por trás algumas proposições tentadoras.

Queremos desenvolver esta ideia, tomando o exemplo de demagogia da imprensa burguesa contra a gerontocracia, o despótico velho e corrompidodos velhos conservadores opostos à juventude democrática e desinteressada.

Primeiro, na China, entre a velha guarda do partido, alguns são de direita, esquerda e centro. Vamos começar direito. Em um documento do Partido Comunista Chinês, em 1984, podemos ler: "Há um pequeno número de antigos membros e funcionários do partido que não é capaz de respeitar os princípios do partido. Quando encontram uma tendência doentia, seguem-na". "No momento que se comprometeu a discutir a abertura para o mundo exterior, algumas pessoas do governo e do Partido foram atraídas como abelhas pelo mel”.[18] na luta no seio do Partido, estes velhos defendiam as posições de Hu Yaobang e de ZhaoZhiyang e nem o imperialismo de Formosa se inquietou por sua idade, jpa que lutavam pela causa boa, a mesma que destes bons velhos: o papa de Roma, Ronald Reagan e Willy Brandt.

Pelo contrário, Deng Xiaoping era, para os olhos do Ocidente, o protótipo do velho tirânico e retrograda. E, sem embargo, quando Deng apoio a política revisionista de Hu Yaobang e de ZhaoZhiyang, o Ocidente não o poupou por isso. Deng defendeu a política nefasta de ZhaoZhiyang até abril de 1989. E até o momento do começo do movimento estudantil, a imprensa do Kuomintang manteve a esperança de que Deng se posiciona-se do lado lado da reforma e da democracia. Uma revista de Formosa escreveu: “o lugar de Deng na história depende desta decisão”.[19] Durante dez anos, o velho Deng manteve uma posição centrista, ainda inclinando-se mais a direita.

Outros velhos, como Chen Yun e Li Sien, criticaram desde há muitos anos vários aspectos da política de Deng Xiaoping. Fue Chen Yun é o que mais fortemente combateu a orientação para o mercado livre e o abandono da planificação. Também é – e vale a pena assinalar, já que Chen Yun representa, aos olhos do imperialismo, aos conservadores e corrompidos – quem com mais constância critico todos os casos de corrupção no seio do Partido.

Resumindo, a luta de classes afeta tanto aos velhos como aos jovens, a população e ao Partido. Portanto, é preciso analisar a fundo e a coerência das diferentes correntes políticas.

Resumiendo, la lucha de clases afecta tanto a los viejos como a los jóvenes, a la población y al Partido. Por tanto, hay que analizar el fondo y la coherencia de las diferentes corrientes políticas.

A direita pró-imperialista foi derrotada na China

Qual as conclusões que podemos tirar dos meses da confrontação política em Pequim? A luta de classes que se desenvolve na primavera de 1989 acabou em uma importante derrota para a direita pró-capitalista do Partido Comunista Chinês. Junto a ZhaoZhiyang, foram depurados toda uma serie de intelectuais de direita e de extrema-direita, como Yan Jiaqi.

No conjunto, a atual direção se situa mais a esquerda. As seguintes são algumas indicações, a primeiro no campo político e ideológico.

Há uma nova consciência do perigo de subversão e de infiltração, organizadas a grande escala na China pelo imperialismo e por Formosa. O Partido Comunista retoma a concepção de Mao segundo a qual a luta de classes continua sob o socialismo, assim como que persiste o perigo de uma restauração capitalista. Dentro do Partido Comunista Chinês, a capitulação ante o imperialismo. O Partido põe em primeiro plano o trabalho político e ideológico como principio diretivo. A necessidade dos intelectuais de fundir-se com os camponeses e operários é reafirmada. Alguns redescubriram as obras de Mao Tsé-Tung, em um intento de compreender as características da luta de classes.

No campo econômico também encontramos certos acentos novos

A planificação socialista recupera seu papel, importantes fundos são destinados à agricultura, o desenvolvimento da empresa privada se freou, a campanha contra a corrupção e contra as desigualdades se fortaleceu.

A importância de informar-se

Entretanto, a luta é complexa e seu desenvolvimento incerto. É importante seguir os debates e analisar os pontos de vista diferentes que se manifestam no seio do Partido Comunista Chinês. Queremos sublinhar a importância de obter informação de primeira mão sobre as posições dos comunistas chineses. É preciso dizer que o desprezo de numerosos progressistas ocidentais a experiência socialista de mil milhões de pessoas é simplesmente escandalosa. Os que nem sequer dão ao esforço de ler os documentos do Partido Comunista Chinês, mantem fixos, com absoluta arrogância, suas críticas e suas receitas infalíveis para salvar o socialismo chinês. A mais elementar honradez intelectual nos obriga a seguir com atenção e interesse as publicações chinesas. Ali encontramos tanto analises pertinentes como teses discutíveis e, também, pontos de vista revisionistas. Informar-se objetivamente sobre a política do Partido comunista é instrutivo em si mesmo. Nem estamos obrigados a emitir um juízo sobre todas as medidas e todas as teses nem devemos mudar nossas opiniões demasiado rápido e demasiado categoricamente.

O Futuro da China é incerto

A partir de 1986, certos especialistas norte-americanos consideravam que na China se chegava a um ponto em que não havia mais retorno e no qual a restauração do capitalismo era inevitável. As descoletivizações no campo, o desenvolvimento da empresa privada, a autonomia das empresas, o nascimento de uma classe tecnocrata influenciada pelo modelo ocidental, as zonas econômicas especiais, a inversão estrangeira, tudo isto, diziam, constituía uma base solida para o capitalismo. Certos revolucionários consideravam que Deng Xiaoping concluirá a restauração do capitalismo na China. Porém a mudança na orientação política e econômica, depois de junho de 1989, demonstraram a prematuridade destas conclusões.

Poderá o Partido Comunista Chinês continuar durante muito tempo seus esforços de retificação e aprofundar suas críticas sobre os erros cometidos?

Os especialistas em China lançam varias hipóteses sobre o futuro.

Alguns creem que os revisionistas no Partido utilizaram um discurso “mais a esquerda” aguardando o surto de graves problemas econômicos e sociais para voltar ao poder.

Outros consideram que a retificação política e ideológica atual será superficial, que o burocratismo, a corrupção e o parasitismo continuaram difundindo-se e que o processo de putrefação prosseguirá, como está sucedendo desde 1978. Os acontecimentos de junho de 1989 tão só seriam uma pausa na marcha face ao capitalismo.

A terceira escola pensa que Deng Xiaoping vai virar de novo a direita para apoiar outra tendência na linha da de Hu Yaobang e ZhaoZhiyang. Recordando que em fevereiro de 1989, Deng ainda afirmava que o Partido não cometia erros importantes desde 1978. Está escola pensa que Deng regressara a uma linha de reformas de tipo capitalista.

Estas três hipóteses falam de uma vitória final das tendências revisionistas na China.

Outros especialistas preveem um surto na China baixo a pressão de terríveis problemas econômicos, sociais e demográficos, pelo crescimento dos particularismos províncias e pela ação das forças contrarrevolucionárias e pró-Formosa. A China conheceria então uma nova era de guerras civis vorazes cuja saída é imprevisível.

Finalmente, podemos considerar que a direção atual do Partido conseguirá fazer uma síntese entre os princípios políticos corretos que Mao elaborou no momento da Revolução Cultural e a política econômica mais flexível posta em pratica desde então. Assim, a China poderia encontra um novo dinamismo tanto no domínio político como no econômico.

Uma confirmação de certas teses de Mao Tsé-Tung

Durante a Revolução Cultural, Mao Tsé-Tung não utilizou os métodos adequados para resolver o problema da degeneração capitalista, ainda que tenha abordado corretamente um problema crucial. A evolução política dos últimos dez anos confirmou amplamente algumas de suas analises.

Mao disse: “se nos afastarmos das massas, se não nos esforçarmos em resolver seus problemas, os camponeses levantarão suas foices, os operários saíram a rua para manifestar-se, os estudantes provocaram distúrbios. Hoje, existe gente que crê que com a conquista do poder do Estado se pode descansar em paz e até agir como um tirano. Se se encontram com as massas que lhes recebem a pedradas ou a golpes de foice consideram que não merecem isso e se aplausos. Não podemos deixarmo-nos contaminar por esse estilo de trabalho burocrático, que forma uma casta aristocrática apartada das massas.” “No passado, levamos a luta ao campo, as fábricas e aos meios culturais, empreendemos o movimento educativo socialista, sem chegar por isso a resolver o problema; porque não encontrávamos a forma de mobilizar as massas em todos os campos, a partir da base, para que denunciassem nosso lado negativo.”

“A sociedade socialista abarca um período bastante largo no qual continua existindo as classes, as contradições de classe e a luta de classes, ao mesmo tempo em que a luta entre a via socialista e a via capitalista e o perigo de uma restauração do capitalismo. É necessário compreender que esta luta será larga e complexa, redobrar a vigilância e buscar a educação socialista. Tem-se de resolver corretamente os problemas relativos as contradições de classe, distinguir as contradições entre nós e o inimigo, e as contradições no seio do povo, e depois buscar uma solução justa. Se não for assim, um país socialista como o nosso passará a ser o contrário, mudará de natureza e começará a restauração capitalista.”

No XI Congresso do Partido Comunista Chinês, HuaKuofeng explicou um principio essencial, avançado por Mao: “afirmando que a burguesia existe no Partido comunista, o presidente Mao queria dizer que existem membros que apostam na via capitalista. Enquanto o poder do Partido e do Estado está nas mãos do núcleo que segue a via marxista-leninista, os seguidores da via capitalista serão muito poucos e serão expulsos uma depois do outro. Impedindo a formação de uma burguesia. Só quando os pró-capitalistas se apoderarem do poder do Partido e do Estado – como na União Soviética – será possível a formação de uma burguesia monopolista e a conversão do Partido numa organização burguesa.”[20]

O imperialismo em crise lança uma ofensiva planetária para reconquistar tanto os países nacionalistas do Terceiro Mundo como os países socialistas, acentuando a exploração dos operários da metrópole.

Um internacionalista estará sempre do lado dos operários e dos trabalhadores em luta no seu próprio país. defenderá sempre os movimentos que, no Terceiro Mundo, combatem o imperialismo e a reação. Apoiará sempre os países socialistas, nos êxitos e nas dificuldades, e aprenderá de suas vitorias e de suas derrotas. No clima atual triunfalista da direita e do anticomunismo, é importante dar a conhecer as experiências e os pontos de vista dos países que preservaram a via socialista. Não temos que deixa nos intimidar pela arrogância estupida da direita, senão devemos atrevermo-nos a defender o socialismo, atreve-se a defender a China, Cuba, Albânia ou a República Popular Democrática da Coreia.

Resumindo, os povos, unindo seus esforços, conseguirão enterrar o imperialismo e a causa do socialismo triunfará.

EPÍLOGO

Os ecologistas e a ofensiva do imperialismo americano

No primeiro aniversário do “movimento democrático” de Pequim, teve lugar na Câmara um debate sobre este acontecimento, em 29 de junho de 1990. Este debate nos ensino, mais uma vez, até que ponto a lavagem cerebral diária dos meios “livres” influem sobre os meios que se consideram progressistas. Em sua intervenção, em nome do grupo ecologista Agalev-Ecolo, Xavier Winkel, conhecido por suas posturas progressistas, defende a linha seguida pela direita norte-americana. Vendo a mare de mentiras e intoxicações da imprensa “livre”, é compreensível que militantes ecologistas honrados se deixaram enganar pelas vozes das multinacionais. Buscamos debate franco, apoiado por fatos indiscutíveis, por documentos e provas. Estamos seguros de nossa causa. A arrogância do imperialismo não nos impressiona, ao contrário, estamos seguros de que as pessoas que mantem o espirito lúcido, que não padecem da histeria antissocialista, se verão obrigadas a refletir seriamente sobre a correção de nossa postura, depois de escutar nossas provas e nossos argumentos.

Xavier Winkel repete uma tese central do imperialismo norte-americano e europeu, quando reclama “uma continuação das reformas (na China) que tornaram possível a chegada das pessoas aos Estados democráticos”.

No seio do poder norte-americano, bem unido na sua política anticomunista e de dominação mundial, se dividem duas tendências táticas: a fração dominante, representada por Bush e Nixon, quer manter as relações com a China com o objetivo de proteger, apoiar e animar as forças pró-capitalistas no seio do Partido Comunista Chinês. Outra fração predica um anticomunismo mais aberto e uma tática mais agressiva para, no praço mais breve possível, dobrar a China socialista e criar as condições propicias para uma contrarrevolução vitoriosa de tipo polaco, romeno ou húngaro. Xavier Winkel defende o programa desta última fração do imperialismo norte-americano. “O que não aceito, disse, é que representantes do governo belga se reúnam com responsáveis chineses.” “China necessita manifestamente do apoio de outros países e as sanções econômicas são eficazes. Bélgica e os doze devem manter as sanções políticas e econômicas” Em resposta, Eyskens respondeu que Bélgica “continua mantendo uma atitude firme e decidida”. Xavier Winkel respondeu: “estou contente com a resposta do ministro.”[21]

Isto demonstra como gente que se crê progressista, está,as vezes, completamente intoxicada pela propaganda imperialista. O Exército Popular teve que intervir em Pequim para acabar com um motim violento que pretendia derrubar o socialismo; houve trezentos mortos. Xavier Winkel pensa que todo encontro com dirigentes chineses é censurável com o sucedido e que faz falta sanções políticas e econômicas contra este país do Terceiro Mundo que conta com mil milhões de habitantes. Provavelmente Xavier “esqueceu” que o exército norte-americano acaba de cometer uma agressão militar injustificada contra o Panamá, em que foram massacradas entre 5.000 e 7.000 pessoas. Ecolo-Agalev exigiu que a Bélgica acabasse com todos os contatos com o governo norte-americano e que aplicasse sanções políticas e econômicas contra os Estados Unidos? Entretanto, estas medias estariam justificadas já que a causa do imperialismo norte-americano é indefensível. Porém, Ecolo-Agalev prefere não faze nada contra o imperialismo norte-americano e continuar repetindo cegamente a agitação antissocialista que o conjunto das forças imperialistas manejam desde há muitos anos contra as decisões justificadas da China.


[1] Libération collection, nº 1, junho de 1989, p.30.
[2] Ibídem, p.37.
[3] Inside Mainland China, agosto 1989, p.6.
[4] Libération collection, op. cit. p.37.
[5] Ibídem, p.78.
[6] Ibidem, p.78.
[7] The Free China Journal, 15 de junho de 1989, p.3.
[8] Problems of communism, setembro-outubro de 1989, Chinese democracy in 1989, p. 2.
[9] Libération, 3 e 4 de junho de 1989.
[10] Libération, 5 de junho de 1989, p.3-4.
[11] Libération, 8 de junho de 1989, p.2.
[12] FEER, 15 de junho de 1989, p.12.
[13] De Morgen, 7 de junho de 1989, p.5.
[14] De Groene Amsterdammer, 11 de outubro de 1989, p.9.
[15] Libération, 25 de abril de 1990, p. 36-37.
[16] Sinorama, nº 8, agosto de 1989, ROC-Taiwán, Shaw Yu-ming, p.51.
[17] The Free China Journal, 26 de fevereiro de 1990, p. 36-37.
[18] Chen Yun, en Inside Mainland China, Taiwan, novembro de 1985, p. 19-20.
[19] Issues and studies, maio de 1989, Student Démonstrations, p.6.
[20] Cidado en AlainBouc: Larectification. Fédérop. Lion, 1977, p.170.
[21] Câmara belga, reunião pública da câmara, 29 de 1990, Informe analítico, p. 1235-1237.

 
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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Palestina ocupada:Assentamentos ilegais e sobretudo injustos

O enviado da ONU pede que se boicotem as empresas que se beneficiam com os assentamentos ilegais ImprimirPDF
imagemPCIsrael
Domingo, 28/10/12, 17:16 hs.
O Relator Especial da ONU para os assuntos humanitários nos territórios ocupados palestinos, Richard Falk, pediu que se boicotassem todas as empresas que se beneficiam de assentamentos ilegais de Israel nos territórios palestinos ocupados, e afirmou que esta proposta deve ser submetida à Assembleia Geral da ONU, quinta-feira.
Falk disse que as os negócios, referidos em seu relatório que foi apresentado à Assembleia Geral, e outras atividades que lucram com empresa de colonatos de Israel, deve ser boicotado até que cumpram com as normas internacionais dos direitos humanos e do direito humanitário. O seu relatório é intitulado "Relatório do Relator Especial sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos desde 1967".
O relatório aponta as empresas Caterpillar, Motorola e Hewlett Packard, dos Estados Unidos, além de Veolia Ambiental da França, G4S na Grã-Bretanha, o Grupo Volvo e Assa Abloy da Suécia, Ahava, Elbit System e Mehadrin de Israel, Dexia da Bélgica, a Cemex do México e Riwal Holding Group da Holanda.
Em seu relatório, Falk afirma que a Caterpillar fornece a Israel equipamentos, tratores e materiais de construção que são usados, ​​por Israel, para demolir casas palestinas, escolas e na destruição de pomares palestinos. Ele disse que a participação dessas empresas na ocupação israelense da Palestina, especialmente em assentamentos de Israel, são uma violação direta de normas de direito internacional, dos tratados de direitos humanos, incluindo o Pacto Global das Nações Unidas e dos princípios orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos.
Falk acrescentou que a comunidade internacional deve tomar medidas políticas e legais contra as empresas que estão envolvidas em negócios que beneficiam a ocupação ilegal israelense da Palestina, especialmente em assentamentos ilegais de Israel.
Os Estados Unidos rebateu o relatório através de sua embaixadora na ONU, Susan Rice, que afirmou que este relatório "envenena o ambiente para a paz". Israel também denunciou o relatório e disse que ele é "tendencioso" e pediu que o professor Falk seja substituido.
Os assentamentos de Israel nos territórios ocupados são ilegais porque contrariam as normas de Direito Internacional e a Quarta Convenção de Genebra, eles são construídos em propriedade privada palestinas, e em "terras do Estado", localizadas na Cisjordânia ocupada, e Israel, como um poder que executa e mantém uma ocupação ilegal da Palestina, não tem o direito de construir sobre essas terras.
(Legenda da imagem:
Manifestantes palestinos junto com ativistas pela paz, internacionais e de Israel, invadem o supermercado Rami Levi, localizado no assentamento Binyamin Sha'ar, para protestar contra a ocupação israelense e para convocar um boicote em assentamentos israelenses, 24 de outubro de 2012 (Foto: Activestills) )
                    Fonte: PCB

Lista de contas ilegais dos gregos ricos.E dos brasileiros?Ainda não saiu.

 

 

Grécia detém jornalista que divulgou lista de compatriotas com contas ilegais na Suíça

Ex-ministro das Finanças admitiu que governo não agiu por medo de enfrentar elites

Agência Efe

Edição da revista Hot Doc que contém lista com os nomes de dois mil gregos que possuem contas na Suíça

Um jornalista grego foi detido neste domingo (28/10) por ter revelado os nomes de mais de dois mil membros da elite financeira e política do país que possuem contas bancárias ilegais na Suíça. As autoridades gregas ainda entraram com processo contra Kostas Vaxevanis por violação de privacidade.

A lista, publicada na última edição da revista Hot Doc, foi entregue ao governo do país há dois anos pela então ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, mas ainda era desconhecida do grande público. O documento mostra que 2059 gregos sonegaram mais de 1,5 bilhão de dólares em impostos e enviaram ilegalmente elevadas somas ao país europeu.


 
O editor acusou as autoridades de não tomarem nenhuma providência frente ao crime financeiro em plena crise econômica. "Se alguém deve prestar contas perante a lei são aqueles ministros que esconderam a lista e disseram que ela não existe. Só fiz o meu trabalho. Sou jornalista e fiz o meu trabalho", disse Vaxevanis em vídeo enviado para a agência de notícias Reuters.

O Ministério Público se defendeu das acusações e afirmou que a revista não respeitou a legislação de informações pessoais. “Não há provas de que as pessoas ou empresas incluídas na lista tenham violado a lei. Não há provas de que eles violaram a lei de sonegação de impostos ou lavagem de dinheiro", disse um oficial.

Agência Efe

O editor da revista Hot Doc, Kostas Vaxevanis (acima), foi preso pela polícia grega por violação de privacidade

"Em vez de prender os sonegadores de impostos e ministros que tinham a lista em suas mãos, eles estão tentando prender a verdade e a liberdade da imprensa", acrescentou Vaxevanis. Para apoiadores do jornalista, sua prisão foi uma forma encontrada pelas autoridades de ocultar as denúncias e apaziguar possíveis manifestações.

A revelação do documento ocorre em um momento complicado na Grécia, que enfrenta dura recessão econômica e altos índices de desemprego. O recém-eleito governo continuou com a política de austeridade e anunciou no dia 24 de outubro novos cortes no orçamento público, o que provocou a indignação de grande parte da sociedade.

Medo das elites

Em comunicado, o partido de esquerda Syriza (Coalizão da Esquerda Radical) condenou a prisão do editor da Hot Doc, que caracterizou como “provocativa e inaceitável”. "A acusação contra Vaxevanis é política, e como tal deve ser enfrentada pela totalidade do povo grego”, diz o texto citado pelo site de notícias Athens News. “A população sofre com as consequências da política mais classista já conhecida pela Grécia desde a restauração da democracia”.

O partido comunista do país aderiu às críticas. “O deboche e a enganação do povo grego por aqueles que os enganam e os utilizam de acordo com suas conveniências políticas e econômicas deve parar”, afirmou o grupo em texto. “O sistema econômico e político que prevalece não quer que as pessoas saibam a verdade e o seu objetivo é desorientar e enganar o povo”, acrescentou.

George Papaconstantinou, ex-ministro das Finanças que recebeu a lista de Lagarde, disse que as autoridades gregas não agiram por medo de confrontar a elite econômica e política do país. O membro do PASOK (Partido Socialista Pan-Helênico) ainda alertou que o problema da evasão fiscal do país é muito mais extenso do que estes dois mil nomes.

“A quantia não é insignificante, mas a verdade é que, se comparada a outras listas que o Ministério das Finanças possui, ela não é o tesouro encantado que todos esperam”, disse ele segundo o jornal britânico Guardian. “Existe uma lista do Banco da Grécia com 54 mil pessoas que tiraram 22 bilhões do país. Isso é oficial e pode ser utilizado na Justiça”, acrescentou.

Histórico

O documento foi adquirido pelas autoridades francesas há quatro anos, em uma investigação contra Herve Falcianium, ex-funcionário do banco HSBC que copiou detalhes de contas bancárias dos correntistas em um computador pessoal. Em 2010, Lagarde entregou a lista em um CD e USB para Papaconstantinou, que diz ter iniciado as investigações.

Por conta de alegação da administração atual do Ministério das Finanças, de que não recebeu o documento do ex-ministro, o Parlamento grego abriu o inquérito sobre o caso. Depois do esclarecimento de Papaconstantinou, as autoridades disseram que encontraram a lista.

Furacão Sandy destruiu e matou no Oriente de Cuba

Cuba intensifica trabalhos de recuperação após furacão Sandy PDFImprimirE-Mail
Escrito por Erica Soares
lunes, 29 de octubre de 2012

Imagen activa29 de octubre de 2012, 13:58Havana, 29 out (Prensa Latina) As autoridades cubanas intensificam hoje os trabalhos de recuperação, depois da passagem na quinta-feira do furacão Sandy, que golpeou a região leste e trouxe intensas chuvas para o centro do país.
De outras partes da ilha chega a ajuda ao Oriente cubano, após o açoite do furacão, que afetou a agricultura, o fundo habitacional e os serviços elétricos e telefônicos dessa região.

De acordo com o diretor da União Nacional Elétrica, Jorge Berríos, em Holguín, terceira província mais povoada do país com mais de um milhão de habitantes, um contingente de cerce de 200 eletricistas e forças de apoio logístico, procedentes das províncias ocidentais, trabalham a todo ritmo no restabelecimento do serviço elétrico.

Devido aos enormes esforços da fase recuperativa, em Holguín 61,8 por cento dos consumidores já possuem eletricidade.

Nesse sentido, o departamento de Granma apresenta 94,9 por cento de seus habitantes com serviço elétrico restabelecido, enquanto em Guantánamo 55,65 por cento já contam com esta facilidade.

Em Santiago de Cuba -segunda província mais povoada com mais de um milhão de habitantes e a mais afetada pelo furacão-, nove circuitos têm serviços parciais na cidade capital provincial, segundo informou o diretor de geral da União Elétrica, Raúl García.

Diante da incidência do fenômeno climatológico, o presidente cubano, Raúl Castro, visitou províncias centrais afetadas pelas chuvas de Sandy e a cidade de Santiago de Cuba.

Durante sua visita, o Chefe de Estado chamou a aproveitar com eficiência os recursos dirigidos às províncias orientais golpeadas pelo evento meteorológico.

A respeito, os agricultores ocidentais enviam diariamente de Artemisa e Mayabeque três vagões de trens carregados de produtos agrícolas para o oriente do país.

De acordo com o diretor adjunto em funções da Unión Nacional de Acopio, Joel Castillo, esta estratégia será mantida até a primeira quinzena de novembro, quando pretendem completar as 1.600 toneladas, essencialmente de batata-doce, como complemento às colheitas de ciclo curto realizadas nesses territórios.

Em coordenação com o Ministério de Transporte, também estão sendo enviadas a Santiago de Cuba 14 toneladas de malanga para dietas médicas e, de Ciego de Ávila, serão transportadas por estrada cerca de 500 toneladas de banana que serão distribuídas de Camagüey a Guantánamo.

Em seu trânsito pela região oriental de Cuba, o furacão Sandy, de categoria dois com ventos superiores a 175 quilômetros por hora, deixou enormes perdas materiais e 11 mortos.

Nas províncias centrais afetadas pelas chuvas e inundações, tudo regressa à normalidade com a volta de milhares de pessoas às suas casas antes evacuadas.

rc/jha/es
Modificado el ( lunes, 29 de octubre de 2012 )

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Monopólio Midiático na América Latina

 

 

 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012




Por Fernando Arellano Ortíz.
Fonte: www.patrialatina.com.br

"Não há erro: os meios de comunicação simplesmente são grandes
conglomerados empresariais que têm interesses econômicos e políticos.
Na América Latina, os monopólios midiáticos têm um poder fenomenal que
vêm cumprindo na função de substituir os partidos políticos de direita
que caíram em descrédito e que não têm capacidade de chamar a atenção
nem a vontade dos setores conservadores da sociedade”. Assim o
politólogo e cientista social argentino Atilio Boron caracteriza a
denominada canalha midiática.

Nesse sentido, explica, "cumpre-se o que muito bem profetizou Gramsci
há quase um século, quando disse que diante da ausência de
organizações da direita política, os meios de comunicação, os grandes
diários, assumem a representação de seus interesses; e isso está
acontecendo na América Latina”. Em praticamente todos os países da
região, os conglomerados midiáticos converteram-se em "operadores
políticos”.

A crise do capitalismo e o triunfo de Chávez

Boron, que dispensa apresentação por ser um importante referente da
teoria política e das ciências sociais em Iberoamérica, foi um dos
expositores principais do VI Encontro Internacional de Economia
Política e Direitos Humanos, organizado pela Universidad Popular
Madres de la Plaza de Mayo, que aconteceu em Buenos Aires, entre os
dias 4 e 6 de outubro.

Tópicos como a crise estrutural do capitalismo, o fenômeno da
manipulação dos monopólios midiáticos e o que significa para a América
Latina o triunfo de Hugo Chávez foram tratados com profundidade por
esse destacado politólogo, sociólogo e investigador social, doutorado
em Ciências políticas pela Universidade de Harvard e, atualmente,
diretor do Programa Latino-americano de Educação a Distância em
Ciências Sociais do Centro Cultural da Cooperação Floreal Gorini, na
capital argentina.

Para aprofundar sobre alguns desses temas, o Observatorio
Sociopolítico Latinoamericano (www.cronico.net) teve a oportunidade de
entrevistá-lo no final de sua participação em dito fórum acadêmico
internacional.

Rumo ao projeto pós-capitalista

No desenvolvimento de sua exposição no encontro da Universidad Popular
de Madres de la Plaza de Mayo, Boron analisou o contexto da crise
capitalista.

"Hoje em dia é impossível referir-se à crise e à saída da mesma sem
falar do petróleo, da água e das questões meio ambientais. Essa é uma
crise estrutural e não produto de uma má administração dos bancos das
hipotecas subprime”.

Recordou que, recentemente, foram apresentadas propostas por parte dos
Prêmios Nobel de Economia para tornar mais suave a débâcle
capitalista. Uma, a esboçada por Paul Krugman, que propõe revitalizar
o gasto público. O problema é que os Estados Unidos estão quebrados e
o nível de endividamento das famílias nos Estados Unidos equivale a
150% dos ingressos anuais. "Krugman propõe dar crédito ao Estado para
que estimule a economia. Porém, os Estados Unidos não têm dinheiro
porque decidiram salvar os bancos”.

A outra proposta é de Amartya Sem, que analisa a situação do
capitalismo como uma crise de confiança e é muito difícil
restabelecê-la entre os poupadores e os banqueiros devido aos
antecedentes desses últimos. Por isso, essas não deixam de ser "pseudo
explicações que não levam à questão de fundo. Não explicam porque caem
os índices do PIB e sobem as bolsas. Ambos índices estariam
desvinculados e as bolsas crescem porque os governos injetaram moeda
ao sistema financeiro”.

A crise capitalista serviu para acumular riqueza em poucas mãos, uma
vez que "o que os democratas capitalistas fizeram no mundo
desenvolvido foi salvar os banqueiros, não os endividados, ou seja, as
vítimas”.

Exemplificou com as seguintes cifras: enquanto o ingresso médio de uma
família nos Estados Unidos é de 50.000 dólares ao ano, o daqueles de
origem latina é de 37.000 e o de uma família negra é de 32.000, o
diretor executivo do Bank of America, resgatado, cobrou um salário de
29 milhões de dólares.

Então, é evidente que cada vez mais há uma tendência mais regressiva
de acumular riqueza em poucas mãos. Em trinta anos, o ingresso dos
assalariados foi incrementado em 18% e o dos mais ricos cresceu 238%.

"No capitalismo desenvolvido houve uma mutação e os governos
democráticos transformaram-se em plutocracias, governos ricos”. Porém,
além disso, "o capitalismo se baseia na apropriação seletiva dos
recursos”.

Por isso, citando o economista egípcio Samir Amin, Boron afirma sem
medo que "não há saída dentro do capitalismo”.

Como alternativa, Boron sustenta que "hoje, pode-se pensar em um salto
para o modelo pós-capitalista. Há algo que pode ser feito até que
apareçam os sujeitos sociais que darão o ‘tiro de misericórdia’ no
capitalismo. O que se pode fazer é desmercantilizar tudo o que o
capitalismo mercantilizou: a saúde, a economia, a educação. Assim,
estaremos em condições de ver o amanhecer de um mundo mais justo e
mais humano”.

A reeleição na Venezuela

Sobre a matriz de opinião que os monopólios midiáticos da direita têm
tentado impor no sentido de que a reeleição do presidente Chávez é um
sintoma de que ele quer se perpetuar no poder, a análise de Boron foi
contundente:

"Há um grau de hipocrisia enorme nesse tema, porque os mesmos que se
preocupam com o fato de Chávez estar por 20 anos no governo, aplaudiam
fervorosamente a Helmut Kohl, que permaneceu no poder por 18 anos, na
Alemanha; ou Felipe González, por 14 anos, na Espanha; ou Margaret
Thatcher, por 12 anos, na Inglaterra”.

"Há um argumento racista que diz que somos uma raça de corruptos e
imbecis; que não podemos deixar que as pessoas mantenham-se muito
tempo no poder; ou há uma conveniência política, que é o que acontece
ao tentarem limar as perspectivas de poder de líderes políticos que
não são de seu agrado. Agora, se Chávez instaurasse uma dinastia onde
seu filho e seu neto herdassem o poder, eu estaria em desacordo.
Porém, o que Chávez faz é dizer ao povo que eleja; e, em âmbito
nacional, por um período de 13 anos, convocou o povo venezuelano para
15 eleições, das quais ganhou 14 e perdeu uma por menos de um ponto;
e, rapidamente, reconheceu sua derrota. Então, não está dito em nenhum
lugar serio da teoria democrática que tem que haver alternância de
lideranças, na medida que essa liderança seja ratificada em eleições
limpas e pela soberania popular”.

Confira a entrevista:

A canalha midiática assume a representação dos interesses da direita

Hoje, no debate da teoria política, fala-se de "pósdemocracia”, para
significar o esgotamento dos partidos políticos, a irrupção dos
movimentos sociais e a incidência dos meios de comunicação na opinião
pública. Que alcance você dá a esse novo conceito?

Eu analiso como uma expressão da capitulação do pensamento burguês
que, em uma determinada fase do desenvolvimento histórico do
capitalismo, fundamentalmente a partir do final da I Guerra Mundial,
apropriou-se de uma bandeira -que era a da democracia- e a assumiu. De
alguma maneira, alguns setores da esquerda consentiram nisso. Por quê?
Bom, porque estávamos um pouco na defensiva e, além disso, o
capitalismo havia feito uma série de mudanças muito importantes. Por
isso, a ideia de democracia ficou como se fosse uma ideia própria da
tradição liberal burguesa, apesar de que nunca houve um pensador dessa
corrente política que fizesse uma apologia do regime democrático.
Estudavam sobre isso, possivelmente, a partir de Thorbecke ou de John
Stuart Mill; porém, nunca propunham um regime democrático; isso vem da
tradição socialista e marxista. No entanto, apropriaram-se dessa
ideia; passaram todo o século XX atualizando-a.

Agora, dadas as novas contradições do capitalismo e ao fato de que as
grandes empresas assumiram a concepção democrática, a corromperam e a
desvirtuaram até o ponto de torná-la irreconhecível, perceberam que
não tem sentido continuar falando de democracia. Então, utilizam o
discurso resignado que diz que o melhor da vida democrática já passou;
um pouco a análise de Colin Crouch: o que resta agora é o
aborrecimento, a resignação, o domínio a cargo das grandes
transnacionais; os mercados sequestraram a democracia e, portanto,
temos que nos acostumar a viver em um mundo pós-democrático. Nós, como
socialistas, e, mais, como marxistas jamais podemos aceitar essa
ideia. Creio que a democracia é a culminação de um projeto socialista,
da socialização da riqueza, da cultura e do poder. Porém, para o
pensamento burguês, a democracia é uma conveniência ocasional que
durou uns 80 ou 90 anos; depois, decidiram livrar-se dela.

Mesmo em uma situação anômala mundial e levando-se em conta que a
propriedade dos grandes meios de comunicação está concentrada em uns
poucos monopólios do grande capital, como você analisa o fenômeno da
canalha midiática na América Latina? Parece que, paulatinamente, vão
perdendo a credibilidade...?

O que bem qualificas como canalha midiática tem um poder fenomenal,
que vem substituindo os partidos políticos da direita que caíram no
descrédito e que não têm capacidade de prender a atenção nem a vontade
dos setores conservadores da sociedade. Nesse sentido, cumpre-se o
que, Gramsci muito bem profetizou há quase um século, quando disse que
diante da ausência de organizações da direita política, os meios de
comunicação, os grandes diários, assumem a representação de seus
interesses e isso está acontecendo na América Latina.

Em alguns países, a direita conserva certa capacidade de expressão
orgânica, creio que é o caso da Colômbia; porém, na Argentina, não,
porque nesse país não existem dois partidos, como o Liberal e o
Conservador colombianos; e o mesmo acontece no Uruguai e no Brasil. O
caso colombiano revela a sobrevivência de organizações clássicas do
século XIX da direita que se mantiveram incólumes ao longo de 150
anos. É parte do anacronismo da vida política colombiana que se
expressa através de duas formações políticas decimonônicas [do século
XIX], quando a sociedade colombiana está muito mais evoluída. É uma
sociedade que tem uma capacidade de expressão através de diferentes
organizações, mobilizações e iniciativas populares que não encontram
eco no caráter absolutamente arcaico do sistema de partidos legais na
Colômbia.

Com essa descrição que encaixa perfeitamente na realidade política
colombiana, o que poderíamos falar, então de seus meios de
comunicação...

Os meios de comunicação naqueles países em que os partidos
desapareceram ou debilitaram-se são o substituto funcional dos setores
de direita.

O que significa para a América Latina o triunfo do presidente
venezuelano Hugo Chávez?

Significa continuar em uma senda que se iniciou há 13 anos, um caminho
que, progressivamente, ocasionado algumas derrotas muito
significativas ao imperialismo norte-americano na região, entre elas,
a mais importante, a derrota do projeto da Alca (Área de Livre
Comércio das Américas), que era a atualização da Doutrina Monroe para
o século XXI e isso foi varrido basicamente pela enorme capacidade de
Chávez de formar uma coalizão com presidentes que, não sendo
propriamente de esquerda, eram sensíveis a um projeto progressista,
como poderia ser o caso de Lula, no Brasil e de Néstor Kirchner, na
Argentina. Ou seja, de alguma maneira, Chávez foi o marechal de campo
na batalha contra o imperialismo; é um homem que tem a visão
geopolítica estratégica continental que ninguém mais tem na América do
Sul.

O outro que tem essa mesma visão é Fidel Castro; porém, ele já não é
chefe de Estado, apesar de que eu sempre digo que o líder cubano é o
grande estrategista da luta pela segunda e definitiva independência,
enquanto que Hugo Chávez é o que leva as grandes ideias aos campos de
batalha, e, com isso, avançamos muito. Inclusive, agora, com a entrada
da Venezuela ao Mercosul, conseguiu-se criar uma espécie de blindagem
contra tentativas de golpe de Estado. Caso a Venezuela permanecesse
isolada, considerado um Estado paria, teria sido presa muito mais
fácil da direita desse país e do império norte-americano. Agora, não
será tão fácil.

Você vê algumas nuvens cinzentas no horizonte do processo
revolucionário da Venezuela?

Creio que sim, porque a direita é muito poderosa na América Latina e
tem capacidade de enganar as pessoas. E os grandes meios de
comunicação têm a capacidade de manipular, enganar, deformar a opinião
pública; vemos isso muito claramente na Colômbia. Boa parte dos
colombianos compraram o bilhete da Segurança Democrática com uma
ingenuidade, como aqui na Argentina compramos o bilhete de ganhar a
Guerra das Malvinas. Portanto, temos que levar em consideração que,
sim, existem nuvens no horizonte porque o imperialismo não ficará de
braços cruzados e tentará fazer algo como, por exemplo, impulsionar
uma tentativa de sublevação popular, tentar desestabilizar o governo
de Chávez e derrubá-lo.

domingo, 28 de outubro de 2012

JP.Neto: A esquerda no Brasil


Publicado em Domingo, 28 Outubro 2012 16:06

 

281012 netto2Brasil - Caros Amigos - Reproduzimos a seguir entrevista de José Paulo Netto sobre as esquerdas no Brasil para a revista Caros Amigos.

"O professor de Serviço Social e pensador marxista explica a história da esquerda no Brasil e seus desdobramentos no momento atual em entrevista especial para o site da Caros Amigos, em razão do lançamento da edição especial "Dilemas e Desafios da Esquerda Brasileira". Confira.
Por Tatiana Merlino
Caros Amigos - Quando se poderia afirmar que surgiu uma esquerda no Brasil?
Sem pretender rigor cronológico, diria que se pode falar em uma proto-história da esquerda brasileira a partir da última década do século 19 e nos primeiros anos do século 20. Pense-se, para ficarmos em exemplos conhecidos, nos nomes de Silvério Fontes, em parte da atividade de Euclides da Cunha e mesmo nas posições de Lima Barreto. Mas, com rigor, penso que a história da nossa esquerda tem mesmo o seu momento fundacional com a atividade dos grupos anarquistas, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, no período imediatamente anterior à Primeira Guerra Mundial. Julgo correta a afirmação de que os anarquistas inauguraram a história da esquerda no Brasil.
Caros Amigos - Qual foi a influência da imigração europeia na consolidação de uma ideologia de esquerda no Brasil?
Esta influência foi absolutamente fundamental – não por acaso, mencionei, acima, que os anarquistas inauguraram a história da esquerda em nosso país. E sabemos do papel dos imigrantes neste processo (aliás, a oligarquia percebeu-o claramente: recorde-se a “lei celerada”, de 1907). Mas é necessário enfatizar que não se tratou de nenhuma transplantação artificial: a incipiente industrialização criava as condições para que as ideias difundidas pelas lideranças anarquistas penetrassem com força no nascente movimento operário. A greve de 1917, em São Paulo, mostra-o suficientemente.
Caros Amigos - Que ideias os imigrantes trouxeram?
Não cabe aqui, suponho, sumariar o ideário anarquista (que, diga-se de passagem, chega-nos como um caldo de cultura bastante heterogêneo). A mim, parece-me que o mais significativo pode ser resumido em dois pontos elementares: a defesa da dignidade do trabalho e do trabalhador e a definição claríssima das linhas básicas do antagonismo entre os interesses dos trabalhadores e os da oligarquia. Num país onde a herança do escravismo, ademais de pesadíssima, estava muito viva, a simples afirmação dos direitos civis e políticos do trabalhador “livre” já era, em si, revolucionária. Quanto à determinação das lutas de classes, o princípio da autonomia política dos trabalhadores (mesmo que, para os anarquistas, isto significasse uma recusa da intervenção política institucional, o que se demonstrou insustentável), no Brasil nós o devemos aos anarquistas.
Caros Amigos - Quais eram as correntes que atuaram no país no começo do século 20? Como era tal atuação?
À mobilização anarquista, a oligarquia respondeu imediatamente (para além da repressão) com o estímulo ao sindicalismo “amarelo”, explicitamente bancado pelo governo federal (pense-se, por exemplo, no esforço de Mário Hermes da Fonseca, filho do Presidente da República, para a criação do “peleguismo” no IV Congresso Operário, realizado no Rio de Janeiro). No período que sucede imediatamente à Primeira Guerra Mundial, o movimento operário tem a sua dinâmica fundada no confronto entre estas duas tendências. E suas formas de intervenção eram, é óbvio, inteiramente diversas: os anarquistas jogavam forte na criação de condições ideológicas constitutivas da consciência classista (sua ênfase na educação e na imprensa independente são seus traços característicos) e apostavam na ação direta; os “amarelos” incorporavam a ideologia da colaboração de classes e se subordinavam às diretrizes legal-institucionais da oligarquia.
Caros Amigos - Como foi o processo que resultou na criação do PCB? Quais foram as forças que o formaram?
Se não estou em erro, diria que o PCB (fundado em março de 1922) resulta da confluência de dois vetores: o exaurimento do poder de atração do anarquismo entre os trabalhadores e o impacto da Revolução de Outubro. A greve de 1917, que pôs a correr, em São Paulo, as autoridades e deixou a capital nas mãos dos trabalhadores – ponto mais alto da intervenção anarquista em nosso país –, também deixou a nu a incapacidade do anarquismo para tratar a questão do poder. O impacto da Revolução Russa conferiu grande prestígio (o que, aliás, foi um fenômeno mundial) ao comunismo, num primeiro momento inclusive entre os anarquistas. Evidentemente, não se esgotam nestes dois vetores as bases para o surgimento do PCB – para compreendê-lo, é necessário observar as mudanças societais que estavam em curso, mesmo larvares, no país, que alteravam claramente a estrutura de classes e as práticas políticas (pense-se, aqui, no que o “tenentismo” sinalizava) e atingiam inclusive as expressões estéticas (não é casual, ainda que expressando posições de classe muito diversas, que o PCB seja coetâneo ao Modernismo). Importa observar que o surgimento do Partido Comunista no Brasil, à diferença do ocorrido em muitos outros países, inclusive da América Latina, não se beneficiou da existência do que podemos designar como “cultura socialista”: aqui, o peso do anarquismo na fundação do PCB (lembre-se que o nome mais conhecido dentre os fundadores era o de Astrogildo Pereira, que provinha do anarquismo) foi hipertrofiado precisamente pela ausência de qualquer outro componente significativo de esquerda – não é por acaso que, no PCB, manifestam-se precocemente divergências de monta (por exemplo, já em 1927-1928).
Caros Amigos - Como se desenvolveu a esquerda durante o Estado Novo, o que ela enfrentou, como atuou?
O Estado Novo se ergue após uma séria derrota da principal força de esquerda operante no país a partir do segundo terço da década de 1930 – refiro-me ao PCB que, após a ilegalização da Aliança Nacional Libertadora (que, de fato, era uma frente que incluía outras forças além do PCB), lidera a tentativa de tomada do poder em novembro de 1935. Durante os anos de 1938 a 1943, período em que o Estado Novo se manteve em face de uma oposição imobilizada pela repressão (mas não só), a intervenção da esquerda foi praticamente nula. O próprio PCB (que, à época, assistiu ao surgimento de outras frações comunistas, como, por exemplo, aquela animada por Hermínio Sacchetta) praticamente desaparece como organização entre os finais dos anos 1930 e a realização da célebre “Conferência da Mantiqueira” (1943). É somente a partir de 1943 – e não se subestime nisto a viragem que ocorre no decurso da guerra, especialmente após a vitória soviética em Stalingrado – que se pode falar de uma retomada da intervenção da esquerda, inclusive com o surgimento de uma esquerda não-marxista.
Caros Amigos - E durante o intervalo democrático entre 45 e 64?
Penso que devemos ter alguma cautela ao mencionar o período 1945-1964 como um “intervalo democrático” – não nos esqueçamos que o Governo Dutra foi emblemático da Guerra Fria que nascia com o seu zoológico anticomunismo: foi, dos governos “constitucionais”, um dos mais, senão o mais, antidemocrático que tivemos. A repressão que então se abateu sobre o movimento operário-sindical responde, em grande medida, pela interrupção do crescimento da esquerda, visível em 1945-1946. Mas esta repressão não impediu a intervenção significativa da esquerda, seja no próprio período Dutra (evoque-se o papel do Partido Comunista na luta rural de Porecatu, no Paraná), seja na abertura dos anos 1950, em especial no movimento operário-sindical, quando os comunistas estabelecem, de fato, uma aliança com setores do Partido Trabalhista Brasileiro (o PTB de Vargas).
A meu juízo, é na segunda metade da década de 1950 – mais precisamente, após o suicídio de Vargas e a intentona golpista de 1955 – que podemos registrar um efetivo crescimento da esquerda no país. No período posterior a 1955, são constituintes deste crescimento dois fenômenos: a crise e a recuperação do PCB e o surgimento de forças de esquerda independentemente da influência do PCB. Conhece-se a crise do PCB na imediata sequência do XX Congresso do PCUS (fevereiro de 1956): a chamada “denúncia do culto à personalidade” de Stalin leva o PCB, desde 1945 fortemente stalinizado, a uma crise que põe o partido no fundo do poço. Somente em 1958, mediante uma “nova política” (cuja formulação inicial está na discutida “Declaração de Março”), o partido dos comunistas ganha um novo fôlego, que lhe permitirá ser uma referência nos anos seguintes (apesar da fratura que sobrevém em 1962 e que dá origem ao PC do B).
Mas é também no fim dos anos 1950 que surgem núcleos de esquerda, marxistas e revolucionários, que não carregam a hipoteca do stalinismo que marcara o PCB. Este movimento, que se tornará inteiramente visível na entrada dos anos 1960 e que enriquece a esquerda, não expressa tão somente a dinâmica da sociedade brasileira, mas também sinaliza giros ocorrentes em outras experiências políticas (ademais da Revolução Chinesa, incide aqui, poderosamente, o influxo das lutas de libertação nacional em todo o à época denominado Terceiro Mundo e, particularmente nos anos seguintes, da Revolução Cubana). Creio que é preciso estudar com mais cuidado estes anos férteis para a esquerda brasileira, quando o PCB perde o monopólio do marxismo entre nós – e o marxismo se espraia para muito além das fronteiras do PCB.
A transição dos anos 1950 aos 1960 é de crescimento (inclusive orgânico-partidário) da esquerda brasileira – e isto vale, a meu juízo, tanto para o PCB como as outras frações emergentes fora do circuito da tradição marxista. Penso na constituição de setores socialistas em partidos inteiramente alheios a esta tradição (basicamente no PTB) e no aparecimento de segmentos socialistas laicos vinculados a diferentes igrejas, embora com visibilidade maior para os de extração católica (em função, inclusive, do ponderável redirecionamento da Igreja a partir do papado de João XXIII). É mais ou menos claro que este crescimento da esquerda (e, em todas estas respostas, estou designando por “esquerda” um leque muito amplo e heterogêneo de forças, cujo denominador comum me parece ser o antiimperialismo e a crítica à ordem burguesa numa perspectiva voltada para o futuro, excluindo-se, pois, o anticapitalismo romântico próprio da direita restauradora) expressou, naqueles anos, um efetivo processo de democratização da sociedade brasileira – processo ele mesmo relacionado às mudanças estruturais em curso (consolidação da industrialização substitutiva de importações, urbanização etc.).
Caros Amigos - O que representou o golpe de 64 para a esquerda no Brasil?
Entendo o golpe do 1º de abril conforme a brilhante caracterização de Florestan Fernandes: foi parte de um processo mundial de contra-revolução preventiva. Representou, para as massas trabalhadoras brasileiras, a liquidação de um processo de democratização que certamente conduziria a profundas modificações econômico-sociais, capazes de desobstruir a via para o rompimento da nossa heteronomia econômica. Para a esquerda, foi uma derrota de enormes implicações.
Também entendo que a esquerda laborou em equívocos e cometeu erros que facilitaram o golpe e a instauração da ditadura. Mas, ao contrário de muitos analistas, não debito a derrota de abril aos equívocos e erros da esquerda: o golpe, parte da mencionada contra-revolução preventiva, deve ser explicado pela natureza da dominação de classe exercida no Brasil pela burguesia. Naquele momento, incapaz de ser classe dirigente, ela escolheu, conscientemente, enquanto classe, ser classe dominante – e armou um esquema de alianças, nacionais e internacionais, que lhe possibilitou, durante quase 20 anos, instaurar o que o mesmo Florestan designou como autocracia burguesa.
Caros Amigos - Como avalia as diversas organizações que surgiram no pós-golpe? Por que foram tantas, por que eram tantas correntes? Porque não conseguiram se unir?
A unidade entre as forças reacionárias e/ou conservadoras nunca constituiu um problema de vulto na história política do século 20 – e se compreende a razão: seus interesses econômicos têm fundamentos comuns e estão enraizados no presente. No quadro da esquerda, a unidade é sempre problemática, porque os enlaces se dão mais na prospecção do futuro do que na defesa de interesses materiais imediatos; é problemática, mas possível, como resultado de longos processos de debates, do conhecimento da experiência histórica, de combates prévios travados em comum e, sobretudo, do próprio nível de consciência das massas trabalhadoras, conquistado em suas experiências diretas. Frente a um inimigo comum – como era o caso da ditadura instaurada em 1964 e cujo caráter de classe se explicitou, sem deixar margem a dúvidas, em 1968, com o AI-5 – seria esperável a constituição de uma unidade entre as forças de esquerda. Sabemos que isto não ocorreu. Muitas foram as causas da dispersão de esforços e de combates. Penso que parte delas estava inscrita na análise que as diferentes forças fizeram (ou deixaram de fazer) da natureza do regime instaurado em 1964 e, ainda, das causas que permitiram a vitória das forças de direita. Mas também pesaram as concepções estratégicas quanto à derrota da ditadura, a extração de classe dos resistentes e a conjuntura ideológica da época. Substantivamente, pesou igualmente a ponderação diferente que as várias forças de esquerda (profundamente debilitadas, pela repressão sistemática a que foram submetidas, em sua relação com as massas trabalhadoras) faziam do papel a ser desempenhado por estas mesmas massas.
Caros Amigos - Como a luta de massa se organizou na segunda metade dos anos 70?
Parece-me que estavam na direção mais correta aquelas forças (e este foi, entre outros, o caso do PCB) que entendiam a derrota da ditadura como resultado de lutas de massas. O fracasso do “modelo econômico” da ditadura (evidenciado claramente a partir de 1974-1975), as divisões que começaram a erodir a estreita base política do regime de 1964 e, sobretudo, a até então lenta reinserção da classe operária na cena política criaram as condições para que a resistência democrática deixasse os nichos em que subsistia e ampliasse o seu raio de influência. Frentes de luta até então subestimadas (contra a carestia, pela anistia e mesmo processos eleitorais) ganharam uma ponderação até então insuspeitada para muitos setores da esquerda.
Caros Amigos - Qual foi o papel desempenhado pelo sindicalismo no período pré-democratização?
Aqui, a resposta é simples: foi absolutamente fundamental. Mediante a ação do movimento operário-sindical é que se processou a reinserção das massas trabalhadoras (especificamente do proletariado) na cena política brasileira. Até então, a oposição e a resistência à ditadura tinham uma incontestável hegemonia burguesa (não se deve subestimar o papel do falecido Movimento Democrático Brasileiro/MDB); mediante a ação operário-sindical, que começa a ganhar vulto a partir de 1976-1977, a oposição burguesa é afetada, sua hegemonia na resistência institucional é ameaçada e a erosão do regime se acelera.
Caros Amigos - Qual foi a importância da esquerda no fim da ditadura e na redemocratização do país?
Já assinalei que a reinserção da classe operária na cena política, no último terço da década de 1970, foi o componente central para a derrota da ditadura. Foi através da dinamização do movimento sindical que esta inserção se viabilizou – e teve como efeito a catalização das demandas democráticas numa escala até então inimaginável, arrastando amplos setores das camadas médias, da intelectualidade e até mesmo de segmentos burgueses prejudicados no marco do “modelo econômico”. Não penso que este arco de forças, originalmente, possa ser visto como uma criação da esquerda – embora novos setores de esquerda e antigos militantes, que puderam sobreviver à repressão, tenham tido papel significativo na sua constituição. Mas é indiscutível que, com o quadro novo criado pela movimentação operário-sindical, distintas forças de esquerda, operando em especial a partir do fim do AI-5 e da anistia, deixaram a sua marca no processo de derrota da ditadura.
Caros Amigos - Como avalia o processo de surgimento do PT, da CUT e do MST?
Entendo que o surgimento do PT e da CUT estão diretamente ligados ao que designo como reinserção da classe operária na cena política brasileira – diria que ambos, emergentes nos anos 1980, são um fruto daquele processo. E um processo daquela relevância origina naturalmente, numa sociedade diferenciada e complexa, tal como já se apresentava a nossa na abertura daquela década, distintas expressões políticas. Nas suas origens, embora militando noutra organização política, vi o surgimento de ambos como algo basicamente positivo – porém, sempre tive preocupações em relação ao seu futuro, preocupações referidas à retórica “esquerdista” e sectária (quem não se lembra daquela bobagem eleitoreira de “trabalhador vota em trabalhador”?), às ligações internacionais (especialmente no caso da CUT) e, muito especialmente, à ignorância (nalguns casos, o desprezo) em relação ao passado de lutas dos trabalhadores e das outras forças de esquerda. Mas, à época, debitei tudo isto à necessidade natural de constituir uma identidade partidária e confiei em que a presença de lideranças expressivas de lutas sociais precedentes poderia fazer amadurecer esta identidade num sentido efetivamente de esquerda.
Penso que é diferente o caso do MST. Também fruto das condições que levaram à derrota da ditadura, o MST, a meu juízo, tornou-se um movimento verdadeiramente autônomo, com objetivos muito claros e uma estratégia de luta flexível e que leva em conta a experiência do passado. É bastante provável, em função das aceleradas transformações operadas no campo, que o movimento seja, na atualidade, compelido a repensar-se e a repensar a natureza e a função das suas lutas – mas me parece o único protagonista político significativo que põe em prática algumas referências próprias da esquerda, como a sistemática formação política e a solidariedade internacionalista.
Caros Amigos - O que representaram para a história da esquerda as eleições de 89?
O balanço, feito à distância, do processo eleitoral de 1989 é paradoxal. De uma parte, mostrou a força das aspirações democráticas num momento preciso – o saldo eleitoral, do ponto de vista imediato, foi notável: demonstrou a possibilidade efetiva de derrotar, nos marcos da institucionalidade formal, as forças da direita, desde que se realizasse, ainda que momentaneamente, uma unidade da esquerda e de setores democráticos (recorde-se que tanto os partidos comunistas quanto Covas e Brizola apoiaram Lula no segundo turno). De outra parte, o ganho organizativo, para o conjunto da esquerda, parece-me que foi pouco mais que residual – não teve a menor simetria com o ganho eleitoral.Mas é preciso dizer outra coisa importante: ficou claro que a grande burguesia, em processos eleitorais minimamente democráticos, não tinha, no final dos anos 1980, a menor chance de se viabilizar se apresentasse o seu próprio rosto (Collor nunca passou de um aventureiro político, que não expressava organicamente os interesses do grande capital; foi apenas um instrumento para evitar a vitória de Lula). E a grande burguesia aprendeu a lição: no processo eleitoral seguinte, foi obrigada a usar, para a defesa das suas posições, a maquiagem da esquerda – daí o seu apoio a FHC.
Caros Amigos - Como vê os rumos do PT desde então?
A resposta a esta questão já está implícita linhas acima e, de algum modo, inclui a pergunta subsequente. Os anos 1990 foram de um discreto, aparentemente suave e efetivo deslizamento do PT para o centro – já no primeiro confronto com FHC, desenhava-se o “Lulinha paz e amor”. Ao que parece, no fim da década, a esquerda foi inteiramente neutralizada no interior do PT – isto não significa, a meu juízo, que desde então deixaram de estar presentes no PT militantes de esquerda sérios, responsáveis e confiáveis. Mas tudo indica que são algumas rosas vermelhas num grande campo de braquiária. Posso estar enganado, mas, a partir de 2003, o PT converteu-se no gestor preferencial, para a grande burguesia, deste país. Permita-me recorrer a algo menor, mas que me parece extremamente simbólico: semana passada, a grande imprensa noticiou que o ex-presidente da República fez uma viagem ao exterior num jatinho de empresa do Grupo Gerdau, mantendo agradável palestra com o patriarca da família. Não sei se é fato, mas sei que é emblemático. Emblema de que já tivemos prova, aqui no Rio de Janeiro, há tempos: quando do falecimento de Roberto Marinho, Lula veio ao velório acompanhado de um séquito de ministros; no velório de Brizola, brilhou pela ausência.
Caros Amigos - Quais foram os efeitos da década neoliberal na esquerda brasileira?
Os efeitos – ainda que indiretos, mediatos e que precisam ser relacionados aos impactos derivados da queda do “Muro de Berlim” – foram catastróficos em todo o mundo e não se limitaram, obviamente, ao universo ideológico e ao imaginário político: o preço da ofensiva do grande capital foi e está sendo pago pelas massas trabalhadoras do mundo inteiro.
Sobre a esquerda brasileira, os efeitos foram imediatamente deletérios: o generalizado abandono do ideário socialista e, no limite, a sua conversão numa social-democracia tíbia e tardia. Forças que no passado tiveram expressiva participação na luta contra a ditadura e pela democratização do país converteram-se ou em abertos porta vozes da ordem (o caso do PT é certamente gritante, mas não se esqueça o posicionamento junto com o DEM – com o DEM! – que os ex-comunistas do PPS hoje efetivam) ou abdicaram do seu programa e da sua autonomia na prática política (o caso do PCdoB). Evidentemente, estamos defrontados com um processo social profundo, que não pode ser creditado a personalidades ou a oportunismos de ocasião. De qualquer forma, impera na esquerda “reciclada” pela ideologia dessa coisa realmente reacionária que grosseiramente se chama neoliberalismo um cinismo assombroso: ex-guerrilheiros que se tornaram paladinos da “cidadania”, ex-líderes sindicais outrora extremamente radicais defendendo/teorizando os/sobre a importância econômica e democrática de fundos de pensão, ex-expoentes de partidos comunistas predicando que a questão central sob o capitalismo está na distribuição e não no modo de produção e coisas que tais.
Caros Amigos - O que representou a eleição de Lula em 2002 para a esquerda brasileira? Como avalia desde então as forças de esquerda no país?
Do ponto de vista político imediato, o resultado eleitoral de 2002 foi uma derrota da direita e dos conservadores, uma derrota do grande capital. Do ponto de vista simbólico, foi extremamente importante a vitória de um líder político de extração operária.
Mas uma coisa foi a vitória eleitoral e outra, muito diversa, o desempenho político: a enorme legitimidade que as urnas conferiram a Lula para empreender a caminhada no sentido das grandes transformações econômicas e sociais foi direcionada para outro rumo – à base da reiteração do fisiologismo político, a adequação do minimalismo da política social à orientação macro-econômica de interesse do grande capital. Lula realizou uma eficiente gestão do status quo.
Que fique claro que estou longe de equalizar Lula (e tudo o que ele representa e expressa) a um líder submisso à direita e aos conservadores ou um mero instrumento do grande capital – mas seus dois períodos presidenciais estiveram aquém, inclusive, de uma prática política “possibilista”. E seu principal papel, no que tange à esquerda, foi desqualificá-la como capaz sequer de um governo “diferente” – e não será fácil, para a esquerda, livrar-se desta herança.
Caros Amigos - Por fim, como o senhor avalia o atual momento da esquerda brasileira?
Penso que se trata de uma conjuntura extremamente difícil (e, insisto, trata-se de um quadro mundial, que não diz respeito somente ao Brasil). O espectro da esquerda orgânica (bastante diferenciada: PCB, Psol, PSTU) e da esquerda que ainda subsiste no interior de alguns partidos (nomeadamente no PT) não reflete minimamente o peso potencial, mesmo que hoje minoritário, da esquerda na sociedade brasileira (como se pode constatar em movimentos como o MST e em grupos políticos minúsculos, mas que podem ser expressivos futuramente). Como escrevi há algum tempo, o nosso déficit é organizacional e ele não será superado da noite para o dia – temos, a esquerda, um longo caminho a percorrer.
A longo prazo (por mais que esta expressão provoque um sorriso nos keynesianos), sou otimista. As contradições e impasses da ordem do capital, inclusive como se apresentam na periferia, são insolúveis no seu marco – não há Bolsa Família, mesmo ampliado, que os resolva. As tensões acumuladas na nossa formação social não podem ser anestesiadas sem limites. Tenho, para mim, que está e continua em curso um processo de fundo que implicará numa agudização das lutas de classes. Se a normalidade da democracia formal não sofrer interrupção, a esquerda poderá perfeitamente superar a sua debilidade organizacional – desde que trabalhemos forte já desde agora – e cumprir o que dela se espera: vencer a cronificação da barbárie pelo avanço na direção do horizonte socialista."
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Nota de pensarnetuno :
J.P. Neto é um mestre notável do marxismo, embora eu discorde de sua
abordagem culposa sobre o período Stálin.
A agudização da luta de classes já ocorre pontualmente no Brasil,só falta se generalizar em certos momentos dirigido pela vanguarda.
A maioria do povo não tem os meios de produção e ainda não controla seu destino.A
liberdade concreta é uma necessidade, a liberdade ilusória já temos.

99% por cento dos Bilhões de seres humanos do planeta Terra precisam do socialismo e mais cedo ou mais tarde, com apoio dos comunistas, descobrirão isso e conseguirão isso.               

 
 
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